Em
“A queda da casa de Usher”, Allan Poe expõe com muita maestria todo o seu talento para escrever histórias extraordinárias. Há no meio do conto um poema. Não é um texto que eu aconselharia a alguém em estado depressivo. O
livro, com uma coleção de contos, foi um presente de minha tia Lucia ao meu irmão mais velho (agosto de
1984). Hoje ele mora em outra cidade e o livro permanece em minha estante. Eis
o poema:
O
PALÁCIO ASSOMBRADO
I
No mais verde de
nossos vales,
habitado por
anjos bons,
antigamente um
belo e imponente palácio
- uma palácio
radiante – se erguia.
Nos domínios do
rei Pensamento,
lá se achava
ele!
Jamais serafim
espalmou a asa
sobre um
edifício só metade tão belo.
II
Estandartes
amarelos, gloriosos, dourados,
sobre o seu
telhado ondulavam, flutuavam.
(Isso, tudo
isso, aconteceu há muito,
muitíssimo tempo.)
E em casa brisa
suave que soprava,
naqueles doces
dias,
ao longo dos
muros pálidos e empenachados,
se elevava um
aroma alado.
III
Caminhantes que
passavam por esse vale feliz
viam, através de
duas janelas iluminadas,
espíritos que se
moviam musicalmente
ao som de um
alaúde bem afinado,
em torno de um
trono onde, sentado,
(Porfirogênito!)
com majestade
digna de sua glória,
aparecia o
senhor do reino.
IV
E toda
refulgente de pérolas e rubis,
era a linda
porta do palácio,
através da qual
passava, passava e passava,
a refulgir sem
cessar,
uma turba de
ecos cuja grata missão
era apenas
cantar,
com vozes de
inexcedível beleza,
o talento e o
saber de seu rei.
V
Mas seres maus,
trajados de luto,
assaltaram o
alto trono do monarca;
(ah, lamentemo-nos,
visto nunca mais a alvorada
despontará sobre
ele, o desolado!)
e, em torno de
sua mansão, a glória,
que, rubra,
florescia,
não passa,
agora, de uma história quase esquecida
dos velhos
tempos já sepultados.
VI
E agora os
caminhantes, nesse vale,
através das
janelas de luz avermelhadas, vêem
grandes vultos
que se movem fantasticamente
ao som de
desafinada melodia;
enquanto isso,
qual rio rápido e medonho,
através da porta
descorada,
odiosa turba se
precipita sem cessar,
rindo – mas sem
sorrir jamais.
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