segunda-feira, 30 de maio de 2011

EXEGESE JUDAICA NO THE JERUSALEM POST

A exegese judaica possui algumas características singulares. Diante de uma questão levantada por um rabino era muito comum surgirem várias interpretações. Por exemplo, ao ser feita a pergunta: "Por que Moisés carregava um cajado?", poderiam surgir muitas respostas (exceto a de que o cajado era usado para auxiliá-lo a caminhar). A tendência era espiritualizar o cajado. 

O J Post (27-05-11) publicou uma reflexão rabínica baseada no livro de Números (Bamidbar) com o título: "God of the Earth: Spiritual lessons of the desert" (Deus da terra: lições espirituais do deserto). A reflexão surge a partir da seguinte pergunta: "por que a Torá foi dada no deserto?". Como estou em busca de interpretações rabínicas que possam enriquecer a apostila de hermenêutica bíblia que estou confeccionando para meus alunos, fica aqui o registro. 

Para embelezar esta postagem, esta imagem das dunas de um deserto da Península Arábica. Recebi hoje via Earth Observatory

Rub al 'Khali Ar - margem sudeste, no sultanato de Omã

sábado, 28 de maio de 2011

PATAH FURTIVO, KAF, KHAF E KHAF SOFIT (HEBRAICO)


para ouvir o texto em hebraico, clique aqui

1. Patah furtivo. Com o fim de evitar que duas vogais sejam representadas juntas (holem e patah), a segunda é empurrada para a parte inferior direita do het (ao invés de ficar posicionada no centro). Este patah meio fora de posição é chamado de patah furtivo (som de "a" breve). Ele é considerado uma semivogal. Temos aí um ditongo – oa, representado pelo pontinho superior (holem) e o traço inferior (patah). Pronúncia da palavra: Lnôar (para Noé).

2. Letra khaf. Tem o som de “rr”. Ela geralmente aparece transliterada como “kh”. Isso confunde muitos estudantes de hebraico que acabam pronunciando essa letra como tendo o som de k. Pronúncia da palavra: vrrol (e toda).

3. Letra khaf sofit (final). No hebraico algumas letras aparecem de forma modificada no final as palavras. O som é o mesmo da letra nr 2 (r). O pequeno símbolo em formato de “t” dentro do khaf é uma vogal (qamets gadol, som de “a”). Pronúncia da palavra: betrrá (tua casa).

4. Letra kaf. Tem som de “k” quando recebe um daguesh (pontinho no meio da letra). Pronúncia da palavra: ky (pois).

quinta-feira, 26 de maio de 2011

SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS DE ISRAEL, JORDÂNIA, TURQUIA E GRÉCIA

Que tal explorar alguns dos sítios arqueológicos mais importantes de Israel, Jordânia, Turquia e Grécia on line, com muitas fotos e informações detalhadas? Se quer fazer isso, clique aqui

Quando você entrar no site vai aparecer um mapa Israel/Jordânia em tamanho grande e um pequeno mapa Turquia/Grécia (onde está escrito Legacy sites: laranja/lilás). Clique no mapa desejado e quando ele surgir clique duas vezes no pequeno círculo que indica a cidade que hospeda o sítio (p. ex. Jerusalém). Bem, o resultado é um mundo de fotos e informações. Boa pesquisa!

GRIMSVOTN: FASCINANTE E TERRIFICANTE

Dois vulcões da Islândia dão um espetáculo à parte quando entram em erupção (e também muito prejuízo às companhias aéreas). Em abril de 2010 quem deu o ar da graça foi o Eyjafjalljokull. Este ano quem mostra toda a sua fúria e o Grimsvotn. Abaixo a impressionante coluna de cinzas que escapa do vulcão:

Vulcão Grimsvotn, Islândia. Foto: The Big Picture

quarta-feira, 25 de maio de 2011

NOTÍCIAS DO ORIENTE

Os guetos do século XXI. Foto: AlJazeera
1. De acordo com o Aljazeera  (25-05-11), o Egito vai abrir as fronteiras com Gaza a partir de sábado. Já estava na hora de abrirem o gueto. Os principais beneficiados serão as mulheres e crianças. Homens com idade entre 18 e 40 anos precisarão de visto egípcio. 

2. Diante da expectativa do reconhecimento do Estado Palestino pela ONU em setembro, israelenses e palestinos estão correndo para reivindicar locais de patrimônio cultural na Cisjordânia. A matéria foi publicada no The Art Newspaper (25-05-11). Como se vê, sempre haverá motivos para uma nova disputa...

