1. Tem sido uma prática comum, desde o início do século XX, dividir o Livro do Profeta Jeremias em quatro partes. A primeira parte, caps 1-25, consiste em uma coleção de oráculos poéticos cuja finalidade principal é expor com imagens aterradoras o juízo que será derramado sobre Judá e Jerusalém, sua capital. Repare que em 1,10 a “palavra de Yahweh dirigida a Jeremias” anuncia “destruição”, mas também “reconstrução”. Para bom entendedor: “destruição” para o povo de Judá; “reconstrução” para aqueles que foram levados para o exílio.
2. O tratamento diferenciado para o “povo da terra” e o “povo da golah” é reafirmado no finalzinho da primeira seção do livro (cap. 24), por meio da “parábola dos figos”. Os “figos bons”, representam a comunidade judaica da golah, do exílio, que será tratada “com bondade” e “retornará à terra” (24,5-6). Os figos ruins representam os judeus que permaneceram na terra ou fugiram para o Egito (24,8). Seu destino: “uma maldição em todos os lugares” (cf. 24,9), incluindo golpes com “a espada e a peste” até que “desapareçam do solo” (24,10).
3. A mensagem anunciada no começo e no final do livro do profeta Jeremias revela o projeto elaborado pela comunidade exílica do período persa: apresentar a comunidade da golah como única proprietária legítima da terra. Única com as credenciais para reconstruir Jerusalém e seu templo. A figura de Jeremias atua, portanto, como voz dos exilados, fornecendo, como nos diz Nathan Mastnjak, “um locus de autoridade cooptado pelos redatores persas para suas próprias inovações e agendas” [1].
[1] MASTNJAK, Nathan. Before the Scrolls: a material approach to Israel’s prophetic library. Oxford: Oxford University Press, p. 160.
Jones F. Mendonça
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