
1. A palavra hebraica “messias” (משיח) ganha ao longo do Antigo Testamento sentidos diferentes, que variam de acordo com a situação história do momento. Inicialmente o “messias” ( = o ungido) era o rei. Quando a monarquia foi extinta após a conquista de Jerusalém por Nabucodonosor, em 587 a.C., o título pôde ser aplicado a um governante estrangeiro como Ciro, o persa, chamado de Messias em Is 45,1: “Assim diz Yahweh ao seu messias, a Ciro que tomei pela destra”. A religião sempre saberá atualizar e ressignificar suas crenças.
2. Assim que o povo de Judá retornou do exílio, o título voltou a ser aplicado a um indivíduo local: Zorobabel. E como Zorobabel era neto de Zeconias, penúltimo rei de Jerusalém, sobre ele foram depositadas as esperanças messiânicas. Acontece que o livro do profeta Zacarias menciona dois messias: Zorobabel, filho de Salatiel, e Josué, o sumo sacerdote (as “duas oliveiras”, cf. 4,14). Josué inclusive recebe uma coroa: “Pegue a prata e o ouro, faça uma coroa, e coloque-a na cabeça do sumo sacerdote Josué, filho de Jeozadaque” (Zc 6,11).
3. A imagem do messias-sacerdote foi se consolidando no período pós-exílico, uma vez que o papel dos sacerdotes como líderes da comunidade judaica foi se fortalecendo cada vez mais. Entre os judeus da comunidade de Qumran, por exemplo, a figura do sacerdote passou a ocupar um papel mais importante que o do descendente de Davi como encarnação do messias. Na Regra da Comunidade (1QS), documento também conhecido como Manual da Disciplina, o “messias sacerdotal” recebe prioridade sobre o “messias davídico”.
4. A Epístola aos Hebreus, no Novo Testamento, resgata esta tradição ao tratar Jesus como “sumo sacerdote”, como mediador imaculado “que atravessou os céus” (Hb 4,14). Todas as religiões – não importa onde, não importa quando – são afetadas pelo sopro inexorável da ressignificação.
Jones F. Mendonça
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