3. Reservo este terceiro item só para fazer um comentário. O primeiro ministro de Israel, Benjamin Natanyahu, é muito mais criticado nos jornais do seu país que na mídia americana. Compare, por exemplo, o Haaretz com o New York Times. Muito estranho. 

terça-feira, 24 de maio de 2011

HISTÓRIA DE ISRAEL SOB SEIS OLHARES: DE SAMUEL SCHULTZ A ISRAEL FINKELSTEIN


Há muitos livros sobre a história de Israel no mercado. Alguns se limitam a apresentar a origem e o desenvolvimento do povo de Israel tal como apresentado nas páginas da Bíblia. Esses livros não parecem se importar os anacronismos e implausibilidades históricas de algumas narrativas, considerando as descobertas recentes, principalmente na área da arqueologia. Eis uma obra que trabalha dessa forma:
SCHULTZ, Samuel J. A história de Israel no Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2001.
Quem está em busca de uma obra um pouco mais crítica da história de Israel certamente encontrará no trabalho de John Bright uma ótima referência. O autor pertence a escola de Albright, famoso linguista e arqueólogo protestante. Essa escola reconhece a impossibilidade histórica de alguns eventos narrados no Antigo Testamento (mas insiste na historicidade dos patriarcas), mas insiste que possuem ao menos um “fundo histórico”. No livro são comuns expressões do tipo: “não há porque duvidar da historicidade....” [dos patriarcas, do êxodo, etc.]. Ainda que você prefira uma visão mais conservadora ou mais crítica, não dá para deixar de ler esta obra:
BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulinas, 2003.
Um trabalho um pouco mais recente, crítico e atualizado sobre a história de Israel é a obra do protestante Antonius Gunneweg. Ao contrário de John Bright, que tenta a todo o tempo atenuar os conflitos entre as narrativas bíblicas, Gunneweg é bem mais direto. Para ele, a unção de Saul por Samuel não passa de “lenda histórica com traços de conto imaginário”. O Davi hesitante em usurpar o trono de Saul retratado nos livros de Reis e Crônicas é visto com muita desconfiança por Gunneweg. Na sua opinião a insistência em defendê-lo é indício de culpa. Leitura obrigatória para os estudantes do Antigo Testamento:
GUNNEWEG, Antonius. História de Israel. Dos primórdios até Bar Kochba e de Theodor Herzl até os nossos dias.  São Paulo: Loyola/Teológica, 2005. 
Quem jamais leu uma obra sequer sobre a história do Antigo Israel, mas pretende fazer isso evitando uma abordagem simplista como a de Schultz, densa como a de Bright ou muito crítica e técnica como a de Gunneweg, pode encontrar num livreto de Euclides Balancin uma ótima introdução ao tema.  A história de Israel é contada sob a perspectiva da teologia da libertação. Apesar de empregar uma linguagem simples, o livro está longe de ser uma obra ingênua. Balancim foi um dos exegetas da famosa Bíblia de Jerusalém:
BALANCIN, Euclides. A história do povo de Deus. São Paulo: Paulus, 2005.
Há ainda duas outras obras importantes que não podem deixar de ser citadas: “História de Israel e dos povos vizinhos”, de Herbert Donner (segue a mesma linha de John Bright) e “E a Bíblia não tinha razão”, de Israel Finkelstein (o livro ganhou um título provocativo em português). Como ainda não li a obra de Donner, não posso emitir opinião. Quanto ao livro de Finkelstein, já iniciei a leitura, mas ainda estou no terceiro capítulo. A obra de Finkelstein é o que há de mais recente na pesquisa histórica do Antigo Israel. Espero em breve poder comentar algo aqui no Numinosum

sábado, 21 de maio de 2011

APONTAMENTOS DE HERMENÊUTICA: ALEXANDRIA E ANTIOQUIA


3. Cristianismo dos primeiros séculos (até o século V): Diante da necessidade da elaboração de um pensamento mais consistente em relação às doutrinas cristãs, surgiram a partir do segundo século, dois importantes centros de reflexão teológica:

3.1 Escola de Alexandria, Egito - Valorizava a interpretação alegórica. Supunha que por trás do texto havia uma mensagem oculta (geralmente fazendo referência ao Novo Testamento).  Um dos grandes expoentes da escola de Alexandria foi Orígenes (185-253 d.C.). Ele recorre à alegoria para explicar as incoerências presentes no relato da criação:
Que pessoa inteligente imaginaria, por exemplo, que um primeiro, um segundo, um terceiro dia, tarde e manhã, aconteceram sem o Sol, sem Lua e sem estrelas; e o primeiro, conforme o chamamos, sem mesmo um céu?[5].
3.2 Escola de Antioquia, Síria: Conhecida por uma leitura bíblica baseada numa interpretação mais literal. Diferentemente do que pregavam os padres da Escola de Alexandria, os antioquenos enfatizavam que as narrativas bíblicas do Antigo testamento são históricas e devem ser compreendidas no seu contexto histórico-gramatical.

