domingo, 28 de fevereiro de 2010

MURALHA ENCONTRADA EM JERUSALÉM: SÉCULO IX OU X?


Por Jones Mendonça

O arqueólogo Aren Maeir explica o porque de suas reservas quanto a datação da muralha descoberta pela arqueóloga Eilat Mazar em Jerusalém. Para Mazar a construção seria do século X. Maier propõe uma data mais recente:
“Baseado no que ela [Eilat Mazar] publicou anteriormente e que apresentou à mídia, a maioria dos materiais são do final da Idade do Ferro (séculos VII e VIII). No passado ela publicou uma pequena quantidade de material anterior a partir das bases destas estruturas, que ela data do século X (mas poderia facilmente datada para o século IX) e com base nisso, ela data essas estruturas para o século X (e assim, o Reino Unido, etc.) Não há dúvida de que a ‘porta’ foi utilizada no final da Idade do Ferro, a questão é se ela foi fundada no século X ou IX. Baseado no que ela tem mostrado até agora, acho que o IX é mais provável”.
Ele prosegue:
“Eu acredito que houve um reino de Judá no século X, e eu acredito que Davi e Salomão não eram figuras míticas”.
Maier destaca no seu Blog que é sempre prudente deixar de lado nossas crenças quando estamos diante de uma descoberta que poderá confirmar algo do nosso interesse.

Fonte: Blog de Aren Maeir 

MANUSCRITO BÍBLICO DE 1.300 ANOS É ACHADO 'SEM QUERER'

JERUSALÉM - Uma descoberta acidental possibilitou a junção de dois fragmentos de um manuscrito bíblico de 1.300 anos, que pode revelar novas pistas sobre um período obscuro da história da Bíblia hebraica. Pesquisadores não sabiam da existência das partes isoladas até que a fotografia de uma delas, publicada em sua primeira exibição pública em Israel, chamou a atenção dos especialistas, que se encarregaram de juntá-los.

Os fragmentos compõem o Segundo Cântico do Mar, cantado pelos israelitas após a fuga do Egito, enquanto assistiam à destruição dos exércitos do faraó no Mar Vermelho. Uma mostra no Museu Nacional de Israel, dedicada ao Cântico do Mar, agora pôde reunir as duas peças.

Uma página do cântico, conhecida como o Manuscrito Ashkar, estava abrigada numa biblioteca de livros raros na Universidade Duke, nos EUA, e foi exibida pela primeira vez em Israel em 2007. Foi nessa oportunidade que a fotografia do manuscrito apareceu em um jornal e chamou a atenção de dois paleógrafos israelenses, Mordechay Mishor e Edna Engel, que notaram a semelhança com uma outra página em hebraico, o Manuscrito de Londres, que é parte de uma coleção particular.

"A uniformidade das letras, a estrutura do texto e as técnicas usadas pelo escriba deixaram muito claro para mim", disse Engel. A relação não seria óbvia para o observador leigo. O Ashkar está escurecido pela exposição aos elementos e o texto está praticamente invisível, enquanto o Londres é legível e se encontra muito mais bem preservado.

Após estudos com raios ultravioleta, os especialistas confirmaram que os textos não só foram escritos pela mesma mão, mas eram parte de um mesmo rolo de pergaminho. Estudiosos acreditam que o pergaminho foi escrito por volta do século sétimo, em alguma parte do Oriente Médio, possivelmente no Egito. Não se sabe como essas partes foram separadas, ou o que aconteceu com o restante do material escrito.

A reunificação dos fragmentos é um elo importante na corrente, mostrando como a escrita da Bíblia hebraica evoluiu ao longo do chamado período "silencioso" - entre os séculos terceiro e décimo - do qual não resta praticamente nenhum texto bíblico. O Cântico nos Manuscritos do Mar Morto está escrito como prosa, por exemplo, e no manuscrito reunido, em versos.

