1. Um dos meus passatempos diários, enquanto sigo na van para o trabalho, é assistir vídeos e ler textos sobre a China. Procuro diversificar as fontes para evitar tomar como certas informações tendenciosas, generalizantes, distorcidas e enviesadas sobre o país. É preciso fugir de conteúdos nitidamente ideológicos, estejam eles alinhados à direita ou à esquerda. Além dos livros, um bom caminho é ouvir a opinião de brasileiros que trabalharam no país, como Sérgio Habib, empresário que morou muitos anos na China e atualmente é representante da JAC Motors no Brasil. Habib não demoniza nem idealiza a China, e esta é uma boa notícia.
2. Mas dá para confiar em tudo o que ele diz? Bem, é claro que não. Por isso é importante ouvir outros depoimentos. Nesta semana conheci o canal do Felipe Durante, engenheiro brasileiro que mora na China há cinco anos. Ele também já morou em Hong Kong e vez por outra conta algumas de suas aventuras na ilha. Voltemos à China continental. Felipe caminha pelo país com uma câmera, mostrando shoppings, hospitais, bairros pobres ou ricos e templos religiosos. Em um dos vídeos, ele entra em uma igreja cristã repleta de turistas que disponibiliza em seus bancos uma série de Bíblias escritas em mandarim. Ué, mas a Bíblia não é proibida na China?
3. Vamos com calma. Tanto na China como no Irã as religiões são controladas pelo Estado. No caso do Irã, por exemplo, há inúmeras igrejas cristãs em funcionamento, mas apenas aquelas cuja corrente foi devidamente registrada e autorizada, tais como a Igreja Católica Romana, Católica Armênia e até a Igreja Evangélica Presbiteriana, maior denominação protestante em funcionamento no país. Na China o registro das religiões organizadas também é obrigatório. Tanto as igrejas de orientação católica como protestantes são controladas por órgãos estatais: Catolicismo: Igreja Católica Patriótica Chinesa (CPC); Protestantismo: Movimento Patriótico das Três Autonomias (TSPM).
4. A CPC foi fundada em 1957, é formada por indivíduos que sequer são católicos e não reconhece a autoridade do Papa. Assim, bispos e padres são nomeados pela CPC, colocando os sacerdotes que não se submetem ao órgão estatal na clandestinidade. O Vaticano e o governo chinês vêm tentando chegar a um acordo, mas as negociações ainda estão em andamento. No âmbito protestante as preocupações aparecem relacionadas ao receio de que as igrejas de matriz protestante utilizem seus espaços religiosos para propagar ideologias contrárias às do Partido Comunista Chinês (PCC). O PCC sempre esteve ciente das fortes relações políticas, econômicas e ideológicas entre os missionários estrangeiros e os EUA e as potências da Europa.
5. Um site da internet bastante confiável sobre o protestantismo na China é o Chinasource.org. Embora seja um canal mantido por cristãos para a difusão do protestantismo na China, os artigos disponibilizados no site expressam equilíbrio e estão livres de clichês e lugares comuns.
Jones F. Mendonça