No seu comentário à epístola de Gálatas, Teodoro de Mopsuéstia (350-428 d.C.) faz uma dura crítica ao método alegórico:
Pois dizem que Adão não foi Adão, especialmente nesses casos, quando eles vêm para explicar [a história da criação] dentro as divinas Escrituras “de forma espiritual”. Quando afirmam que o paraíso não é  paraíso e a serpente não é serpente eles estão dispostos a ter a sua interpretação espiritual sendo considerada loucura[6].
Notas:
[5] De principius, IV, 16 apud LEEUW, J. J. Van Der. A dramática história da fé cristã: desde seu início até a morte de Santo Agostinho, p. 74.
[6] Fiz uma tradução livre do inglês. No original: “For they say Adam was not Adam, especially in those instances when they come to explain [the creation story] within the divine Scripture 'in spiritual way'. When they state that paradise is not paradise, and the serpent is not a serpent, they are willing to have their spiritual interpretation called foolishness!”. Theodore’s commentaries on the Epistles to the Galatian apud MCLEOD, Frederick G. Theodore of Mopsuestia, p. 120.

Jones F. Mendonça

Continua... (apontamentos de hermenêutica: Santo Agostinho e São Jerônimo).

RELIGIÃO - TEMOR E TREMOR - LEANDRO KARNAL (VÍDEO)

Leandro Karnal, historiador brasileiro e professor da UNICAMP, fala sobre religião com uma lucidez, clareza e honestidade intelectual que impressionam. Também chama a atenção a facilidade com que ele cita passagens da Bíblia. Parece um pregador de praça (sem o fundamentalismo, é claro). O vídeo abaixo é, sem dúvida, uma das melhores palestras apresentadas pelo CPFL Cultura.  Assista ao vídeo aqui.

Você também pode gostar deste vídeo: Confrontos religiosos e fundamentalismo

Mas se você prefere as duas palestras em MP3 para ouvir no carro, ônibus, trem, metrô ou deitado confortavelmente na rede de sua varanda, clique aqui

O PENSAMENTO MÍTICO NA FORMAÇÃO DA NOSSA REALIDADE (VÍDEO)

O site do CPFL Cultura disponibiliza excelentes vídeos sobre os mais diversos temas. Este abaixo é sobre o papel do mito na sociedade moderna. Refletem sobre o tema Antonio Medina Rodrigues, Demétrio Magnoli e José de Paula Ramos Jr. Para assistir ao vídeo, clique aqui

sexta-feira, 20 de maio de 2011

JESUS SEGUNDO MATEUS

Clique para ampliar
1. COMO TUDO COMEÇOU
Filho de Maria e de um artesão[1] chamado José, Jesus nasceu em Belém (Mt 2,1) e logo em seguida foi levado para o Egito por seus pais, para que escapasse do rei Herodes[2], que o queria matar (Mt 2,13). Com a morte de Herodes (Mt 2,15) Jesus foi viver na cidade de Nazaré (Mt 2,23), na região da Galileia. Após ser batizado no Jordão por João Batista (Mt 3,13) e tentado no deserto pelo diabo(Mt 4,1), foi viver em Cafarnaum (Mt 4,13), às margens do Lago de Genazaré (ou Mar da Galileia), onde convocou seus primeiros discípulos, os pescadores Pedro, André, Tiago e João (Mt 4,18.21).

[Situe-se na Palestina clicando aqui]. 

2. O IMPACTO DE SUA PREGAÇÃO
Foi na região da Galileia que Jesus iniciou seu ministério, operando curas, exorcismos e enunciando as boas novas do Reino de Deus (Mt 4,23.24; 5). Os fariseus, saduceus e escribas[3], tomando conhecimento dos seus feitos, decidiram acompanhá-lo de perto. A relação entre o nazareno e esse grupo de   judeus não foi amigável.  Jesus reinterpretava leis religiosas (ou simplesmente ignorava, cf. Mt 8,2-3 – ver Lv 5,2 e Lv 13,22), negligenciava antigos costumes (Mt 15,2) e pregava um Deus próximo, sem a necessidade dos complexos rituais de purificação (Mt 9,2). Leprosos, prostitutas, aleijados e publicanos[4] eram vistos por ele não como indivíduos de segunda classe, mas como pessoas que carecem do amor e perdão divino como qualquer outra (Mt 18,10-14).

