terça-feira, 12 de janeiro de 2010

O FILME AVATAR: PANTEÍSMO HOLLYWOODIANO?

Por Jones Mendonça

Assisti na semana passada o tão comentado Avatar, do diretor James Cameron. Quem espera uma combinação perfeita entre efeitos especiais fantásticos e uma história criativa que fuja do óbvio, como na trilogia “Senhor dos Anéis” vai se decepcionar. Mas para os que desejam apenas se extasiar diante de belíssimas seqüências animadas por personagens computadorizados quase reais, certamente o filme será muito bem vindo.


Com um orçamento colossal, o épico de ficção científica transmite uma mensagem ecológica. O planeta Pandora, habitado pelos na’vis, esguios e enormes seres azuis, possui reservas de um mineral valioso que é desejado por um humano sem escrúpulos. Na tentativa de fazer com que seus habitantes saiam do local, a empresa desse ambicioso personagem constrói corpos artificiais semelhantes aos dos na’vis, que são controlados por humanos. Um desses humanos disfarçados se infiltra na comunidade tribal dos na’vis e acaba se apaixonando pela filha do chefe. Não é preciso dizer que depois disso ele se rebela contra a poderosa empresa e seu exército de mercenários.


Como estou sempre atendo a uma possível mensagem religiosa dos filmes (como em “O Senhor dos anéis”, “Star Wars” e “As Crônicas de Nárnia”), não pude deixar de notar alguns detalhes interessantes.


É curioso que o termo na’vi se pareça como o termo hebraico nabi=profeta (principalmente porque no hebraico o b e o v são diferenciados apenas por um pequeno ponto). Seriam os na’vis enviados de Deus para uma humanidade capitalista, incapaz de enxergar o seu próprio planeta como extensão de si mesmo? Outra particularidade em relação ao hebraico é o nome da divindade dos pandorianos – Eywa, Mãe de todos. Nas Bíblia em português o termo hebraico aváh, é traduzido por Eva (na versão inglesa o termo é parecido: Eve).


Gn 3,20 – “Chamou Adão à sua mulher Eva [חַוָּה], porque era a mãe de todos os viventes”.


Muitos sites cristãos têm criticado o filme por sua suposta mensagem panteísta, já que a divindade dos na’vis parece se confundir com o próprio planeta Pandora. Alguns sugerem apologia a wicca ou a New Age, mas não seria isso um exagero?


Para quem não sabe, o panteísmo prega que Deus e o cosmos são a mesma coisa. Assim, todos os animais, vegetais e minerais seriam facetas de uma mesma realidade: Deus é tudo e tudo é Deus. Mas será que no filme Eywa=Pandora, ou muito mais do que isso?


O cristianismo sempre enfatizou que Deus e o cosmo são coisas distintas, já que o livro do Gênesis fala de uma criação (ou ordenação) a partir da palavra de Yahweh (recentemente a criação ex nihilo foi questionada num artigo da teóloga holandesa Ellen Van Wolde). Mas vale lembrar que teólogos católicos como Teilhar de Chardin, buscaram harmonizar transcendência e imanência, utilizando o conceito krausiano panenteísmo[1], que defende que o mundo não é Deus, mas está contido em Deus. Desse modo é possível construir uma visão não tão pessimista do mundo, como geralmente ocorre no cristianismo tradicional.


Fica a pergunta: é possível conceber o universo como sendo parte de Deus? É bem verdade que a teologia joanina sempre enfatizou a destruição do mundo criado, dando origem ao que chamava de “Nova Jerusalém”. Mas a teologia paulina, ao contrário, fala da restauração de todas as coisas (pleroma).


Teísmo, panteísmo, panenteísmo... deixemos todas essas questões teológicas de lado. Que fiquem as estonteantes e hipnóticas seqüências do filme e sua bela mensagem: precisamos preservar o nosso planeta.




Nota:
[1] O termo panenteísmo foi cunhado por Karl Christian Friedrich Krause, daí a expressão “krausiano”. A concepção panenteísta do mundo recebeu forte influência do neoplatonismo de Plotino (205-270 d.C.), fisólofo nascido em Licópolis, Egito.