Fonte: Estadão

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

APÓCRIFOS DO ANTIGO TESTAMENTO

1. Introdução
Para Alejandro Diez, a literatura apócrifa pode ser entendida como “um conjunto de obras judaicas (ou, excepcionalmente, judaico-cristãs) escritas no período compreendido entre o ano 200 a.C. e 220 d.C., obras que se pretendem inspiradas [...], tendo como autor ou como interlocutor um personagem do Antigo Testamento[1]. Essas obras foram escritas em tempos difíceis para o judaísmo. Após a queda do império persa e a morte de Alexandre, os judeus foram subjugados pelos selêucidas. Antíoco Epifanes, rei dos selêucidas (Síria), queria helenizar os judeus e esse período foi marcado por perseguições e afrontas ao judaísmo. Dentre as medidas anti-judaicas tomadas por Antíoco, estão a proibição da circuncisão e da guarda do sábado. O anti-helenismo, o desejo de independência política e a purificação do judaísmo da influência pagã se tornaram intensas. Tudo isso culminou numa luta armada, liderada pelo sacerdote Matatias e seus filhos.

A literatura apócrifa do Antigo Testamento é bastante extensa e podemos dividi-la em duas partes. A primeira é composta por livros considerados espúrios pelo judaísmo, catolicismo e protestantismo (chamados de pseudepígrafos) e a segunda por livros aceitos como inspirados pela Igreja Católica. Os católicos os chamam de deuterocanônicos (dêutero= segundo) porque a canonização definitiva desses livros pela Igreja Católica só foi feita em 1546 no Concílio de Trento. A relação de livros canonizados pelos católicos é composta por sete livros e dois acréscimos.

2. Deuterocanônicos católicos:
Tobias, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, Judite, Baruque e I e II Macabeus, acréscimos ao livro de Daniel e Ester. Segue abaixo um breve resumo desses livros:

Tobias – O livro relata a saga de Tobias, filho de Tobit. Após o pai de Tobias perder todos os seus bens e ficar cego ao ter seus olhos atingidos pelo excremento de um pássaro, Tobias sai em busca de uma quantia em dinheiro devida a seu pai e da mão Sara, uma mulher que lhe havia sido prometida em casamento. Além da longa jornada, Tobias tem um outro desafio, já que sua pretendente é atormentada por um demônio chamado Asmodeu, que mata todos os seus pretendentes. Diante desse desafio, Tobias ora a Deus, que envia o anjo Rafael para ajudá-lo na tarefa.
No meio da jornada Tobias quase é devorado por um peixe, mas é salvo pelo anjo Rafael, que retira o fígado, o coração e o fel do peixe. Rafael lhe diz que o coração e o fígado do peixe seriam utilizados para expulsar Asmodeu e o fel curaria a cegueira de seu pai. Tobias recupera o dinheiro, expulsa Asmodeu e casa-se com Sara, herdando os seus bens. Ao retornar para sua casa, seu pai é curado de sua cegueira com o fel do peixe.

Sabedoria de Salomão – O livro possui pontos de contato com o livro de Provérbios e tem como tema central a busca pela Sabedoria. O autor insiste na doutrina da retribuição, onde os justos serão recompensados e os ímpios serão punidos. A redação do livro geralmente é situada entre os anos 130 a 50 a.C.

Eclesiástico – Também conhecido como Sirácida, por causa do nome do seu autor, “Jesus filho de Sirac, filho de Eleazar de Jerusalém” (50,27), o livro é, como a Sabedoria de Salomão, uma exaltação da sabedoria judaica. Diante da crescente influência da cultura grega o autor escreve sua obra, colocando-se na defesa dos valores religiosos e culturais do judaísmo, de sua concepção de Deus e do mundo. Para o autor, a Lei dada a Israel é superior ao pensamento grego, e nela se encerra a verdadeira sabedoria.

Judite – O livro conta a história de Judite, uma bela mulher israelita que seduz o chefe supremo do exército inimigo que tentava invadir a Judéia. Fazendo-se passar por traidora, Judite embriaga e engana o general Holofernes, cortando sua cabeça. Agora sem comando o exército assírio foge desesperado. O livro foi escrito em meados do século II a.C.

Baruque – Também conhecido como “Carta de Jeremias”, o livro é um pseudo-epígrafo, já que o autor se faz passar por Baruc, secretário do profeta Jeremias. Mas o livro foi escrito após o exílio, talvez no século II a.C. Após uma introdução histórica, que situa a redação do livro na Babilônia, cinco anos após a destruição de Jerusalém, o livro pode ser dividido em duas partes: 1) Uma confissão dos pecados e uma súplica, a serem feitas pelos israelitas diante de Deus; 2) Uma exortação sapiencial e um oráculo de restauração.

