quinta-feira, 25 de junho de 2009

OS LIVROS HISTÓRICOS PARTE I - DA POSSE DA TERRA AO EXÍLIO

Dando continuidade à história de Israel (clique aqui para ler a edição anterior), passando pelos livros da Bíblia em ordem cronológica, veremos parte dos acontecimentos narrados nos livros históricos (de Josué à Reis).

INTRODUÇÃO

Após uma longa jornada pelo deserto o povo chega finalmente ao monte Nebo, na margem oriental do Jordão. O Pentateuco (conjunto dos primeiros cinco livros da Bíblia) é encerrado com a morte de Moisés neste monte, após contemplar a terra prometida aos seus ancestrais:

Então subiu Moisés das planícies de Moabe ao monte Nebo, ao cume de Pisga, que está defronte de Jericó; e o Senhor mostrou-lhe toda a terra desde Gileade até Dã [...] Assim Moisés, servo do Senhor, morreu ali na terra de Moabe, conforme o dito do Senhor” (Dt 34.1,5).

O livro de JOSUÉ – A conquista da terra (aprox. 1250 a.C)

O livro de Josué é iniciado com uma personagem cuja importância já era notada desde o livro do Êxodo: Josué, filho de Num. É interessante perceber que no início do livro de Josué, o já falecido Moisés é chamado de ebed (servo) de Deus, enquanto o iniciante Josué é chamado apenas de sharat (servidor ou auxiliar) de Moisés:

Depois da morte de Moisés, servo (ebed) de Yahweh, falou o Senhor a Josué, filho de Num,
servidor (sharat) de Moisés, dizendo
” (Js 1.1).

Josué, o braço direito de Moisés, tinha um grande desafio pela frente, conquistar a tão sonhada “terra que mana leite e mel”. Nas planícies da terra de Canaã, o cenário era de desordem política. Nessa época o Egito se encontrava enfraquecido, estando impossibilitado de patrulhar essa região. Ainda assim a tarefa de Josué não seria fácil, pois tinha que enfrentar as cidades fortificadas dos Cananeus, como Jericó e Ai e assumir o controle da terra. A luta entre cananeus e israelitas é um tema recorrente neste livro. Após inúmeras batalhas a frente do povo Josué finalmente recebe um tratamento igual ao de Moisés:

Depois destas coisas Josué, filho de Num, servo (ebed) de Yahweh,
morreu, tendo cento e dez anos de idade
” (Js 24.29).

Uma última curiosidade do livro de Josué está relacionada ao personagem Calebe. O famoso companheiro de Josué não era um israelita, ele era um Quenezeu (Gn 15.19; Nm 32.12). Seria Calebe um dos muitos que aderiram a revolta liderada por Moisés na fuga do Egito? Essa é uma pergunta que carece de resposta.

JUÍZES (aprox. 1200 a.C)

Com a finalidade de organizar essa sociedade recém formada, a terra conquistada foi dividida em doze tribos. Essas tribos levaram o nome dos filhos (em alguns casos, netos) de Jacó e ocupavam territórios independentes. A liderança das tribos foi outorgada aos juízes, líderes guerreiros que além de combaterem nas guerras decidiam assuntos ligados a questões religiosas, políticas, econômicas e sociais. Uma das tribos, os levitas, era composta por pessoas dedicadas exclusivamente ao culto à Deus. Eles não tinham um território próprio e viviam entre as outras tribos, vindo a ser o grande sustentáculo dessa nação recém formada.

Esse período, em que os israelitas viveram sob o governo de juízes foi muito conturbado. Foi um período marcado por guerras, corrupção e degradação religiosa, gerando um desejo no povo de ter um rei como as outras nações. Mas para implantar esse sistema monárquico seria preciso manter um exército, a realeza e o sistema administrativo, obrigando a que fosse implantado um sistema tributário, sustentado por meio de impostos. É nesse período conturbado que vivem duas mulheres virtuosas (Rute e Noemi), cuja história está narrada no livro de RUTE.

SAMUEL (aprox. 1050 a.C)

O primeiro rei veio da tribo de Benjamim: Saul. Ele foi um líder guerreiro e sua principal função foi a de organizar um exército, visando proteger o povo contra invasões de outros povos, mas principalmente dos filisteus, um povo que vivia próximo à costa (atual faixa de Gaza).

