Bolhas de sabão, de Jean Baptiste Simeon Chardin (1733-34) |
Calvino, teólogo francês dotado de uma incrível mente sistemática, defendia que todos os acontecimentos foram pré-ordenadas por Deus: a criação do mundo, o aparente caos da bolsa de valores de Nova York, a forma exuberante dos lírios, os espinhos dos ouriços, a gota de orvalho que cai de uma folha qualquer, a lâmina de sangue, a boca que morde, a mão que afaga. Linhas invisíveis escrevendo com muito arrojo e precisão o destino da humanidade.
Para o teólogo de Genebra, Adão pecou porque Deus quis que ele pecasse. Todavia, enfatiza o filho de Noyon, os descendentes de Adão e Eva foram entregues à danação eterna por seus próprios atos (uma antinomia). Decretum quidem terribile, ele mesmo confessa. Para solucionar o problema que o próprio Deus criou, decidiu enviar num ato de “amor” seu próprio Filho para morrer por aqueles que de antemão decidiu condenar e depois salvar (amor está entre aspas porque para Calvino Deus não possui emoções). Antropopatismo, mero sentimento humano projetado no divino.
Para o teólogo de Genebra, Adão pecou porque Deus quis que ele pecasse. Todavia, enfatiza o filho de Noyon, os descendentes de Adão e Eva foram entregues à danação eterna por seus próprios atos (uma antinomia). Decretum quidem terribile, ele mesmo confessa. Para solucionar o problema que o próprio Deus criou, decidiu enviar num ato de “amor” seu próprio Filho para morrer por aqueles que de antemão decidiu condenar e depois salvar (amor está entre aspas porque para Calvino Deus não possui emoções). Antropopatismo, mero sentimento humano projetado no divino.
Na teologia de
Calvino o primeiro Adão pecou porque tinha que pecar. O “segundo Adão”, Jesus, morreu
porque tinha que sofrer. O mundo é uma espécie de trem criado por Deus com
destino ao abismo. Os passageiros entraram no trem porque Deus quis que
entrassem. Ainda assim são responsabilizados pela catástrofe que se aproxima. Alguns
se esforçam por sair do féretro sob trilhos. Ajudam os mais fragilizados,
consolam os desesperados, tentam, em vão, encontrar um freio. Mas o misterioso critério
empregado por Deus para livrar os (poucos) eleitos da morte certa pode ser qualquer um,
exceto o esforço individual. Decretum
quidem terribile!
E assim vão
sendo construídas as teologias sistemáticas. Mãos que tecem, com fios de névoa,
sonhos surreais pintados em bolhas de sabão.
Jones F.
Mendonça
Olá Jones,
ResponderExcluirOs réprobos não são "filhos de Adão" como você colocou, não são a massa pecadora filhos do Adão caído. Réprobo é o outro lado da moeda da eleição, e isso é que ele chama de Decretum quidem terribile. Se há o eleito, há o réprobo. O eleito não é réprobo. Pelo calvinismo, um réprobo nunca será eleito, nunca terá salvação. Réprobo não é o mesmo que pecador, simplesmente. Réprobo não é sinônimo de pecador, mas antônimo de eleito. Eleito será um "ex-pecador", mas nunca um ex-réprobo. Percebe a diferença da sistemática de calvino quanto ao emprego dos termos?
Trocar alho por bugalhos, propositadamente ou não, resulta apenas na falácia do espantalho!
Olha mais uma aqui: Calvino não diz que Deus é desprovido de emoção, mas, sim, que Deus não tem as mesmas emoções que o homem tem, corrompidas pelo pecado. E ele estava falando da "ira", e você deu um salto lógico pra afirmar isso aí a respeito do amor... repense!
Repense, porque até para entender algo tão simples quanto fios de névoa em bolha de sabão dá trabalho!
Sequer usei a expressão réprobo. Lê de novo.
ResponderExcluirExpliquei, depois do parêntese, o que é um antropopatismo: projeção dos sentimentos humanos em Deus. Fazendo uma exegese do meu texto: "Deus não possui sentimentos... humanos". Acho que deu para entender.
Eu sei que você não usou a expressão réprobo, mas empregou a frase "Decretum quidem terribile" para referir-se aos filhos de Adão, o que calvino não faz.
ExcluirSim, Calvino recorre ao antropopatismo como explicação, mas isso está longe de dizer que para calvino, Deus não possui emoções!
"mas isso está longe de dizer que para calvino, Deus não possui emoções!" (sua frase).
ExcluirO que Calvino diz: "Portanto, assim como, quando ouvimos que Deus se ira, não devemos imaginar que exista nele qualquer emoção, mas, antes, devemos considerar esta expressão como tomada de nosso prisma" (Institutas I, XVII, 13).
Citei Calvino (que cita Romanos): "A Escritura proclama que na pessoa de um só homem todos os mortais foram entregues à morte eterna [Rm 5.12-18]". Confira: Institutas, III, XXIII, 7.
ResponderExcluirÉ o que eu disse de outro modo: "os filhos de Adão foram entregues à danação eterna".
O "decreto espantoso", obviamente, refere-se apenas aos que não foram salvos.
Opa... a coisa tá começando a clarear. Sem ficar solto começa a fazer sentido. Porque falar de H2O e depois dizer que não falou nem de água... sei lá.
ResponderExcluirSó repeti o que Calvino diz. Não pensei que tivesse que explicar.
ResponderExcluirSó repetiu, isso é verdade! Mas com um monte de lacunas para insinuar o que calvino não disse. Isso me lembra uma história num deserto... mas deixa pra lá!
ResponderExcluirVocê tem referência de algum escrito de Calvino (sejam as Institutas ou algum outro) em que ele afirme que Deus não possui sentimentos?
ResponderExcluirDeveria procurar conhecer um pouco mais a respeito de calvinismo.
ResponderExcluirLastimável a pobreza teológica do Jones!
ResponderExcluirAtaques pessoais não o ajudarão a tirar os argumentos de Calvino do lamaçal.
Excluir"Para o teólogo de Genebra, Adão pecou porque Deus quis que ele pecasse. Todavia, enfatiza o filho de Noyon, os descendentes de Adão e Eva foram entregues à danação eterna por seus próprios atos" por favor comprove com citação.
ResponderExcluir"Negam que subsista em termos explícitos que por Deus foi decretado que Adão perecesse por sua apostasia. [...] Se tão insípida invenção for aceita, onde estará aquela onipotência de Deus pela qual, segundo seu conselho secreto, o qual de nenhuma outra coisa depende, a tudo governa e regula?".
Excluir"ninguém poderá negar que Deus já sabia qual fim o homem haveria de ter, antes que o criasse, e que ele sabia de antemão porque ASSIM ORDENARA POR SEU DECRETO" (Livro III, cap. XXIII, sessão 7).