sexta-feira, 12 de julho de 2013

FUNDAMENTALISMO I

Fila no banco. Atrás de você um sujeito puxa assunto. Abre o jornal e mostra uma matéria falando a respeito do engavetamento do chamado projeto de “cura gay”. Reclama que homossexualidade sempre foi considerada uma doença, mas de uma hora para a outra um grupo de psicólogos simplesmente resolveu “mudar as coisas”. Acha um absurdo. Você respira fundo. Faz uma pausa. Comete o primeiro erro: dá conversa.

Pacientemente você diz a ele que até o início do século XVI todos pensavam que a terra era o centro do universo. A partir de Copérnico a coisa mudou. Não é que a terra deixou de ser o centro do universo. Ela nunca foi. Apenas descobriram que a coisa não era assim. Talvez  com o homossexualismo tenha acontecido o mesmo. O sujeito fica indignado: “Então você compactua com esses psicólogos pós-modernos, neo-ateus e também nega que a homossexualidade seja uma doença?”. “Veja”, você responde, “não quero entrar no mérito da questão, só estou dizendo que seu argumento é falho, afinal nossas opiniões sobre as coisas mudam, e...”. Ele interrompe: “Mas está na Bíblia!”. Você faz uma nova pausa. Respira fundo. Comete o segundo erro: alimenta a conversa. 

A fila está bastante longa. Ainda há muito que esperar. Você é (como eu) uma daquelas pessoas (ingênuas?) que acha que sempre é possível dialogar com outro ser humano. Encontra um novo ânimo: “Atente para o seguinte, você não conhece minha religião, logo não pode usar a Bíblia para me convencer do que quer que seja”. O sujeito não perde tempo: “Ah, eu sabia. Então além de gay, você é ateu!”.

Moral da história: nunca, jamais, em hipótese alguma, discuta com um fundamentalista.



Jones F. Mendonça

4 comentários:

  1. Jones, bem avisou o próprio Jesus - veja só! - para não jogarmos pérolas aos porcos...

    É sério. Algumas conversas não têm futuro nenhum. O mundo vai para frente quando algumas cabeças presas ao passado envelhecem e morrem. E veja, quase sempre os que estão no alto comando das diversas religiões são pessoas mais velhas. Não que isso seja necessariamente ruim, pois também não se deve abrir mão de todo um passado em troca da modernidade. Vez ou outra ocorre algum movimento cultural de redescoberta do passado. Mas ter tantos velhos no comando acaba por travar o mundo. Mas só até que morram.

    Ricardo

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  2. Ultimamente, evito discutir com gente fundamentalista. O problema não é discutir. Dá um certo prazer sádico em ver o sujeito perder as estribeiras. O problema é que hoje, se você levar uma porrada do sujeito (porque todos são destemperados, só que não loucos), ainda vai ter que responder judicialmente por ter injuriado, ofendido, discriminado (mesmo que não o tenha feito). Além de tudo, corre o risco de ser linchado, já que está fácil demais dar vazão ao ódio, com tanta impunidade. É o império dos boçais. A solução é dar a corda. O enforcamento é inevitável. Perdoe-me por postar como anônimo. Questão técnica. Prazer, Edgar rocha. E parabéns pelo blog. Utilidade pública!

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  3. Ricardo, não vejo relação entre fundamentalismo e velhice. Talvez o problema esteja na mentalidade, essa sim, velha, ultrapassada, obsoleta.

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  4. Edgar,

    Raramente ajo com sarcasmo enquanto tento dialogar com eles (mas faço isso, sem piedade, nos post publicados aqui). Já fui fundamentalista, talvez por isso carregue sempre comigo certa esperança de mudá-los. Mas ando perdendo a paciência.

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