3. DESAFIANDO OS PODEROSOS
O ódio que parte da classe dominante tinha por Jesus atingiu o seu ápice quando ele chegou a Jerusalém[5]. A entrada triunfal montado num jumentinho, a expulsão dos vendilhões do Templo (Mt 21, 7-13) e seu confronto direto com ao poderosos de Jerusalém (Mt 21,23-46) representaram sua sentença de morte. Os judeus de Jerusalém viram Jesus como uma ameaça à sua religião, baseada na Lei e no Templo. Traído por Judas, um de seus discípulos (Mt 26,49), Jesus foi levado ao Sinédrio (Mt 26,59), um tribunal judaico presidido pelo sumo sacerdote, e acusado de blasfêmia (Mt 26,65). Nenhum de seus discípulos ficou para lhe prestar apoio. Após intensa discussão entre os judeus, ele foi levado a Pilatos, prefeito de Jerusalém (Mt 27,2). A cidade santa estava tumultuada porque era a época de celebração da Páscoa (Mt 26,2), ocasião em que judeus de todas as regiões partiam para lá[6]. Pilatos, querendo fugir de um possível conflito com os judeus, principalmente após perceber as implicações políticas que o título “Rei dos Judeus” atribuído a Jesus poderia provocar, resolveu acatar a acusação que recaíra sobre ele, sentenciando-o à morte por crucificação (Mt 27,26).

4. SUA MORTE E RESSURREIÇÃO
Jesus foi humilhado (Mt 27,38-21) e colocado no madeiro[7] ao lado de dois ladrões (Mt 27,38). Após ter expirado, a terra foi abalada por um terremoto e muitos mortos ressuscitaram (Mt 27,50-53). Um rico discípulo chamado José de Arimateia pediu a Pilatos o corpo de Jesus (Mt 27,57-58). O pedido foi aceito e seu corpo foi envolvido num manto de linho e colocado num sepulcro novo (Mt 27,59-60). No domingo, um anjo removeu a pedra da entrada do sepulcro, assustando os guardas que vigiavam o local (Mt 28,1-4). O anjo pediu para que Maria Madalena e a outra Maria avisassem aos discípulos que Jesus havia ressuscitado e partido para a região da Galileia (Mt 28,5-7).  Os discípulos o encontraram lá e receberam de Jesus a ordem de fazer discípulos a todas as nações, batizando-se em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a obedecer a tudo o que lhes fora ordenado (Mt 28,19,20). 

Notas:
[1] artesão é uma tradução mais adequada para o termo grego tekton.
[2] Trata-se de Herodes, o Grande (73-4 a.C.). Herodes não era judeu de nascimento, ele era idumeu. É perfeitamente compreensível a preocupação de Herodes diante do anúncio de uma criança que vivia a ser “rei dos judeus”.
[3] Os fariseus se esforçavam para levar ao povo as regras de purificação, reservada apenas aos sacerdotes, por isso eram tão populares.  Os escribas eram mestres dedicados a interpretação e ao ensino da Lei. Os saduceus alegavam ser descendentes legítimos do sacerdócio, de acordo com Ez 40,46.  Sua vida religiosa estava intimamente ligada ao templo.
[4] Cobradores de impostos.
[5] Jerusalém era a capital religiosa dos judeus. Era lá que ficava o templo.
[6] Além da Páscoa, as revoltas populares também eram muito comuns em outras duas grandes festas migratórias: Pentecostes e Tabernáculos.
[7] O grego traz staurós (estaca) e não cruz. 

Imagem:
Eyck, Jan Van
Crucificação
1420-1425
Metropolitan Museum of Art, New York