8 comentários:

  1. Já foi muito discutido que o cristianismo coloca o homem em uma posição, muito mal interpretada, de centro do universo. Fazendo com que grande parte dos cristãos se ache no centro das atenções divinas, esquecendo-se de cuidar do planeta e dos animais, que aliás, também são desprezados erroneamente por, segundo a bíblia, não terem alma. E por aí vai...
    Acho que estes cristãos que criticam o Panteísmo tinham que sair da sombra da cruz e olhar para o mundo sem seus olhares tendenciosos. Antes uma multidão de panteístas do que uma de cristãos e ateus ignorantes como os que temos hoje.
    Acho que o mandamento "Honra teu pai e tua mãe" já compreenderia também a natureza se os cristãos aceitassem a mensagem bonita do Panenteísmo.
    Sobretudo, nossos índios foram os Na'vis de ontem e sabe-se lá quem serão os de amanhã, já que a ordem é catequizar.

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  3. Nós cristãos entendemos que Deus é ao mesmo tempo Transcendente e Imanente, ou seja, Deus está acima de todas as coisas e ao mesmo tempo Ele se relaciona com as suas criaturas de forma pessoal e particular. Percebemos no filme Avatar que a idéia de que a Mãe Natureza é a mantenedora da vida dando assim a harmonia que a natureza precisa é um tanto contrariador, pois nós entendemos que Deus é quem mantém todas as coisas pela palavra do seu poder: "O qual, sendo o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa, e "sustentando todas as coisas" pela palavra do seu poder,..." (Hebreus 1:3a). (grifo meu). Observe que se Deus não mantiver todas as coisas não possibilidade de vida na terra. Reconhecemos como cristão que precisamos preservar a natureza e isso estamos fazendo. Agora endeusar a criação mais do que o seu criador, isso é inadmissível. Os homens perdidos em seus devaneios estão idolatrando mais a criatura do que seu criador: (Romanos 1:25) - Pois mudaram a verdade de Deus em mentira, e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém. Entendemos que pela palavra de Deus que Deus criou todas as coisas com objetivos especificos, conforme veremos a seguir: NA CRIAÇÃO DE DEUS TUDO TEM UMA RAZÃO DE EXISTIR
    Deus não fez nada sem uma razão de ser ... tudo tem um sentido ... tudo converge para um objetivo...
    Na sua matricial eterna cada coisa se encaixa nos seus propósitos pré-estabelecidos... entendê-los é o nosso desafio!
    Ao Sol deu-lhe o dever de iluminar o dia... a Lua foi-lhe atribuída à tarefa de clarear a noite... as estrelas foram incumbidas a honra de servir de companheiras e ornamento para os céus... as plantas foram criadas para que através da fotossíntese possibilitasse a troca do Gás Carbônico pelo Oxigênio...enfim, toda a sua criação foi criada para um objetivo e finalidade... até as coisas mais simples e, aparentemente, insignificantes têm sua existência objetivada...
    E nós seres humanos? Porque o Altíssimo nos criou? Tão diferentes... tão especiais... sim, tão peculiares... há uma razão para tudo isso... Ele nos fez para LOUVOR E GLÓRIA SUA! Aleluia!... Ele nos fez para que fôssemos seus amigos mais chegados... daqueles que pudéssemos contar os nossos maiores segredos... daqueles com os quais tivéssemos a ousadia de dizer bem baixinho - PODE CONTAR COMIGO AMIGO!... somos o ápice de sua criação terrena... Honremos pois o MESTRE!

    Fim!

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  4. Anônimo, você entendeu bem a diferença entre PANTEÍSMO e PANENTEÍSMO?

    No seu discurso apologético você parece criticar o panteísmo. Mas qual a sua opinião em relação ao panenteísmo?

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  5. Acho não é sério quem quer definir a vontade do Criador do Universo pelo que está escrito em um livro.

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  6. Shalom,

    É bom saber que não estamos sozinhos em nossa maneira de pensar. O filme Avatar (talvés da palavra hebraica "opressão" está todo em código, misturando o judaísmo com a ficção. Sou professor de Yvrit e hebraico e meus alunos viram a mesma coisa.
    Valter Alexandre Pinheiro de Oliveira
    vaposhalom@ig.com.br

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  7. Valter,

    Eu é que fiquei surpreso por saber que não fui o único a notar essas insinuações em Avatar. Outro filme que trabalha bem com termos hebraicos é Star Wars. Também pudera, com a assessoria do grande mitólogo Joseph Campbell, era de se esperar uma obra magnífica.

    Obrigado pelo comentário. Shalom!

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