sábado, 30 de dezembro de 2017

JACÓ E ISRAEL: DOIS NOMES, DUAS TRADIÇÕES

Quem lê com atenção o livro de Gênesis percebe que a mudança do nome de Jacó para Israel ocorre duas vezes no livro: 32,28-29 (Jacó luta com um anjo) e 35,9-10 (Jacó chega a Betel). Veja: 
1. Ele lhe perguntou: “Qual é o teu nome?” – “Jacó”, respondeu ele. Ele retomou: “Não te chamarás mais JACÓ, mas ISRAEL, porque foste forte contra Deus e contra os homens, e tu prevaleceste”.
2. Deus apareceu ainda a Jacó, vindo de Padã-Aram, e o abençoou. Deus lhe disse: “Teu nome é JACÓ, mas não te chamarás mais Jacó: teu nome será ISRAEL”. Tanto que é chamado de Israel.
Outro fato curioso é que mesmo após ter seu nome mudado (cap. 32 e 35), Jacó continua sendo chamado pelo antigo nome nos capítulos posteriores (história de José: 37-50). Um exemplo: 
“JACÓ rasgou suas vestes, cingiu os seus rins com um pano de saco e fez luto por seu filho durante muito tempo” (37,34).
Confuso? Então leia este artigo do Dr. Tzemah Yoreh, publicado no The Torah.



Jones F. Mendonça

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

SIMÃO: DE “MAGO ARREPENDIDO” A “PAI DE TODAS AS HERESIAS”


Embora o livro de Atos apresente Simão, o mago, arrependido após tentar comprar com dinheiro um dom divino (At 8,9ss.), a tradição popular ampliou a narrativa e converteu Simão numa espécie de “pai de todas as heresias” (até do gnosticismo!).

Nos “Atos de Pedro”, um apócrifo do século III, Simão é dotado do poder da levitação, mas é derrubado pelas orações piedosas de Pedro. De acordo com a tradição, as marcas dos joelhos de Pedro em oração ainda podem ser vistas numa laje de mármore na Igreja Francesca Romana, na capital italiana.

Na Catedral de São Lázaro, Autun, França, foi esculpida esta representação (séc. XII), mostrando Pedro (com as chaves da Igreja) orando diante da queda de Simão (foto acima). Outra representação da cena, bem bonita e colorida, pode ser vista numa pintura do século XVIII, exposta na igreja de San Paolo Maggiore, em Nápoles, Itália, obra do artista local Francesco Solimena.



Jones F. Mendonça

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

CARVALHOS E TEREBINTOS

Foto:  Shmuel Browns

A imagem acima mostra um terebindo verdejante em contraste com o solo seco do deserto do Neguev, região semiárida que ocupa cerca de 60% da terra de Israel. O terebinto, ao lado do carvalho, era buscado como local para sacrifícios: 

Meu povo consulta o seu pedaço de madeira...
Eles se prostituem...
Debaixo do terebinto...
Pois a sua sombra é boa. (Os 4,12-13).

Muitas fotos de Israel em alta resolução, aqui.


Jones F. Mendonça

POSSESSÃO, INTESTINOS E ORIFÍCIOS


A imagem da esquerda retrata Catarina de Siena exorcizando uma mulher possuída numa tela de Girolamo Di Benvenuto (~1500). Repare que o capiroto sai pelo ouvido esquerdo, reflexo da crença medieval nos orifícios como canal de entrada e saída dos demônios.

A imagem da direita (Capela de Notre Dame des Fontaines, séc. XV) mostra a alma de Judas sendo removida do seu intestino. Era também no intestino que se instalavam os demônios. Por alguma razão curiosa, o demônio e a alma ocultavam sua morada no terreno mais desprezível do corpo.



Jones F. Mendonça

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

A ESTRELA DE BELÉM E O MAGO TUPINANBÁ


O relato da visita dos magos, inserido no início do primeiro evangelho (Mt 2), pretende destacar o caráter messiânico (e universalista) de Jesus. São nítidos os paralelos entre a postura dos “magos do Oriente” e a do “Mago Balaão” em Nm 23.

Balaão, como os magos de Mateus, reconhece o futuro de Israel como “reino exaltado” (Nm 24,7) do qual “procederá uma estrela” que “destruirá os filhos do orgulho” (Nm 24,17). O Herodes de Mateus, que não é bobo, entendeu o recado.

No início do século XVI, no embalo do êxito das conquistas no além-mar, a arte cristã portuguesa viu no relato da visita dos magos um oportuno instrumento de cristianização do imaginário indígena.

Nesta tela de Vasco Fernandes (1501-6), um dos magos (Baltazar), outrora representado como negro, aparece na figura de um ameríndio tupinambá!



Jones F. Mendonça