I Macabeus – Escrito originalmente em hebraico o livro narra a revolta do movimento macabaico contra a influência helenística: “Construíram então, em Jerusalém, uma praça de esportes, segundo os costumes das nações, restabeleceram seus prepúcios e renegaram a aliança sagrada” (1 Mc 1,14). O livro trata essencialmente do nacionalismo judaico e da guerra da independência.

II Macabeus – O segundo livro dos Macabeus descreve os acontecimentos compreendidos entre a inspeção de Heliodoro, sob Onias II, em cerca de 180, e a morte de Nicanor em 161. O livro deixa bem evidante sua intenção de legitimar o sacerdócio asmoneu. A influência do helenismo também é destacada no livro: “verificou-se, desse modo, tal ardor de helenismo e tão ampla difusão de costumes estrangeiros [...] que os próprios sacerdotes já não se mostravam interessados nas liturgias do altar. Antes, desprezando o Santuário e descuidando-se dos sacrifícios, corriam a tomar parte na iníqua distribuição de óleo no estádio, após o sinal do disco” (2 Mc 4,13a 14-15).

Acréscimos ao livro de Daniel – Há três acréscimos gregos feitos ao livro de Daniel: o Cântico de Azarias, Bel e o dragão e a história de Suzana.

A primeira adição ao livro de Daniel encontra-se no capítulo 3 e tem como propósito descrever o que se passou com Ananias, Azarias e Misael (Sidrac, Misac e Abdnêgo) após serem lançados numa fornalha ardente.

A segunda adição ao livro de Daniel encontra-se nos capítulos 12 e 13. Na história Daniel soluciona um caso envolvendo dois anciãos que tentaram violentar a bela Suzana.

O terceiro e último acréscimo ao livro de Daniel é uma crítica à idolatria (cap. 14). Com sua astúcia, Daniel mostra ao rei que os ídolos não comiam as oferendas a ele dedicadas. Daniel desmascara os sacerdotes que as retiravam por uma porta secreta. Ao final da história o rei entrega o ídolo a Daniel que o destrói.

Acréscimos ao livro de Ester – Após ser avisado em sonho de uma conspiração para matar o rei e surpreender dois eunucos tramando o golpe, o judeu Mardoqueu faz uma denúncia ao monarca, que manda matar os dois homens. Mas por trás do plano estava Amã, um alto funcionário da corte, que querendo se vingar convence o rei a escrever uma carta ordenando a matança dos judeus. A bela rainha Ester, sabendo do ocorrido, se apresenta diante do rei e desmaia, fazendo-o mudar de idéia. Uma nova carta é escrita e Amã acaba enforcado por ordem do rei.


Nota:
[1] Tradução livre do autor. Texto original: “Por literatura apócrifa judía entendemos un conjunto de obras judías (ou, excepcionalmente, judeocristianas) escritas em el período compreendido entre el año 200 a.C. y el 220 d.C., obras pretendidamente inspiradas e referidas, ya sea como autor o como interlocutor a un personaje del Antiguo Testamento”. MACHO, Alejandro Diez. Introduccion general a los apocrifos del Antiguo Testamento - Tomo I. Madrid, Ediciones Cristandad, 1984, p.27.


Crédito da imagem:
ALLORI, Cristofano
Judith com a cabeça de Holofernes
1613
Óleo sobre tela, 120,4 x 100,3 cm
Royal Collection, Windsor

A TRANSMISSÃO DO TEXTO DO ANTIGO TESTAMENTO

Por Jones Mendonça

1. Introdução
Dificilmente os crentes se perguntam a respeito de como o texto bíblico do Antigo Testamento chegou até nós. Há entre os especialistas um relativo consenso de que os primeiros registros por escrito do Antigo Testamento ocorreram por volta do ano 1000 a.C., na época da monarquia[1]. Nessa época as tradições orais relativas aos patriarcas, ao êxodo e a tantos eventos ligados à fé e à história dos hebreus começavam a ganhar um registro por escrito. Alguns destes registros se perderam ao longo da história e serviram como fonte de informações para os escritores bíblicos, tais como o Livro das Guerras (Nm 21,14), Livro de Jasar (Js 10,13; 2Sm 1,18), Livro dos Atos de Salomão (1Rs 11,41), Crônicas de Samuel, Natã e Gade (1Cr 29,29), Livro de Semaías (2Cr 12,15), Crônicas de Jeú (2Cr 20,34) e Crônicas dos videntes (2Cr 33,19). Na época da monarquia o material utilizado para a escrita era o papiro. Mais tarde novos materiais mais duráveis e práticos para a leitura foram desenvolvidos. Veja a seguir as principais características de cada um deles.