HAWKING E DEUS, UM CASO ANTIGO

Imagem: G1
Stephen Hawking, um dos maiores físicos teóricos do momento, tem feito pesadas criticas a crença na vida após a morte e na existência de Deus. Recentemente me saiu com essa:
Não há céu nem vida após a morte [...] isso tudo é um conto de fadas para as pessoas com medo do escuro[1].
Tenho um livro do Hawking publicado em 1992: “Buracos negros, universos bebês e outros ensaios”. Comprei-o num sebo há uns dez anos. Na época tive o cuidado de marcar todas as páginas onde ele falava sobre Deus. Está lá na página 16:
Um dos assuntos que discutíamos [referindo-se a seus amigos da juventude] era a origem do universo e a necessidade ou não de Deus para criá-lo e pô-lo em funcionamento. [...] Um universo essencialmente imutável e perpétuo pareceria tão mais natural![2]. 
Mas quando ele descobriu que o universo estava em expansão sua teoria do universo eterno caiu por terra. Havia uma origem, uma singularidade, um momento inicial:
só me dei conta de que estava errado depois de cerca de dois anos de pesquisas para meu doutorado[3].
Deus ainda era uma possibilidade. Na página 135, numa entrevista concedida a Sue Lawley, da BBC de Londres, Hawking, muito consciente, afirma:
continuamos diante da questão: por que o universo se deu ao trabalho de existir? Se você preferir, pode definir Deus como sendo a resposta para essa questão[4].
É claro que Hawking nunca acreditou em Deus, vida eterna, etc. Mas ele foi honesto ao não fechar a porta para o além (seja lá o que for esse além). Os filósofos medievais criaram argumentos para tentar provar que Deus existe. Pura enrolação. Agora me aparece um cientista sinalizando querer percorrer o mesmo caminho (mas ao inverso). Perdeu a oportunidade de ficar calado.


Jones F. Mendonça

Notas:
[2] HAWKING, Stephen. Buracos negros, universos-bebês e outros ensaios. Rio de Janeiro: Rocco, 1995, p. 16
[3] Id. ibid.
[4] Id. ibid. p. 135.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

BUDISTAS CELEBRAM O VESAKHA (OU VESAK)

Vesakha 2011, The Big Pictures
Hoje os adeptos do budismo celebram o Vesakha (maio), um feriado anual conhecido popularmente como o "aniversário do Buda". O Vesakha lembra o nascimento, aperfeiçoamento (nirvana) e morte de Buda (Sidarta Gautama) e é comemorado em diversos países asiáticos, tais como Índia, Nepal, Singapura e Tailândia. 

De acordo com um leitor do Numinosum, Ricardo Mitsuo, no meio nipônico a celebração recebe o nome de "Hanamatsuri" (festa das flores). 

Belas fotos do Vesakha 2011 aqui e aqui.

APONTAMENTOS DE HERMENÊUTICA: HELENISMO E JUDAÍSMO

Desde o judaísmo pré-cristão, vários métodos de interpretação foram empregados na tentativa de extrair das Escrituras sua mensagem. Abaixo um breve resumo da história da interpretação bíblica:

1. Gregos (séc. VI a.C.): Na Grécia Antiga a alegoria (de allo, um outro; e agoreuen, dizer) foi empregada como método interpretativo pelos filósofos gregos visando tornar aceitáveis os relatos mítico-religiosos. O método alegórico pressupõe a existência de um sentido velado no texto. Com este artifício era possível negar que os deuses tivessem forma e sentimentos humanos como apresentados nos mitos e ao mesmo tempo aceitar o conteúdo de sua mensagem.

2. Judeus: Fílon (20 a.C. – 45 d.C.), rabino de família sacerdotal judaica, empregou a alegoria na tentativa de adequar as Escrituras Sagradas dos judeus ao pensamento filosófico. Falando dos poços bíblicos, Fílon deixa transparecer a influência que recebeu da filosofia grega:
“O poço é o símbolo do conhecimento. Porque a natureza do conhecimento não se situa na superfície, mas é profunda. Ela não eclode ao meio-dia, mas ama ocultar-se no segredo, e não é facilmente, mas com muita dificuldade que é encontrada”[1].
Sobre o sentido oculto que estaria presente no texto bíblico Fílon declara:
“O que é dito [na Bíblia] não se detém nos limites da explicação literal e evidente, mas parece dar a entender uma realidade que é muito mais difícil de conhecer pela multidão, realidade que reconhecem os que fazem passar o inteligível antes do sensível e são capazes de ver”[2].
A falta de interesse pelo sentido objetivo do texto é bem nítido numa discussão rabínica a respeito do porque o livro do Gênesis iniciar com o bet, segunda letra do alfabeto hebraico, e não com o alef, letra que encabeça o alfabeto:
“A letra beth é a segunda letra do alfabeto e também simboliza o número dois. O que nos ensina que para criar o texto bíblico foram necessárias pelo menos duas pessoas: Deus e o seu parceiro, o ser humano”[3].
“O beth é a letra de bênção (berakhá) e o aleph a da maldição (arirá)”[4].
Notas:
[1]  FÍLON, De somniis, I, § 6
[2] HADOT, Pierre. O véu de Isis: Ensaio sobre a história da ideia de natureza, p.69.
[3] Phoînix. Laboratório de História Antiga/UFRJ. 2007, p. 70.
[4] Fiz uma tradução livre. No original: “why with a bet? Because bet connotes blessing (berakhah). And why not with an aleph? Because aleph connotes cursing (arirah)”. POSNER, Raphael (Edit.). The creation according to the Midrash Rabbah. 2002, p. 47.

