segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

BATISMO E NUDEZ



A cidade de Ravena, Itália, preserva dois batistérios muito antigos, do século V, utilizados por comunidades cristãs teologicamente divergentes: “ortodoxos” e arianos. Em ambos ainda é possível observar dois curiosos mosaicos representando o batismo de Jesus. Neste da imagem (ariano), é possível ver Jesus com características andróginas, nu, ao centro, tendo à direita João Batista e à esquerda uma representação antropomórfica do Jordão. O mosaico concorda com os relatos de Hipólito, importante teólogo do século III, que registrou em sua “Tradição apostólica” o estranho costume cristão de batizar os candidatos completamente nus.


Jones F. Mendonça

NOÉ SEM CENSURA



Gn 9,20-29 diz que Nóe, muito bêbado após se exceder no vinho, deitou-se nu em sua tenda. Cam viu a nudez de seu pai e saiu para contar aos seus irmãos. Sem e Jafé evitaram ver a nudez de Noé e o cobriram com uma capa. A cena foi representada neste manuscrito do século XV (Furtmeyr-Bibel). Os artistas medievais não viram problema em expor Noé assim, do jeito que veio ao mundo.

Veja a página do manuscrito na qual foi pintada a cena aqui.


Jones F. Mendonça

sábado, 8 de dezembro de 2018

HISTÓRIA DO CRISTIANISMO COM ARTE

Um dos autores é católico, o outro, protestante. Desse diálogo nasceu um livro honesto, bem escrito, leve, didático. Como se não bastasse ainda é ricamente ilustrado. A capa exibe o Belíssimo “Ecce homo”, pintado por Antonio Ciseri (1871). O julgamento, numa perspectiva inovadora (de costas), mostra Pilatos ao centro, tendo Jesus à sua esquerda. A esposa de Pilatos, citada em Mt 27,19, aparece lamentando a condenação do Nazareno com a mão sobre o ombro de uma serva. A tradição soube criar para ela um nome: Santa Cláudia.  





Jones F. Mendonça

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

A BÍBLIA, OS GÊMEOS E A LUTA PELA PRIMOGENITURA

Boa parte das pessoas conhece a história da luta entre os gêmeos Esaú e Jacó no ventre de Rebeca (Gn 25,24-26): Jacó (yakov), o "usurpador" (yakav) segura o "calcanhar" (akev) de Esaú, na tentativa de nascer primeiro. Já crescido, Esaú, o “avermelhado”, vende sua primogenitura por um punhado de "cozido vermelho". Mas há outra história, muito parecida.

Mais adiante, em Gn 38, 27-30, outros gêmeos lutam pelo privilégio da primogenitura: Peretz e Zarah, filhos da relação incestuosa entre Tamar e Judá. De acordo com o texto, Zarah põe a mão para fora, indicando que nasceria primeiro. Em seu braço é colocada uma fita vermelha. Mas Peretz abre uma “brecha” (paratz) e nasce na frente de seu irmão.

Nas duas histórias dois gêmeos lutam. Nas duas histórias aquele que é indicado pela cor vermelha perde a primogenitura. Nas duas histórias os trocadilhos são usados para explicar o nome de uma personagem.

A primeira história explica a proeminência de Israel (Jacó) sobre Edom (Esaú). A segunda a proeminência da família de Peretz - ancestral de Davi (Mt 1,3-6) - sobre os demais filhos de Judá. As duas narrativas - é fácil concluir - possuem caráter etiológico.



Jones F. Mendonça