2. Material utilizado na escrita da Bíblia
2.1 O papiro – O papiro é feito a partir de um junco que cresce principalmente no delta do rio Nilo. Após ser cortado em tiras, que eram justapostas em sentido horizontal e vertical, essas lâminas eram emendadas umas nas outras, formando um rolo. O papiro já era usado como material de escrita por volta do terceiro milênio antes de Cristo[2]. Os manuscritos de papiro são muito sensíveis à umidade, por isso só se conservaram em locais muito secos como o Egito. O mais antigo papiro cristão é um fragmento do Evangelho de João, datado no mínimo do ano de 125 d.C.[3]

2.2 O pergaminho – A maioria dos textos bíblicos disponíveis hoje, tanto do Antigo, como do Novo testamento, estão em pergaminhos, feitos a partir de peles de animais. Era usado desde o século V antes de cristo. As folhas do pergaminho ou papiro eram costuradas umas às outras, formando um rolo medindo de 10 a 12 metros, que eram enroladas em carretéis. Deriva do nome do rei Eumênio de Pérgamo, que governou entre 197-159 a.C. e teria desenvolvido esse novo material de escrita para sua biblioteca. Manteve-se como material de escrita até a Idade Média.

Os pergaminhos do Antigo Testamento mais antigos em hebraico foram encontrados entre os anos de 1947 e 1956 em algumas grutas em Qumran, às margens do Mar Morto, datados em geral de 100 a.C. - 100 d.C. Esses fragmentos ficaram conhecidos como Manuscritos do Mar Morto (MMM). De todos os livros que compões a Bíblia hebraica, apenas os livros de Neemias e Ester não foram encontrados em Qumran[4].

A confecção dos pergaminhos foi ficando cada vez mais luxuosa e sofisticada. São Jerônimo (340-420), um padre e doutor da igreja latina, protestou contra esse luxo:
“Tinge-se o pergaminho de cor de púrpura, traçam-se letras com ouro líquido, revestem-se de gema os livros, mas totalmente nu, diante das suas portas, Cristo está morrendo”[5].
“Que guardem, aqueles que quiserem, os velhos livros, ou os copiados em pergaminhos de púrpura, de ouro ou de prata, contanto que me deixem a mim e aos meus [...] códices menos belos que exatos”[6].

2.3 Os códicesPor volta do século II surgiram os códices. Ao invés de costuradas e enroladas em carretéis como nos pergaminhos, nos códices as folhas eram dispostas como num livro moderno.

Até a descoberta dos Manuscritos do Mar Morto, alguns dos mais importantes códices em hebraico eram os seguintes[7]:

- O Códice do Cairo dos Profetas C: É o manuscrito massorético mais antigo conhecido pelos eruditos. Foi escrito em Tiberíades e contém os Profetas Anteriores (de Josué a Reis) e Posteriores (de Isaías a Malaquias). Foi escrito por volta de 895 por Moisés ben Asher.

O Códice Or 4445 B: Também é conhecido como Códice Britânico e encontra-se atualmente no Museu Britânico de Londres. Abrange o Pentateuco com omissões. Foi escrito entre 925/930, talvez por Moisés ben Asher.

- O Códice de Alepo A (ou Codex Alepensis): Também conhecido como Códex aleph. Originalmente continha todo o texto do Antigo Testamento, mas um incêndio criminoso feito na sinagoga de Alepo em 1947 lhe causou danos irreparáveis. Foi escrito em Jerusalém por volta de 925/930 por Shelomoh ben Buya'a. Encontra-se atualmente na Biblioteca do Instituto Ben-Zvi, em Jerusalém.