Jones F. Mendonça

terça-feira, 17 de maio de 2011

HEBRAICO: CONSOANTES ESPECIAIS E SINAIS VOCÁLICOS

Estou postando abaixo um resumo das primeiras aulas de hebraico bíblico ministradas aos meus alunos do  STBC. Para que o leitor compreenda o conteúdo deste resumo é necessário  que conheça bem as consoantes hebraicas (veja a tabela de consoantes aqui ). 

Clique para ampliar

domingo, 15 de maio de 2011

NAKBA 2011: PAI, AFASTA DE MIM ESSE CÁLICE...


Para que todos entendam bem (sim, há pessoas que confundem!). Os soldados "amáveis" são israelenses. Os "violentos" civis são palestinos. Nem vou comentar. O pouco que vi deixou meu espírito inquieto, tomado de indignação. Uma boa noite de sono talvez restabeleça meu equilíbrio emocional. Boa noite!

sábado, 14 de maio de 2011

NAKBA 2011


Em 1948, com a guerra civil deflagrada pela criação do Estado de Israel, houve um verdadeiro êxodo palestino, que ficou conhecido como Nakba (em árabe, desastre, catástrofe)[1]. De acordo com órgãos das Nações Unidas há, atualmente, 4.5 milhões de refugiados e 1.1 milhão que ainda vivem em campos de refugiados em condições  extremamente precárias[2]. 

Amanhã, 15 de maio de 2011, serão realizados protestos contra essa situação de já dura algumas décadas. Espero que os manifestantes árabes expressem sua indignação de forma pacífica. Espero também que as forças de defesa de Israel saibam lidar com a situação. 

Meu espírito será palestino enquanto eles continuarem sendo oprimidos. Meu espírito será judeu caso ele voltem a ser perseguidos. 

Nota:
[1] Na verdade o êxodo começou em 1947, com o ataque de grupos terroristas judaicos como o Irgun. 
[2] Dados da UNRWA (Agência das Nações Unidas de Assistência aos refugiados da Palestina no Oriente Médio). 

sexta-feira, 13 de maio de 2011

OSAMA BIN LADEN... E A HISTÓRIA CONTINUA...

O New York Times (10-05-11) publicou uma carta escrita pelos familiares de Osama Bin Laden questionando sua execução sumária e o sepultamento do seu corpo no mar. Segue trecho do documento (tradução e edição do Numinosum):
Se OBL [Osama Bin Laden] foi morto naquela operação como presidente dos Estados Unidos alegou, nós [seus herdeiros] estamos apenas no questionamento, de acordo com relatos da mídia, por que um homem desarmado não foi preso e julgado em um tribunal  para que a verdade fosse revelada ao povo do mundo?
[...]
Afirmamos que a morte arbitrária não é uma solução para os problemas políticos […] Mais importante, […] por que [seus familiares] não foram contatados para receber seu cadáver? Seu sepultamento repentino no mar privou a família de exercer os direitos religiosos de um homem muçulmano.
[...]
A falta de respostas a estas perguntas forçará nossa ida ao fórum internacional de justiça. […] Um painel de eminentes advogados britânicos e internacionais está sendo constituído e uma ação necessária pode ser tomada caso não sejam fornecidas respostas no prazo de 30 dias a contar da presente declaração.
É... vamos ver como vai terminar essa história...

segunda-feira, 9 de maio de 2011

UM POUCO MAIS DE M. C. ESCHER

NUMINOSUM: DOIS ANOS DE EXISTÊNCIA

Em maio de 2009, incentivado pelo meu professor Luis Carlos (que mantinha um excelente Blog teológico, hoje desativado), resolvi criar o Numinosum. Na época eu era aluno do curso de teologia e limitei-me a publicar os trabalhos que eu produzia em cumprimento às exigências do curso. Com o tempo, observando Blogs estrangeiros, dei um novo formado ao Numinosum, priorizando postagens mais curtas e objetivas. Outra medida foi inserir links nas palavras (como na Wikipedia) levando o leitor a outras postagens do Numinosum ou a sites que tratam do mesmo assunto. Quando o site é estrangeiro, insiro um link direcionando para uma página já traduzida pelo Google. Penso que assim contribuo de alguma forma para a democratização do conhecimento.

