sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

BÍBLIA, POESIA E INTERPRETAÇÃO

Boa parte dos leitores da Bíblia não se dá conta de que cerca de 1/3 do Antigo Testamento foi escrito de forma poética. Praticamente não há, na poesia hebraica, o emprego da rima (semelhança de sons), mas são abundantes os paralelismos (semelhança ou antagonismo de ideias). Compreender esse recurso faz toda a diferença na hora de interpretar um texto poético.

Abaixo um exemplo tomado de Gn 49,11-12. Trata-se de uma promessa feita a Judá por seu pai, Jacó:

A - “Liga à vinha seu jumentinho,
A’ - à cepa o filhote de sua jumenta,

B - lava sua roupa no vinho,
B’ - seu manto no sangue das uvas,

C - seus olhos estão turvos de vinho,
C’ - seus dentes brancos de leite”.

Repare que linha de baixo repete a ideia expressa na linha anterior. Nas linhas A e A’ o texto faz alusão a um animal de montaria (jumentinho/jumenta) amarrado a uma árvore (vinha/cepa).

A linhas B e B’ indicam que essa árvore tem abundância de frutos (vinho/sangue de uvas). Tamanha é a quantidade de frutos que as vestes (roupa/manto) ficam manchadas.

Nas linhas C e C’ vemos o resultado dessa abundância: olhos turvos (embriaguez) e dentes “brancos", metáforas usadas para indicar a abundância da terra.



Jones F. Mendonça

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