- O Códice de Leningrado B19a (L): Foi escrito por volta do ano 1000 d.C. por Shemuel ben Yaakov no Cairo, Egito. Encontra-se atualmente na Biblioteca de São Petesburgo (antiga Leningrado). Este é o mais antigo manuscrito completo do Antigo Testamento e é a base da moderna Bíblia Hebraica Stuttgartencia (BHS). Uma nova edição do Antigo Testamento hebraico baseada neste códice está prevista para este ano: A Bíblia Hebraica Quinta (BHQ).

Todos os códices acima são conhecidos como Textos Massoréticos, desenvolvidos por um grupo de judeus conhecidos como massoretas (= transmissores e fixadores da tradição textual).

Notas:
[1] Cf. SICRE, José Luis. Introduccion al Antiguo Testamento. Estella: Verbo Divino, 2000, p.65.
[2] SCHNELLE, Udo. Introdução à exegese do Novo Testamento. São Paulo: Loyola, 2004, p.37.
[3] CARREZ, Maurice. A Bíblia, 1995, p. 77.
[4] FITZMYER, Joseph A. 101 perguntas sobre os manuscritos do Mar Morto. p. 32.
[5] Ep. ad Eust., 220, 32, PL, XXII, 418, Hilb, I, 193, 13 apud ARNS, Paulo Evaristo. Técnica do livro segundo São Jerônimo. Tradução de Cleone Augusto Rodrigues. Rio de Janeiro: Imago, 1993, p.28.
[6] Vulg., Job, Praef, PL, XXVIII, 1083, A, ed. Romana, p. 73,8 apud ARNS, Paulo Evaristo. Técnica do livro segundo São Jerônimo. Tradução de Cleone Augusto Rodrigues. Rio de Janeiro: Imago, 1993, p.28.
7] Cf. SIMIAN-YOFRE, Horacio. Metodologia do Antigo Testamento. p.45,46. ARCHER, Gleason L. Resenha critica de una introduccion as antigo testamento. p. 45.

Crédito da imagem:
Codex Giga
Biblioteca Nacional da Suécia

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

MURALHA ENCONTRADA EM JERUSALÉM PROVA A EXISTÊNCIA DO REI SALOMÃO?

Por Jones Mendonça

Há dois grupos que se destacam quando o assunto diz respeito as descobertas arqueológicas na Palestina. O primeiro é formado por céticos quanto a historicidade dos relatos bíblicos. A tendência deste grupo é sempre a de minimizar os achados arqueológicos.

O segundo grupo é formado por pessoas que superdimencionam os mesmos achados. Se um arqueólogo encontra um bordão de do século 13 a.C. logo se diz que essa é uma prova da existência de Moisés.

A história nos mostra que é sempre bem vinda uma certa cautela quando a interpretação que se dá a um achado. Quando foi descoberto por Gordon Loud e P. L. O. Guy um conjunto de estábulos em Megido ele mais que depressa foi atribuído a Salomão[1], já que a Bíblia cita as cavalariças deste rei. Mais tarde ele foi reconhecido como sendo do século seguinte[2].

A notícia divulgada pela imprensa de que “ruínas de três mil anos fornecem provas da existência do rei Salomão” é um exagero e tanto. Qualquer leitor mais atento ao conflito entre palestinos e judeus sabe que seria muito interessante para o governo israelense provar a existência de um reino unificado em Jerusalém no século X a.C.

Fugindo do ceticismo ou empolgação exagerados, o melhor é ficar atento ao avanço das pesquisas sem abandonar a fé ou a razão.


Notas:


[1] KELLER, Werner. E a Bíblia tinha razão. São Paulo: Melhoramentos, 1958, pp. 178-180.
[2] BRIGHT, John. História de Israel. São Paulo: Paulus, 2003, p.263.

RUÍNAS DE TRÊS MIL ANOS FORNECEM PROVA DA EXISTÊNCIA DO REI SALOMÃO


A arqueóloga israelense Eilat Mazar, da Universidade Hebraica, afirma que antigas fortalezas recém escavadas em Jerusalém sustentam a narrativa bíblica da época do Rei Salomão, no século X antes de Cristo.