O Numinosum me é útil em vários aspectos. Ele funciona como um grande arquivo pessoal, como veículo de diálogo (alunos, amigos e desconhecidos), como passatempo e como estímulo para que eu me mantenha atualizado a respeito dos rumos que a reflexão teológica tem tomado. Apesar de ter como foco a teologia, arisco-me também a falar sobre arte, filosofia,  política (particularmente sobre o conflito árabe-israelense) e outros assuntos do meu interesse.

Minha opinião a respeito dos mais diversos temas já mudou muito desde a criação do Numinosum. Tive que tomar uma difícil decisão: excluir os posts mais antigos (e apagar da minha memória virtual o passado indesejável) ou deixá-los como estão (e correr o risco de ser acusado de incoerente).  Confesso que apaguei alguns. Outros permanecem como estão apesar de não corresponderem à minha forma atual de pensar.

O Numinosum é um Blog em contínua metamorfose. Estou muito mais para Heráclito que para Platão. Mais para Nietzsche que para G. K. Chesterton. E para celebrar os dois anos de vida em constante metamorfose, nada melhor que um pouco de arte. Como dizia Nietzsche: “A verdade é feia. Temos a arte para não perecermos de verdade” (Vontade de Potência, 822).

Ah, as imagens do vídeo são do genial artista gráfico M. C. Escher (1898-1972). A metamorfose é um dos seus temas preferidos. 



terça-feira, 3 de maio de 2011

ENQUANTO ISSO NA CABANA DE OBAMA...

Crédito da imagem: Desertpeace

NOTICIAS DO DIA A DIA






FRAGMENTOS DE UMA TRISTE HISTÓRIA

Crédito da imagem: Al-Jazeera
Caminhando pela neve no alto de uma montanha de Tora Bora, Afeganistão, Bin Laden concedeu uma entrevista em 1996 ao jornalista Abdel Bari Atwan[1]. O terrorista mais famoso da história não gostava que suas palavras fossem gravadas. Elas tinham que ser anotadas num papel. Abaixo um comentário de Bin Laden registrado por Atwan que merece ser lido:
Não posso combater os americanos nos Estados Unidos, porque é extremamente difícil. É algo que exige grande planejamento e grande esforço. Mas, se eu conseguir atrair os americanos para o Oriente Médio, para combatê-los em meu próprio terreno, em meu próprio chão, em meu próprio quintal, será perfeito. Prometo a você que farei maravilhas... [2].
Diante de tudo o que viu e ouviu, Atwan conclui (falando após os ataques e a invasão ao Iraque):
Se Bin Laden morrer amanhã, morrerá feliz, porque conseguiu se vingar dos Estados Unidos, o grande país que ele considera o mal. Bin Laden fez com que os Estados Unidos fossem humilhados no Oriente Médio, na mão de muçulmanos e árabes. Deve estar extremamente feliz agora[3].
Dez anos após o ataque às torres gêmeas, Bin Laden finalmente está morto (pelo menos é o que diz a Casa Branca). Nesta caçada ao líder da Al-Qaeda morreram centenas de soldados americanos, muitos árabes (inclusive inocentes) e foram gastos centenas de bilhões de dólares.  As armas de destruição em massa nunca foram encontradas.

Saldo final: A indústria armamentista e os empresários do petróleo ganharam muito dinheiro. Povoados árabes se tornaram ainda mais pobres e oprimidos. Muitos soldados mortos e muito dinheiro gasto. Presidentes se reelegeram. Ditadores foram depostos. Bin Laden morreu feliz... e o povo americano comemora...

Do ponto de vista emocional a catarse coletiva dos americanos por ter tido algum valor para os parentes das vítimas do 11 de setembro. Mas se analisarmos friamente a situação... não sei...

Notas:
[1] Abdel Bari Atwan nasceu em um campo de refugiados na Faixa de Gaza, dois anos após a criação do Estado de Israel. Trabalhou em importantes jornais árabes como o al-Balaagh (Líbia), al-Madina (Arábia Saudita) e o al-Sharq al-Awsat (Londres).
[2] NETO, Geneton Moraes. Dossiê História, p. 14.
[3] Id. ibid. p. 16.