Após a morte de Saul (aqui começa o SEGUNDO LIVRO DE SAMUEL), um novo líder guerreiro surgiu: Davi. Ele havia adquirido fama no meio do povo, principalmente após vencer um guerreiro filisteu chamado Golias. Davi era da tribo de Judá, caçula entre oito irmãos e possuía virtudes que fizeram com que se tornasse uma figura carismática entre o povo. Davi mudou, de forma estratégica, o centro de comando dos israelitas de Gaad para Jerusalém, após expulsar os jebuseus, e passou a governar sobre todas as tribos com uma boa aceitação por parte do povo. Ele levou a arca da aliança para Jerusalém, pois representava a presença de Deus no meio do povo, e assim Jerusalém passou a ser o grande centro religioso do povo israelita. Apesar da disputa sangrenta entre seus filhos pelo poder, Davi conseguiu nomear Salomão como rei de Israel.

REIS (aprox 950 a.C)

Salomão reformulou a administração dividindo o reino em doze prefeituras, colocando em cada uma delas um administrador. Utilizou tecnologia estrangeira dos fenícios na construção de embarcações e artesãos de Tiro na construção do templo. Mas para pagar todas essas despesas era necessário aumentar os impostos, gerando muita insatisfação no meio do povo. As tribos do norte, mais afetadas com a alta tributação, começaram a se unir.

Após a morte de Salomão, Roboão, que era seu filho mais velho, assumiu o poder. Apesar da insatisfação do povo e da advertência dos anciãos de Judá, Roboão manteve os altos impostos, provocando uma grande intensa revolta popular. Jeroboão, um carismático líder rebelde que estava exilado no Egito retornou do exílio e foi aclamado rei do povo do norte, marcando o fim de um governo único em Israel.

O reino do norte foi marcado por grande instabilidade política, pois não havia, como no reino do sul, uma sucessão monástica (de pai para filho), o que permitia que o exército organizasse inúmeros golpes de Estado. Havia duas forças que ditavam as regras no reino do norte. A primeira era composta pelos militares e a segunda pela classe social mais abastada. Para que o povo tivesse voz ativa nesse governo seria necessária uma liderança com credibilidade. É nesse cenário que surgiram os PROFETASS[1]. Seu objetivo era lembrar aos governantes o propósito inicial de Deus, que era a liberdade do povo, pondo fim à opressão. Homens como OSÉIAS, AMÓS e ISAÍAS atuam nessa época denunciando a injustiça, a desigualdade social, a violência e o abuso de poder dos sacerdotes e governantes:

Como hordas de salteadores que espreitam alguém, assim é a companhia dos sacerdotes que matam no caminho para Siquém; sim, cometem a vilania” (Os 6:9) .

Ouvi esta palavra, vós, vacas de Basã, que estais no monte de Samária, que oprimis os pobres, que esmagais os necessitados, que dizeis a vossos maridos: Dai cá, e bebamos” (Am 4:1).

O Senhor entra em juízo contra os anciãos do seu povo, e contra os seus príncipes; sois vós que consumistes a vinha; o espólio do pobre está em vossas casas” (Is 3:14).

Na época da ocupação da terra, como já vimos, o Egito perdia cada vez mais seu poder sobre a Palestina. Foi sendo criado nessa região um vácuo de poder, dando a Palestina uma independência política que permitia relativo conforto aos governantes. Essa era de paz trouxe prosperidade os reinos de Israel, mas principalmente para o reino do Norte. Mas começou a surgir do leste um império poderoso, a Assíria. Apesar do alerta dos profetas, que anunciavam o juízo divino por causa da concentração de renda nas mãos dos poderosos, o reino do norte teve sua capital Samaria invadida, sendo seu povo levado cativo pelos assírios no ano de 722 antes de Cristo. A população restante foi misturada com outros povos, fazendo com que perdesse sua identidade política e religiosa. Por causa da perda da identidade religiosa surgiu a famosa rixa entre judeus e samaritanos.

No reino do sul a história se repetiu. Com o tempo, o império assírio se enfraqueceu e buscou formar uma aliança com o Egito na tentativa de impedir a ascensão de um novo império, a Babilônia. Sedecias, que na época era o governante de Judá, incitado por partidários da aliança com o Egito, armou uma revolta contra a Babilônia. Mas a tentativa foi em vão. Depois de um cerco prolongado, Jerusalém foi invadida, saqueada e incendiada pelos babilônicos (conforme alertado pelo profeta JEREMIAS), sendo os dirigentes levados cativos para essa terra distante. Esse episódio, conhecido como cativeiro babilônico, ocorreu no ano de 586 antes de Cristo e marcou profundamente a história dos judeus. O salmistra registra o lamento dos israelitas por estarem longe de sua terra:

Junto aos rios de babilônia, ali nos assentamos e nos pusemos a chorar, recordando-nos de Sião” (Sl 137.1).

Em seguida: “Do retorno do exílio à reconstrução do Templo”.


[1] É nesse contexto que surgem os primeiros profetas escritores. Outros vão surgindo ao longo da história de Israel. O profetismo inicia-se no século VIII com Oséias e Amós e vai até o século V com o profeta Malaquias.


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