1. No final da década de 70, Elaine Pagels tornou-se mundialmente famosa com a publicação de “The Gnostic Gospels”. A autora é especialista em gnosticismo, uma corrente religiosa que nasceu no contexto do cristianismo primitivo e foi visto como uma ameaça à ortodoxia cristã primitiva. Neste ano, no ápice de sua fama, Pagels escreveu “Miracles and Wonder” (Doubleday, 2025, 336 p.), ainda sem tradução em português. Desta vez o foco de seu trabalho é a figura de Jesus. Com certeza o livro despertará muitas polêmicas.
2. Quero aproveitar para falar de um livro menos conhecido de Pagels, publicado em 1995: “The Origin of Satan: How Christians Demonized Jews, Pagans, and Heretics”. Tal como sugere o título, o livro procura explicar como a figura de Satanás, relativamente insignificante no Velho Testamento, ganhou proeminência e importância na visão dos primeiros cristãos, que passaram a atribuir influência demoníaca a todos aqueles que eram vistos como opositores de sua fé, como judeus, “pagãos” e “heréticos” (também vale ler: "Quem matou Jesus?", de John Dominic Crossan).
3. Passaram-se dois mil anos, meu caros, e esse tipo de recurso ainda funciona, por isso o livro merece ganhar espaço nas prateleiras de quem está interessado em compreender algumas das raízes do atual contexto religioso evangélico. O dualismo gnóstico e depois maniqueísta fez sucesso no passado e sua força ainda é visível nos discursos inflamados de líderes fundamentalistas que têm transformado seus púlpitos em zona de guerra político-partidária, em prostíbulo metafísico-eleitoral (eita, que agora exagerei!). E nesses discursos o "Zarapelho", o "Satanás", é sempre o outro.
Jones F. Mendonça
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