quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

OS JOELHOS NA ANATOMIA DA BÊNÇÃO E DOS AFETOS


1. A palavra “joelho” em hebraico é “berekh” (ברך), cuja raiz é a mesma de “barakh”, “abençoar”. Considerando que o hebraico é uma língua extremamente visual, há boas razões para supor que há vinculação entre o ato de abençoar e a imagem de uma pessoa ajoelhada. Seria esta a posição exigida do candidato a palavras de bendição?

2. Além de aparecer relacionado ao ato de abençoar, os joelhos também ganham espaço importante no universo simbólico. Quando Raquel se vê incapaz de gerar filhos, diz a Jacó: “Eis minha serva Balah...que ela dê à luz sobre os meus joelhos. Por ela também terei filhos” (Gn 30,3). Ou seja, “o útero é dela, o filho, todavia, será acolhido em meus joelhos, será meu”.

3. Por vezes os joelhos são incorporados à linguagem corporal dos afetos, do cuidado. Em 2Rs 4,20, por exemplo, um menino adoecido permanece “sobre os joelhos de sua mãe” até que morre, sendo ressuscitado mais tarde pelo profeta Eliseu (4,35). A imagem à qual se deseja aludir é a de uma mãe, sentada, tendo sobre os joelhos uma criança enferma sob seus cuidados (Cf. Is 66,12).

4. Os joelhos também podem servir para revelar falta de rusticidade para a batalha (Jz 7,5), indicar humilhação (2Rs 1,13), fraqueza (Jó 4,4), submissão (Ex 34,8; Is 45,23) e medo (Ez 21,7; Na 2,10). Em sentido concreto, como articulação da perna, os joelhos aparecem, por exemplo, em Dt 28,35. Voltemos aos joelhos na anatomia do cuidado.

5. Gn 48, 8-12 Efraim e Manassés, filhos de José, são afetuosamente abraçados e beijados por Jacó e acomodados sobre seus joelhos. O livro de Juízes situa o momento em que Sansão revela suas fraquezas enquanto relaxava deitado sobre aconchegantes joelhos de Dalila (16,19). Gn 50,23, querendo enfatizar longevidade de José, diz que seus netos nasceram “sobre seus joelhos”.

6. Na Bíblia Hebraica os joelhos falam.



Jones F. Mendonça