sábado, 29 de fevereiro de 2020

JURAMENTO E TESTÍCULOS SENSÍVEIS

Nos dias atuais, quando alguém quer fazer um juramento, faz isso em nome de algo que considera valioso: jura pela mãe, por Deus, coloca a mão sobre a Bíblia, etc. No Antigo Israel, o juramento usava como valor a capacidade de gerar descendentes, por isso era realizado com “a mão por debaixo dos testículos” (cf. Gn 24,2; 47,29). Josué Gonçalves, em seu livro “Quero casar certo”, faz um comentário correto ao dizer que a mão era colocada sobre os testículos, não sobre a coxa. Mas a explicação que ele dá para o modo como era feito o juramento é prá lá de bizarra (e sem fundamento). Palavras dele: “o servo deveria segurar os testículos do seu senhor. Caso estivesse mentindo, a sensibilidade do seu senhor perceberia algum modo de alteração, na FIRMEZA como segurava os órgãos ou a TEMPERATURA da palma da mão”. E a gente pensa que já viu de tudo.



Jones F. Mendonça

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

OS RINS, O CORAÇÃO OU A CONSCIÊNCIA?

O Sl 16,7 em três versões:

1. “Ele é o meu conselheiro, e durante a noite a MINHA CONSCIÊNCIA me avisa” (NTLH).
2. “Iahweh que me aconselha, e, mesmo à noite, MEUS RINS me instruem” (BJ).
3. “o Senhor me aconselha; na escura noite o MEU CORAÇÃO me ensina!” (NVI).

Afinal, qual versão é a mais fiel ao texto original?

A referência do salmista certamente é aos rins (kilyah), como em Lv 4,9: “os dois rins e a gordura que estão sobre eles...”. Nesse sentido a BJ está correta. Mas a palavra hebraica “rins”, em alguns textos, sobretudo os poéticos, pode ganhar um sentido diferente: “entranhas”, “íntimo”, etc. No Sl 7,9, por exemplo, é dito que “O Senhor sonda o coração (lev) e os rins (kilyah)”, ou seja, sonda o “íntimo”. E íntimo, aí, diz respeito tanto às emoções como aos pensamentos. As Bíblias que preferem traduzir pela equivalência dinâmica tentam resgatar a função atribuída aos rins entre os antigos hebreus. A NVI optou por “coração” e a NTLH por “consciência”. Sendo bem rigoroso, eu optaria por “cérebro”, porque sabemos hoje que as emoções e o aprendizado estão associados a este órgão. Ficaria feia a tradução, mas certamente seria a que mais equivaleria à função dos “rins” imaginada pelo autor do texto.



Jones F. Mendonça

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

O TROPEÇO E O ESCÂNDALO EM MATEUS 18

O capítulo 18 de Mateus, no verso 7, parte b, diz assim: “ai do homem pelo qual o ESCÂNDALO vem”. Embora o termo grego traduzido por “escândalo” seja “skandalon”, do qual vem nossa palavra portuguesa, seu sentido original não é este. O verbo “Skandalizo” significa “fazer tropeçar”, “colocar um obstáculo/armadilha”, “induzir ao erro”, etc. É por isso que algumas versões traduzem (corretamente) o verso assim: “mas ai do homem por quem o TROPEÇO vier!”.

O termo reaparece, por exemplo, em Ap 2,14. O texto diz que Balaão “ensinava Balac a lançar um skandalon aos filhos de Israel”. O erro de Balaão, segundo o texto, era criar armadilhas, pedras de tropeço, nas quais os filhos de Israel poderiam cair. Mt 18,7 está condenando pessoas que fazem as crianças "tropeçarem" (conf. v. 6) e não as pessoas que causam escândalos na igreja. O discurso religioso, tão preocupado com a manutenção dos costumes, acabou distorcendo o sentido original do texto.

Em Mt 18,8-9 temos mais um exemplo. O verso que – segundo dizem, fez Orígenes amputar seu pênis – diz assim: “se tua mão ou teu pé te fazem TROPEÇAR (skandalizo), corta-o e lança-o fora...”. Embora a Bíblia de Jerusalém insista em traduzir Se a tua mão ou o teu pé te escandalizam”, o sentido aqui diz respeito à mão ou ao pé que conduzem ao erro, ou seja, que fazem tropeçar. É verdade que um escândalo pode fazer pessoas tropeçarem, mas nem todo o tropeço é um escândalo. Sejamos honestos com o texto.

Jones F. Mendonça

CALVINO E O CÍRCULO DA SERPENTE

Em suas Institutas, Calvino diz o seguinte a respeito do pecado original: “O primeiro homem, pois, caiu porque o Senhor assim julgara ser conveniente. [...]. Portanto, o homem cai porque assim o ordenou a providência de Deus” (Livro III, cap. XXIII, seção 8). Enfim, se Calvino pudesse pintar a queda, a serpente apontaria para Deus e diria: “fiz tudo de acordo com a tua Santa Providência”. É ou não uma teologia muito louca? Tela: Domenico Zampieri.



Jones F. Mendonça

ARTE E CALIGRAFIA HEBRAICA

Inspirado na Kabalah e usando algarismos arábicos e consoantes hebraicas como pano de fundo, Tobia Ravà produz quadros interessantíssimos como este.



Jones F. Mendonça

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

OS CORPOS NO JUÍZO FINAL


As duas imagens revelam impressões do imaginário cristão a respeito da ressurreição no dia do juízo final. A da esquerda ilustra um manuscrito do século XV. A da direita, obra de Luca Signorelli, é do século XVI. Embora os elementos sejam os mesmos (anjos, trombetas, corpos ressurretos), as mudanças na representação do corpo, a partir da influência do Renascimento, são muito nítidas.



Jones F. Mendonça