Durante toda a Idade Média só a Igreja tinha autoridade para interpretar a Bíblia. Quem discordasse dela geralmente recebia algum tipo de pena (podia ser lançado num caldeirão de azeite fervendo, por exemplo). O método de interpretação predileto era a alegoria (o texto era visto como tendo múltiplos sentidos). A Vulgata, Bíblia em latim produzida por Jerônimo no século IV, era considerado o texto oficial. Os livros de Macabeus, Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruc e as adições ao livros de Ester e Daniel eram lidos como se canônicos fossem. E assim foi.
Lutero,
influenciado por humanistas como Lourenzo Valla, Erasmo de Roterdã e alguns
padres e eruditos judeus, começou a dizer que a Bíblia interpreta a si mesma e
que o sentido literal, e não a alegoria, é o melhor método para extrair da
Bíblia sua mensagem. Tomou decisões corajosas: Abandonou a Vulgata e incentivou
a leitura da Bíblia a partir de textos nas línguas originais. Por fim defendeu
uma coisa chamada “cânon dentro do cânon”. Pôs a igreja e o mundo de ponta à
cabeça.
A
falta de uma autoridade suprema que pudesse dar a palavra final em questões de
interpretação bíblica gerou insegurança e discórdias sem fim. Seu “sacra scriptura sui ipsius interpres” deu ao indivíduo autonomia para
interpretar, auxiliado pela luz do Espírito, as sagradas letras do livro divino.
Mas a luz tinha cores e intensidades diferentes. Foi uma confusão só. O
abandono da Vulgada e o crescente interesse pelos textos nas línguas originais
(que chegavam aos montes vindos do decadente império Bizantino), gerou mais
insegurança, afinal, os manuscritos não eram iguais. A imprensa, surgida na
segunda metade do século XV e aperfeiçoada a cada dia, ajudou a espalhar as
novidades anunciadas pelo “herege” padre agostiniano.
Depois
apareceu Descartes achando que tudo tinha que ser submetido ao crivo da razão.
Então vieram Spinosa, Richard Simon, Lessing, Reimarus, Schleiermacher... Lutero
questionou a autoridade da Igreja. Esses caras começaram a criticar o próprio texto
sagrado. O ex-padre alemão lançou um caroço de feijão numa montanha recoberta
de neve. Nos séculos que se seguiram a pequena semente foi crescendo enquanto
rolava ladeira abaixo. Barth e Bultmann, no início do século XX, até que
tentaram reduzir os efeitos destruidores dessa enorme e implacável bola de neve.
Os liberais não gostaram. “São neo-ortodoxos”, disseram. Os fundamentalistas
também reagiram: “são liberais enrustidos”, arremataram. No decorrer do século
XX surgiram novas propostas de interpretação: estruturalismo, análise semiótica, análise narrativa, etc.
Século
XXI. O que o futuro nos reserva?
Jones
F. Mendonça
Todos procuraram uma forma de seguir o que está escrito na biblia mas não seguiram o que esta escrito: Jeremias 6:16 "Assim diz o Senhor: "Ponham-se nas encruzilhadas e olhem; perguntem pelos caminhos antigos, perguntem pelo bom caminho. Sigam-no e acharão descanso". Mas vocês disseram: ‘Não seguiremos!"
ResponderExcluirMateus 23:2-3""Os mestres da lei e os fariseus se assentam na cadeira de Moisés.
Obedeçam-lhes e façam tudo o que eles lhes dizem. Mas não façam o que eles fazem, pois não praticam o que pregam.
Elton,
ResponderExcluirPara "seguir o que está escrito" o leitor precisa compreender o que lê. Você, como todos aqueles que se aventuraram na tarefa de bem compreender, também está fazendo sua tentativa. É apenas mais um.