Todos os opositores de Jó (como Sofar) tentam convencê-lo do seguinte: aos ímpios está reservada a dor; aos justos, as bênçãos. A fala de Sofar, em 20,5, revela essa visão de mundo ingênua, incompatível com a realidade:
[Não sabes] que o júbilo dos ímpios é efêmero
e a alegria do malvado só dura um instante?
A intenção de Sofar é convencer Jó de que seu sofrimento é causado por sua impiedade. Mas Jó rejeita qualquer tipo de vínculo direto entre impiedade e sofrimento, pois foi convencido pela experiência de que os ímpios muitas vezes prosperam:
[Os ímpios] cantam ao som dos tamborins e da cítara
e divertem-se ao som da flauta.Sua vida termina na felicidade,
descem em paz à mansão dos mortos" (21, 12-13).
Ora, se os ímpios podem prosperar – pensa Jó –, então os justos (como ele) também podem sofrer. E assim percebe que são vãs todas as tentativas de explicar sofrimento/gozo; injustiça/justiça como resultado necessário das ações humanas. Ele finaliza com esta inquietante pergunta:
Por que os ímpios continuam a viver,
e ao envelhecer se tornam ainda mais ricos?" (21,7)
Questionamento semelhante foi feito pelo profeta Jeremias, outro personagem que conheceu de perto o gosto amargo da dor e da injustiça:
“Por que prosperam os ímpios e vivem em paz os traidores?” (12,1).
A resposta de Jó e Jeremias ao sofrimento seria mais ou menos assim: “O Todo-Poderoso age na terra por caminhos misteriosos”. E só.
Jones F. Mendonça
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