segunda-feira, 18 de agosto de 2025

DOIS PAPAS


1. Sei que estou bastante atrasado, mas só agora parei para assistir "Dois Papas", dirigido por Fernando Meirelles e estrelado por Jonathan Pryce e Anthony Hopkins. Três impressões negativas: 1) "Conclave", também sobre o papado, é muuuuito melhor; 2) Ratzinger é retratado no filme quase como um evangélico fundamentalista ao estilo Augustus Nicodemus ou Franklin Ferreira; 3) O diálogo teológico travado entre os dois sacerdotes no jardim de inverno do Vaticano é decepcionante, inverossímel em todos os sentidos.

2. Sobre o ponto 2: Bento XVI era um ferrenho crítico de John Harwood Hick, teólogo presbiteriano muito conhecido por sua interpretação relativista da realidade religiosa, fortemente influenciada pela distinção kantiana entre "fenômeno" ( = a realidade percebida pelos sentidos) e "número" ( = a realidade em si, incogniscível). Assim, critica Hick por supor que o ser humano está impossibilitado de obter qualquer conhecimento metafísico. Nesse sentido, Ratzinger, de fato, aparece alinhado às ideias cultivadas por setores evangélicos fundamentalistas.

3. Acontece que a produção teológica de Ratzinger é muito mais sólida e profunda. Nos diálogos travados com Francisco no jardim, Ratzinger expõe argumentos pobres, ingênuos, até infantis, para justificar sua postura conservadora, sua crítica à modernização da Igreja. Quem estiver interessado no pensamento de Ratzinger a respeito do tema, eu sugiro "Relativismo teológico: um novo desafio para a fé", texto dirigido aos Presidentes das Comissões Episcopais Latino-Americanas para a Doutrina da Fé, em conferência realizada em Guadalajara, em 1996.

4. Acredito que Ratzinger está errado em muitos pontos. Mas o filme expôs uma caricatura do teólogo. Foi injusto. Decepcionante.



Jones F. Mendonça

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