Se a idade do muro estiver correta, a descoberta será uma indicação que Jerusalém era o lar de um governo forte e central que tinha recursos e força de trabalho para construir fortalezas sólidas há três mil anos. Esse é um ponto de disputa no meio acadêmico; enquanto alguns arqueólogos israelenses sustentam que o reino de Davi e Salomão realmente existiu, outros afirmam que a história dos reis judeus não passa de mito.
De acordo com Mazar, da Universidade Hebraica de Jerusalém, a descoberta “é a mais significativa construção que temos da época do Templo de Salomão em Israel. Isso quer dizer que no século X a.C. existia uma forma de governo estruturada o suficiente para construir grandes edificações”, afirma a pesquisadora. Baseado no que que ela acredita ser a idade das fortalezas e sua localização, a arqueóloga sugere que elas foram construídas por Salomão, o filho de Davi, e mencionadas no Livro dos Reis.

A descoberta inclui uma portaria monumental e um muro de 70 metros, localizados do lado de fora de onde ficam atualmente os muros da Cidade Velha de Jerusalém - onde, segundo o Antigo Testamento, foi construído o Templo de Salomão. O templo foi destruído pelos babilônios, reconstruído, renovado pelo rei Herodes há 2 mil anos e destruído novamente pelas legiões romanas no ano 70. O complexo agora guarda duas construções islâmicas importantes: a Cúpula da Rocha e a mesquita de Al-Aqsa.
O sítio arquelógico já é conhecido, mas Mazar reivindicou que suas escavações são as primeiras a render provas concretas da idade dos muros: cacos de cerâmicas, figuras de rituais, impressões no jarros com as palavras “ o rei” - atestando a existência de uma monarquia – e inscrições com nomes hebreus.
Aren Maeir, arqueólogo professor da Universidade de Bar Illan, perto de Tel Aviv, afirma que a idade da escavação ainda precisa ser confirmada por fontes independentes. Ainda que sejam mesmo do século X a.C, a prova de um reinado forte e centralizador na época continuaria “tênue”. Enquanto alguns veem os textos bíblicos dos reinados de Davi e Salomão como fato e outros rejeitam a hipótese inteiramente, Maeir afirma que a verdade deve estar em algum lugar no meio disso. “O relato bíblico do reino de Davi provavelmente não é uma ficção completa”, afirma o arqueólogo.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

UMA BREVE HISTÓRIA DO PROTESTANTISMO: DE MARTINHO LUTERO A EDIR MACEDO

Por Jones Mendonça

Desde que Cristo deixou fisicamente os apóstolos, a igreja teve que lidar com diversos problemas nos primeiros séculos: discordância em relação às suas doutrinas, perseguições, disputas pelo poder, etc. Após a conversão de Constantino ao Cristianismo, em 312, as perseguições deixaram de ser um problema. Concílios como o de Nicéia (325), foram organizados para estabelecer pontos doutrinários que viriam a se tornar dogmas cristãos aceitos até os dias de hoje. A escolha do bispo de Roma para governar a igreja, tendo primazia sobre os demais, deu coesão a igreja e até mesmo ao decadente império romano, após sua conquista pelos bárbaros. Com o tempo o poder papal ia crescendo. O Papa Bonifácio VIII, num discurso em 1303 comparou os poderes político (representado pelo rei) e religioso (representado pelo papa) com o sol e a lua [1]. Assim como a lua recebe sua luz do sol, argumentava Bonifácio, o imperador também deveria receber seu poder do Papa. Na visão de Bonifácio VIII a submissão de todos (inclusive o rei) ao Sumo Pontífice seria necessária para a salvação de toda a criatura.

No final da idade média alguns pontos doutrinários da igreja ainda não estavam muito claros. A doutrina da salvação da alma, por exemplo, era uma questão que dividia os teólogos. Por causa disso muitos pregadores mal intencionados abusavam do povo com a venda de indulgências. O mais famoso deles chamava-se João Tetzel.

Como a igreja acreditava possuir méritos excedentes de Cristo e dos santos (conhecidos de “tesouros da igreja”), achava que poderia utilizá-los para conceder indulgências, que era a supressão de uma penitência pública mediante o pagamento em dinheiro. Na penitência esperava-se o arrependimento do pecador, que precisava fazer uma reparação ou expiação por causa do castigo que o pecado acarretava. Segundo Edith Simon, a idéia de pagar pelo perdão com dinheiro foi derivada do conceito jurídico germânico, que substituía a punição corporal em decorrência de um crime pelo pagamento em dinheiro[2]. Para Marie-Therese Quinson a chamada “penitência tarifada” teve início no século VII[3].

