terça-feira, 26 de janeiro de 2010

O POLÊMICO ÓSTRACO DE QEIYAFA

Por Jones Mendonça

Após a divulgação de que Gershon Galil, presidente do Departamento de História Judaica na Universidade de Haifa, teria decifrado um óstraco (fragmento de cerâmica) capaz de confirmar que o Reino de Israel existia no século 10 a.C. (o tempo do Rei Davi), muitos estudiosos tem se manifestado.

Para James Hoffmeier, professor de Antigo Testamento na Trinity Evangelical Divinity School:
"Sempre que um texto é encontrado por arqueólogos em Israel, é uma grande notícia porque tais achados são tão escassos [...] no entanto, os estudiosos são normalmente cautelosos sobre os textos que possam lançar luz sobre a Bíblia, com medo de tirar a conclusões infundadas. Entanto, este ostracom [...] é muito significativo"[1].
Chris Rollston, um filólogo que ensina o Velho Testamento e Estudos semitas na Emmanuel School of Religion, em Johnson City, Tennessee, acredita que anúncios sensacionalistas como os de Galil são geralmente reavaliados após um estudo mais profundo. Apesar de considerar a tradução de Galilespeculativa, ele entende que:
"esta é uma inscrição muito importante, independentemente se ela foi escrita em fenício ou hebraico (grifo nosso) antigo."
Rollston diz que o texto não apresenta dados suficientes para provar que a inscrição pertença a uma língua ou outra.

William Schniedewind, um professor de Estudos Bíblicos e línguas semíticas na UCLA, reconhece o valor do achado, mas salienta suas limitações.
"Esta é uma prova importante de que a escrita alfabética linear é mais antiga, mas revela pouco sobre a administração Davídico-salomônica”.
Schniedewind acredita que a cidade fortificada que está sendo escavada em Kuttamuwa é realmente um forte testemunho do poder político do reino israelita do século 10.

Aren Maeir, um arqueólogo israelense que está escavando as ruínas da grande cidade filistéia de Gath, seis quilômetros a oeste de Kuttamuwa, está assistindo a escavação vizinha com grande interesse. Ele vê a fortificação de Qeiyafa como uma forte evidência de um governo centralizado israelita.
"Eu acredito que o tamanho de Gate nos séculos 100 - 9o refletem não só a sua dimensão e importância, mas também, muito provavelmente, o fato de que a classe política de Gate existia em relação a uma comunidade política concorrente no leste [...] Agora, os achados do Qeiyafa parecem fornecer evidências arqueológicas fortes para este reino israelita".
Mas se parece haver um relativo consenso quanto ao valor do fragmento, o mesmo não pode ser dito em relação à sua tradução. A informação de que Galil teria decifrado o fragmento tem sido questionada por especialistas como Seth Sanders, professor de Religião no Trinity College em Hartford, Connecticut, e autor de um novo livro chamado The Invention of hebraico. Ele explica afirma que:

"O problema não é que suas leituras são impossíveis [mas] nenhuma das partes mais emocionantes de suas leituras [referindo-se a tradução feita por Galil] estão claras no texto".
As dificuldades de se traduzir um texto como esse são inúmeras. A tinta do fragmento é fraca, o texto é quebrado em muitos lugares e para piorar as línguas semíticas não possuíam vogais. Isso pode gerar traduções diferentes, de acordo com a escolha das vogais feitas pelo tradutor. Sanders atenta para o fato de que três epigrafistas israelenses apresentaram suas traduções para o fragmento, mas "nenhum deles encontrou o leque de palavras e idéias que Galil apresentou".

Compare abaixo a tradução feita por 
Galil Ageu Misgav:

Leitura de Galil:

1. Você não deve fazer [ele], mas a adoração [Senhor].
2. Juiz do escra [vo] e da viú [va] / Juiz do órf [ão]
3. [e] o estranho. Plei [teia] pela criança / invoca para o po [breou e]
4. a viúva. Reabilita [os pobres] nas mãos do rei.
5. Protege o po [bre ou e] o escravo / [sus] tenta o estrangeiro [2].

Leitura do epigrafista Ageu Misgav:

1. Não faça [ ] e um servo [...]
2. Juiz ... .. [ ] El (?) ...
3. El (?) E Ba'all
4. Pe [ssoa] n vingança será, rei YSD (de) G [ath (?)]
5. Seren(?) Um [...] a partir Gederot (?) [3]

Como se pode notar, as traduções são totalmente diferentes! O mais sensato neste momento é esperar que o fragmento seja analisado com mais profundidade (e imparcialidade).

Notas:
[1] Todas as citações (exceto as devidamente indicadas) foram retiradas do seguinte site:http://www.christianitytoday.com/ct/2010/januaryweb-only/13-11.0.html?start=1>. Aceso em 24jan2010.
[2] Texto original disponível em:http://www.msnbc.msn.com/id/34880397/ns/technology_and_science-science/ >. A tradução para o português foi feita pelo numinosum. Acesso em 24jan2010.
[3] Tradução aproximada de Ageu Misgav, apresentada porAren Maier em seu blog sob o título “The Tell es-Safi/GathExcavations Official (and Unofficial) Weblog”. A tradução para o português foi feita pelo numinosum. Texto em inglês disponível emhttp://gath.wordpress.com/2009/10/16/for-those-who-dont-know-any-biblical-hebrew/> acesso em 24jan2010.

Figura01:
Transcrição em hebraico moderno do fragmento, segundo Ageu Misgav.

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