1. De acordo com uma história contada no livro bíblico de Juízes, indivíduos da tribo de Efraim (Oeste) se distinguiam dos israelitas que viviam em Galaad (Leste) pelo sotaque, uma vez que não conseguiam diferenciar o som da consoante “shim” (שׂ) – som de “SH” – da consoante “samekh” (ס) – som de “SS”. Assim, para saber se uma pessoa era benjamita bastava pedir para que pronunciasse uma palavra como “shibolet” (שׂבלת). Se ela dissesse “sibolet” (סבלת) sua identidade era imediatamente revelada. Usando este artifício, o gaaladita Jafté teria descoberto e matado 42 mil homens de Efraim (Jz 12,1-7).
2. O Novo Testamento registra diferenças de sotaque entre nortistas, como Pedro, e sulistas, como os sacerdotes de Jerusalém. Os evangelhos nos informam que Pedro foi denunciado por seu sotaque ao tentar negar que conhecia Jesus, o “Nazareu”: “De fato, também tu és um deles; pois o teu dialeto te denuncia” (Mt 26,73; Mc 14,70; Lc 22,59). Mas será que a diferença também tinha a ver com a pronúncia do “SH”? Não neste caso. Sabemos, graças a uma antiga anedota, que os galileus não conseguiam articular muito bem as chamadas “consoantes guturais” no dialeto aramaico falado na Palestina do I século.
3. Essa falta de habilidade impedia que os galileus conseguissem distinguir entre “hamâr” (burro), “hamar” (vinho), “‘amah” (lã) e “immar” (cordeiro), por isso se tornaram alvo de chacota entre os comerciantes de Jerusalém: "Ô galileu, tolo, o que tu precisas é de uma coisa para montar (hamâr, um burro), de algo para beber (hamar, vinho), algo para fazer uma roupa ('amar, lã), ou algo para um sacrifício no Templo (immar, cordeiro)?”. Esta curiosa zombaria aparece registrada na Mishah (bEribin, 53b) e é comentada por Geza Vermes em “As várias faces de Jesus” (Record, 2006, p. 326).
*“Shibolet” significa “espiga”, como em Jó 24,24: “como a cabeça da ESPIGA são cortados”, referindo-se aos “ímpios”.
Jones F. Mendonça
Nenhum comentário:
Postar um comentário