As indulgências não eram bem vistas por humanistas como Erasmo de Roterdã, um intelectual muito à frente do seu tempo. Influenciado por eruditos como Erasmo, por reflexões pessoais de textos das Escrituras e por experiências paroquiais com fiéis que buscavam na penitência uma maneira de escapar do inferno, um proeminente frade Agostiniano chamado Martinho Lutero se impôs contra a venda de indulgências. No dia 31 de outubro de 1517 Lutero divulgou 95 teses que criticavam várias práticas que considerava enganosas no cristianismo popular. Estas teses foram o estopim para a Reforma Protestante. Após ler as teses de Lutero, o frade dominicano João Tetzel, exclamou: “Dentro de três semanas, farei esse herege ser lançado ao fogo”[4]. O máximo que conseguiu foi queimar suas teses.

Ao contrário do que muita gente pensa Lutero não quis dividir a igreja, mas reformá-la por dentro. Quando lemos suas famosas 95 teses, percebemos que imaginava que seriam acolhidas pelo Papa. Um outro erro comum é afirmar que Lutero pregou suas 95 teses no castelo de Wittenberg, quando na verdade não há provas seguras a respeito desse episódio. Segundo o historiador Martin Deher:
Em 31 de outubro de 1517, Martim Luder enviou aos bispos aos quais devia obediência – Jerônimo Schultz de Bandesburgo, e Alberto, de Magdesburgo. Não há provas concretas de que as tenha afixado [as 95 teses] na porta da igreja do castelo de Wittenberg, como anualmente lembra o mundo protestante. As teses foram enviadas a colegas que a difundiram, dando-lhes divulgação maior do que a esperada por Lutero. [5].
Além de Lutero, outros reformadores surgiram logo após a divulgação das 95 teses: Calvino (francês), Ulrich Zuínglio (Suíço) e o escocês João Knox. Na Inglaterra surgia a igreja anglicana, formada a partir do rompimento de Henrique VIII com a igreja de Roma.

O protestantismo se refere a todos os movimentos surgidos a partir das idéias da reforma, tais como o calvinismo, o anglicanismo e o luteranismo. O lureranismo se refere especificamente aos que adotaram a ortodoxia de Lutero. Houve muitas divergências entre os reformadores. No que diz respeito à ceia, por exemplo, Lutero e Zuínglio entraram em sério desacordo. Após uma tentativa de desfazer as diferenças, Lutero teria se recusado a fazer as pazes com o reformador suíço dizendo: “Não consentirei que o demônio me ensine coisa alguma em minha igreja”[6].

Da igreja anglicana surgiu um movimento chamado puritanismo, que pregava uma maior simplicidade do culto e dava maior valor à regeneração pessoal. Do movimento puritano e de grupos separatistas ingleses surgiram igrejas como a batista (no ano de 1606, em Gainsborough, Inglaterra) e a metodista (surgida de forma organizada em Bristol, em 1739).

Muitos vêem no metodismo a origem das igrejas pentecostais (1901), que enfatizam o recebimento de uma “segunda bênção”, o batismo com o Espírito Santo, cuja evidência é o falar em “línguas estranhas”[7]. O movimento pentecostal é conhecido como “segunda onda”. Outra característica do pentecostalismo é o milenarismo, que prega o retorno visível de Cristo a terra, governando os homens por um período literal de mil anos. No Brasil a maior e mais conhecida igreja pentecostal é a Assembléia de Deus.

