terça-feira, 10 de junho de 2025

JESUS COMO "MACHO ALFA"


1. Uma das propostas centrais dos “Legendários”, movimento cristão fundado por Chepe Putzu em 2015, é a seguinte: o homem precisa retornar à sua configuração original, e essa “configuração original” diz respeito ao modelo de masculinidade exercida por Jesus. Bem, já pintaram Jesus de diversas maneiras, inclusive há um “Jesus saradão”, como o “Cristo Ressuscitado”, esculpido por Michelangelo em 1516, e o Jesus marombado exposto em “Gólgota”, obra produzida por Pordenone em 1521. Mas Jesus como “Macho Alfa”... essa é nova.

2. É interessante que todos esses grupos interessados em apresentar Jesus como modelo de macho gostam de enfatizar que a masculinidade ideal é aquela que expressa atributos que valorizam uma dimensão provedora/protetora do macho, que, inclusive, seria natural, inata. Assim, o homem ideal seria aquele que protege sua fêmea e sua prole, que provê recursos para sua subsistência, etc. Acontece que o Jesus dos evangelhos não tinha moradia fixa, não tinha mulher, nem filhos. Até sua atividade profissional era precária: era um tekton, um artífice.

3. Faz parte da natureza humana criar modelos capazes de estruturar a vida, funcionando como norte, como horizonte de orientação. Assim, criamos modelos de sociedade, de estrutura familiar, de códigos morais e até mesmo modelos de comportamento que esperamos ser reproduzidos por nossos filhos e filhas. Mas esses modelos não caem do céu. São o resultado da interação entre humanos e meio ambiente, que se desenvolve a partir de uma relação dialética, de troca. Tanto a “Machonaria” como os “Legendários” descambam em essencialismo biológico barato.

4. Pior do que isso. Buscam legitimar esse essencialismo biológico usando textos ou personagens da Bíblia.




Jones F. Mendonça

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