Jones Mendonça

segunda-feira, 2 de maio de 2011

REGISTROS DA CRUCIFICAÇÃO DE JESUS FORA DO NOVO TESTAMENTO

Além dos Evangelhos e das Epístolas paulinas, outros testemunhos importantes a respeito da crucificação de Jesus são citadas pelo historiador judeu Flávio Josefo, pelo historiador romano Tacitus e pelo Talmude. Abaixo os detalhes de cada uma das fontes:

1. Flávio Josefo nasceu em Jerusalém, em 37 ou 38 d.C., e pertencia à aristocracia sacerdotal judaica. Na guerra judaica (66 – 70 d.C.), foi o responsável pela proteção de Jerusalém contra o exército romano. Diante do poderio das tropas imperiais Jerusalém foi totalmente destruída e Josefo foi feito prisioneiro. Após obter o perdão imperial (supostamente profetizou que Vespaziano seria imperador), recebeu cidadania romana (daí o nome latino Flavius Josephus), uma residência, terras e uma pensão imperial. As obras mais famosas de Josefo são: Antiguidades Judaicas, Guerras Judaicas, A Vida de Josefo (uma polêmica autobiografia) e Contra Apion (uma apologia). O trecho em que Josefo cita Jesus parece ter sofrido interpolações cristãs (o trecho ficou conhecido como Testimonium Flavianum, Ant. 18,63s)[1], por isso citarei o texto colocando entre colchetes aquilo que, de acordo com Dominic Crossan[2], provavelmente representa acréscimo cristão:
Por volta dessa época viveu Jesus, um homem sábio [se é que se deve chamá-lo de homem]. Pois ele era capaz de proezas surpreendentes e ensinava as pessoas a aceitar a verdade com alegria. Ele conseguiu converter muito judeus e muitos gregos. [Ele era o messias]. Quando Pilatos, ao saber que ele havia sido acusado pelos homens mais influentes entre nós, condenou-o a crucificação, aqueles que o amavam em primeiro lugar não desistiram por sua afeição por ele. [No terceiro dia ele apareceu-lhes recuperado para a vida, pois os profetas de Deus haviam previsto esta e inúmeras outras coisas maravilhosas sobre ele.] E a tribo dos cristãos, assim chamados por causa dele, não desapareceu até hoje (Antiguidades Judaicas, 18,63).
2. P. Cornelius Tacitus era membro da aristocracia senatorial romana. Nascido por volta de 55, foi contemporâneo mais jovem de Flávio Josefo. São de sua autoria duas famosas obras: as Histórias (c. 105/110) e os Anais (c. 116/117). Tacitus tinha repulsa tanto pelos judeus como pelos cristãos.    Duas frases escritas por ele mostram isso: “com relação a qualquer outro povo [os judeus] sentem apenas ódio e inimizade” (Histórias 5.5.1); “[os cristãos são] uma classe de homens detestados por seus maus hábitos” (Anais 15.44). No intuito de explicar a origem do movimento cristão, ele fala da crucificação de Jesus:
Este nome (christiani) vem de Cristo, que foi executado sob Tibério pelo procurador Pôncio Pilatus (Anais, 15,44,3).
3. O Talmude (sec. III e IV d.C.), coleção de leis, preceitos, tradições e costumes judaicos, também faz referência à crucificação de Jesus. Muitas dessas referências representam respostas à provocações dos cristãos e é possível que algumas delas contenham algo de histórico. Uma merece especial atenção:
Na véspera da festa de Páscoa suspenderam Ieshu. Quarenta dias antes gritou o arauto: ele será levado ao apedrejamento porque praticou feitiçaria e porque seduziu Israel e o fez apóstata. Quem tem algo a dizer em sua defesa que venha e o diga. Como nada foi apresentado em sua defesa, ele foi pendurado na véspera da festa de Páscoa... (Talmude Babilônico Sinédrio 43a). 
Referências bibliográficas:
GRELOT, Pierra. A esperança judaica no tempo de Jesus. São Paulo: Loyola, 1996.
THEISSEN, Gerd. O Jesus histórico, uma manual. São Paulo: Loyola, 2002.
VERMES, Geza. A paixão. Rio de Janeiro: Record, 2007.
CROSSAN, Dominic.  Quem matou Jesus? Rio de Janeiro: Imago Ed., 1995.

Notas:
[1] Uma ampla discussão a respeito da autenticidade do Testimonium Flavianum pode ser consultada na seguinte obra: THEISSEN, Gerd. O Jesus histórico, uma manual. São Paulo: Loyola, 2002, p. 85-94.
[2] Cf. CROSSAN, Dominic.  Quem matou Jesus?, p. 17,18.

Jones Mendonça