O neopentecostalismo surge dentro do pentecostalismo e tem como características a ênfase na cura divina, na prosperidade material e nos rituais de exorcismo. Alguns estudiosos modernos se negam a ver o neopentecostalismo como tendo alguma relação com o pentecostalismo, denominando-o como pós-pentecostalismo[8]. Entre os neopentecostais é comum a vinculação entre o pagamento do dízimo e o recebimento de bênçãos. Nas palavras de Edir Macedo, por exemplo:
[o dízimo] É um compromisso que revela a fé prática. A de que Deus fica obrigado (grifo nosso) a esse compromisso com a pessoa que deu o dízimo...[9].
Dentre as igrejas neopentecostais mais conhecidas estão a Universal do Reino de Deus (Rio, 1977), a Igreja Internacional da Graça de Deus (Rio, 1980), a Comunidade Sara Nossa Terra (Goiás, 1976) e a Igreja Renascer em cristo (São Paulo, 1986). Dentre todas as igrejas neopentecostais a mais polêmica e criticada é sem dúvida a Igreja Universal do Reino de Deus. O sociólogo Ricardo Mariano expõe os principais motivos dessas críticas:
exposição constrangedora dos fiéis nos rituais de exorcismo, [...] invocar os deuses dos cultos afro-brasileiros, insistentes e nada recatadas pedidos de oferta, emprego do ritual da arruda, sal grosso e água fluidificada[10].
Após cerca de dois mil anos, o cristianismo ainda sobrevive, apesar de cada vez mais fragmentado. Um outro problema são os escândalos envolvendo líderes de igrejas cristãs, divulgados constantemente pela mídia. O último senso do IBGE, realizado no ano 2000, mostrou que o número dos “sem igreja”, ou seja, de pessoas que estão deixando de freqüentar regularmente uma igreja tem crescido vertiginosamente. São pessoas que querem se relacionar com Deus, mas que não conseguem vê-lo nas instituições religiosas. Diante desse quadro torna-se necessária uma reflexão feita a partir da própria história da igreja cristã, através da análise dos erros e acertos cometidos ao longo desses dois milênios. Criticar a igreja sem apresentar soluções não resolve o problema. Por outro lado, dizer que devemos nos calar diante dos escândalos envolvendo líderes religiosos é desconhecer o profetismo do Antigo Israel, que denunciava a plenos pulmões a injustiça, o roubo, a opressão e o luxo conquistado por reis e sacerdotes às custas dos pobres (Os 4,4; 5,1; Am 2,7; 4,1). É também desconhecer os elementos mais profundos da pregação de Jesus, fundamentados na convicção de que o Reino de Deus se opõe ao Reino da Injustiça. Uma igreja saudável se faz com diálogo, reflexão, oração e amor à obra de Deus.

Notas:
[1] GRINGS, D. Dadeus. História dialética do cristianismo. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1994, p. 146.
[2] SIMON, Edith. A reforma. Rio de Janeiro: José Olympio, 1971, p.35.
[3] QUINSON, Marie-Therese. Dicionário cultural do cristianismo. São Paulo: Loyola, 1999, p. 160.
[4] SIMON, Edith. A reforma. Rio de Janeiro: José Olympio, 1971, p.40.
[5] DEHER, Martin. A crise e a renovação da igreja no período da reforma. São Leopoldo: Sinodal, 1996, p. 26 (Coleção História da Igreja; v.3).
[6] SIMON, Edith. A reforma. Rio de Janeiro: José Olympio, 1971, p.58.
[7] OLIVEIRA, Raimundo F. de. A Doutrina Pentecostal Hoje. Rio de Janeiro: CPAD, p.34.
[8] Siepierski, Paulo. 1997. Pós-pentecostalismo e Política no Brasil, Estudos Teológicos, ano 37, no. 1
[9] LEMOS, Christina; TAVOLARO, Douglas. O bispo: A História Revelada de Edir Macedo. Larousse, 2007. p.166.
[10] MARIANO, Ricardo. Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil, 2005, p. 38.

INFORME DENUNCIA CAMPANHA MUNDIAL PARA NEGAR LEGITIMIDADE DE ISRAEL

JERUSALÉM — Israel enfrenta uma campanha mundial para negar sua legitimidade e destinada a isolá-lo e ocultar seu caráter judeu e democrático, assinala um relatório do Instituto de Pesquisa Reut de Tel Aviv apresentado ao gabinete israelense de Benjamin Netanyahu.

O documento, que faz uma análise de questões econômicas e sociais, critica principalmente as "manifestações hostis aos representantes israelenses em universidades estrangeiras ou nos estádios, pedidos de boicote aos produtos fabricados em Israel ou, inclusive, tentativas destinadas a deter e levar diante da justiça no exterior os dirigentes do Estado hebreu".

Esse informe acusa fundamentalmente a uma rede mundial de indivíduos, associações e organizações não governamentais pró-palestinas, árabes ou muçulmanas, geralmente vinculadas à esqueda e "cujo denominador comum é apresentar Israel como um Estado pária e negar seu direito à existência".

Fonte: AFP/Notícias Cristãs