O sujeito fica
inconformado com o número absurdo de interpretações diferentes dadas a um mesmo
texto bíblico. Ele pensa: “ora, o texto deve ter um sentido apenas. Devo me
empenhar em descobrir seu sentido original, verdadeiro”. Então ele acaba
conhecendo dois métodos de interpretação que o acaso lhe põe às portas: o método histórico-gramatical e o histórico-crítico. Abre parêntesis: há
um grupo de exegetas que acha que o texto tem vida própria, fala o que der na
telha dependendo do momento e do lugar. É como massinha de criança, ou boneco
de ventríloquo, brinquedo maleável nas mãos do pequeno infante. Serve para divertir,
não para interpretar. Desses nem vale a pena falar. Fecha parêntesis.
No âmbito protestante os que adotam o
método histórico-gramatical possuem pressupostos metodológicos ancorados no
dogma, verdade que nasceu do voto "inequívoco" dos antigos. O texto parece dizer
“A”, mas na cartilha rota do dogma a orientação é que o texto diga “B”. Para
estes não há o que discutir, o dogma tem sempre razão. Trata-se de um método
bem parecido com o dos católicos. Entre eles se diz: Roma locuta, causa finita. No meio protestante, há os pequenos “papas
de tinta”. São, como os de lá, “infalíveis”.
A diferença? Falam pela boca dos líderes denominacionais.
Os que adotam o
método histórico-crítico buscam desnudar o dogma. Recusam-se a usar as lentes
da tradição viciadas pelo uso. Querem lentes novas e límpidas, capazes de ver
os pequenos fios entrelaçados que formam o texto. Desmontam, decompõem,
fragmentam o texto em mil pedaços. Sugerem que ele possui muitas texturas, rica
gama de cores, miríades de fios diferentes tecidos por uma centena de teares
manipulados por hábeis mãos que atravessaram séculos no exercício da arte de
fiar. O que descobrem geralmente não agrada os que foram iniciados no ofício de
repetir, copiar e manter. A sombra do dogma lhes obscurece a vista. Onde parecia
haver um camelo, vê-se que há um mosquito. Onde parecia haver um mosquito, vê-se que há um camelo. Papa de tinta, verdade em guache.
Jones F.
Mendonça
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