Por Jones F. Mendonça
Dia desses, eu assistia ao DVD de um músico brasileiro cujo cenário de fundo eram as construções estilo art nouveau idealizadas pelo arquiteto catalão Antonio Gaudi. Aquelas catedrais e esculturas pareciam ter sido criadas com o propósito de causar assombro naqueles que ousassem contemplá-las. A enorme riqueza de detalhes e as formas inusitadas que delineavam suas obras eram capazes de arrebatar suspiros do mais duro coração. A Catedral da Sagrada Família, por exemplo, começou a ser construída em 1883 e até hoje não ficou pronta, ficando a conclusão reservada para a posteridade. Os educadores cristãos deveriam se inspirar em Gaudi, sempre inovando, sempre se debruçando sobre o mar a fim de poder conhecer o que há além do horizonte.
Num de seus inúmeros belos textos, Ruben Alves compara os professores aos eucaliptos e os educadores aos jequitibás . Os eucaliptos são todos iguais. Produzidos em massa tem o seu fim na indústria. Já os jequitibás não tem uma forma padrão. Eles são fortes, sua madeira é nobre e ficam na lembrança daqueles que viveram ao seu redor. É verdade que jequitibás não são tão fáceis de encontrar, assim como araras azuis ou micos-leões-dourados, pois quando o habitat de um ser vivo não satisfaz a determinadas condições, fatalmente ele entra em extinção. Poucos são os que perseveram no cultivo de um jequitibá...
Em algumas igrejas evangélicas o modelo educacional não parece cultivar um ambiente adequado. Nelas é adotado um modelo arcaico, onde o professor é colocado como “dono da verdade”. Segundo Norvel Welch:
“O professor da Escola Bíblica Dominical é um intérprete da Bíblia. Ele foi nomeado para este fim. Ele fica ao lado do seu aluno para dar as melhores explicações possíveis, para esclarecer palavras e frases difíceis, para desaconselhar conclusões precipitadas e para evitar interpretações espúrias, forçadas ou prejudiciais” [1].
Como o jequitibá poderá sobreviver num ambiente assim, tão cruel, onde a beleza, a força de seus galhos e a sua forma única não encontram nutrientes para se desenvolver? Como preservar jequitibás onde há machados tão ávidos e insaciáveis? Nesse modelo, que Paulo Freire chama de “educação bancária”, a mente do aluno não é estimulada, pois quando se coloca o professor como intérprete da Bíblia, o que resta ao aluno, senão ouvir e assimilar sem questionar?
Os bereanos evengelizados pelo apóstolo Paulo, ouviram, conferiram, refletiram e mudaram sua opinião a respeito daquilo que acreditavam ser o correto. Os tessalonissenses, ao contrário, ouviram, rejeitaram e perseguiram aquele que desejava apenas lhes mostrar algo novo. Mas afinal, nosso desejo é cultivar jequitibás-bereanos ou eucaliptos-tessalonissenses?
O terreno muitas vezes parece árido, mas como disse Saint-Exupéry: “as sementes são invisíveis. Elas dormem no segredo da terra até que uma cisme de despertar. Então ela espreguiça, e lança timidamente para o sol um inofensivo galhinho" [2]. Caso ele esteja certo, resta-nos apenas regar e esperar, afinal, jequitibás não crescem de uma hora para outra. Ainda bem!
Referências bibliográficas:
[1] NORVEL, Welch. Melhor Ensino Bíblico Para Adultos, 1986, p.24.
[2] SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. O Pequeno Príncipe, 1987, p.22.
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