quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

SELO COM O NOME "ISAÍAS" É DESCOBERTO EM JERUSALÉM

Eilat Mazar agitou o mundo acadêmico especializado em arqueologia de Israel após divulgar um selo descoberto em Jerusalém contendo a inscrição “LYesha'yah[u] NVY[?]” em hebraico.  A primeira palavra claramente indica um substantivo próprio: (pertencente a) Isaías, mesmo nome do profeta bíblico. O segundo nome, caso seja inserido na interrogação a letra álef, deve ser traduzido como “profeta” (navy’). Neste caso deveríamos ler: “Pertencente a Isaías, o profeta”. Mazar sugere que a letra foi apagada pelo desgaste. Será?

Utilizei consoantes do alfabeto quadrático

É possível que no selo original constassem apenas as letras atualmente existentes (sem o álef supostamente omitido). Uma tradução possível seria “Isaías [ben] Navy” (Isaías [filho] de Navy). Selos desse período geralmente indicam o nome do proprietário seguido do nome de seu pai. A palavra “ben” (filho) por vezes é omitida por falta de espaço (o que não parece ser o caso neste selo). Confuso?

Você pode buscar mais informações a respeito da descoberta em dois grandes jornais de Israel, o Haaretz e o The Times of Israel. Um artigo de Mazar foi publicado na Biblical Archaeology Review.  O epigrafista Christofer Rollston revela-se cético em relação à tradução “Isaías, o profeta”. Jim Davila faz alguns comentários interessantes sobre o selo no Paleojudaica. Boa leitura.




Jones F. Mendonça

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

RESSENTIMENTO E RESIGNAÇÃO EM GAME OF THRONES

O texto descreve bem a mecânica do ressentimento na dominação de Theon Greyjoy por Ramsay Snow, em Game of Thrones:
O oprimido, reprimido, autoproduz em si um envenenamento anímico como resposta à violência que sofre. Nasce assim o ressentimento como introjeção autorrepressiva da potência que, não podendo voltar-se contra o dominador, ao incubar-se envenena o dominado. O ressentimento do envenenado não pode ser vivido nem como vício, que é, nem como pura passividade resignada. Sublima-se como virtude de paciência, obediência, disciplina, fidelidade (DUSSEL, Enrique Domingo. Filosofia da libertação, 1997, p. 61).


Jones F. Mendonça

CHRISTUS VICTOR: ARTE E CRISTOLOGIA


Desde o século XI, tanto na arte visual como na literatura, a cruz geralmente aparece como símbolo de dor, de violência e de morte (Christus Patiens). Nesta representação, bastante atípica para o século XVI, Cristo aparece associado à cruz com uma expressão triunfante, pisando a cabeça de satanás (Maarten de Vos, 1585). A imagem ilustra a capa da obra "Christus Victor" (1931), do teólogo sueco Gustaf Aulén.

Detalhes sobre a arte no site do The British Museum:



Jones F. Mendonça

domingo, 11 de fevereiro de 2018

BELEZA, JUÍZO E RESSURREIÇÃO DA CARNE


Luca Signorelli, assim como outros artistas do Renascimento, procurou retratar os ressurretos no dia do juízo final com seus corpos magnificamente transformados. Acima, tocando trombetas, você vê dois anjos saradões anunciando o juízo. Abaixo, alguns ainda atordoados, os corpos nus dos ressurretos são exibidos como atletas em calendário beneficente.



Jones F. Mendonça

CRUCIFICADOS NA USINA


A imagem acima mostra três crucificados à frente da estação de energia de Didcot, Reino Unido. Em primeiro plano aparecem pessoas lamentando o destino trágico dos crucificados. Roger Wagner deu a esta tela o título de Menorah. Você saberia explicar a razão deste título?



Jones F. Mendonça

LA CROIX VIVANTE


Esta representação (Hans Fries, “La Croix Vivante”) tem caráter singular por reunir em um só quadro alguns dos principais fundamentos da fé cristã de seu tempo. Além da crucificação, ao centro, você vê na parte inferior Cristo no Hades derrotando as forças do mal e libertando os "espíritos em prisão": limbo infantil e limbo dos patriarcas. Um sacerdote celebra a eucaristia na lateral esquerda e a espada divina perfura o pescoço (da morte?) e fere mortalmente (a besta?) na lateral direita.



Jones F. Mendonça

AUTOMUTILAÇÃO E DEVOÇÃO

Hoje as automutilações são tratadas no consultório psiquiátrico. Certas incisões na carne produzidas no ambiente religioso do século XVII foram tratadas como elevada expressão de piedade. A declaração a seguir vem de Veronica Giuliani, santa canonizada em 1839:
Assim peguei um canivete e fiz uma cruz sobre a carne do lado do coração e com o mesmo sangue escrevi assim: "Meu querido Jesus [...] agora para sempre me declaro vossa esposa [...]. Oh! Cruz santa, fazei-me sentir o vosso peso a fim de que eu possa me amoldar com meu Deus crucificado" ("Il mio Calvario", p. 166-8).
O museu Santa Veronica Giuliani ainda preserva a pedra de 13 quilos com a qual a santa mortificava a sua língua.



Jones F. Mendonça

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

CORPO COMO VITRINE, CORPO COMO CÁRCERE


O corpo humano como obra de beleza e perfeição é invenção dos gregos. Uma escultura clássica que revela a busca pela beleza ideal: O Hermes com o jovem Dionísio, de Praxíteles (séc. IV a.C.). A nudez não traz vergonha, desconforto.

Artistas renascentistas, tomando os gregos como modelo, passaram de novo a retratar a forma humana como a encarnação de algo superior. Um exemplo: O Davi de Michelangelo (1501-1504). O pequeno rei ruivo, como Hermes, não parece desconfortável com sua nudez.

Influenciado por ideias platônicas o cristianismo rejeitou a percepção otimista que se tinha do corpo. Repare nesta gravura (imagem acima) exposta na porta da catedral de Hildeshein, Alemanha: Deus aponta para Adão; Adão aponta para Eva; Eva aponta para a serpente. Homem e mulher procuram esconder sua nudez.

Os gregos percebiam o corpo como expressão da beleza. A tradição judaico-cristã via na pele nua expressão do pecado.



Jones F. Mendonça

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

COSTELA TORTA, VIDA TORTA

De acordo com o Malleus Maleficarum (Parte I, questão 6), um manual de exorcismo do final da Idade Média, a mulher está mais inclinada ao mal porque foi feita a partir de uma costela torta de Adão.  Uma tradição muçulmana diz que a mulher foi feita da costela que cobre o coração e assim  explicam sua inclinação sentimental. Tudo isso inventado por homens, claro...

A costelinha torta de Adão aparece nesta gravura de Meister Bertran (século XIV). 























Jones F. Mendonça