quinta-feira, 14 de março de 2013

OS MITOS AINDA PULSAM


El, supremo deus do panteão cananeu, tornou-se um deus fraco, idoso, sem vitalidade. Baal (que não é nome próprio, mas título), associado com as tempestades e, portanto, à fertilidade do solo, ganhou popularidade entre os cananeus (e entre alguns israelitas). Numa das mãos ele carrega um raio. Na outra, uma clava.

Num grande complexo de épicos ugaríticos (de Ugarir, na Síria) do século XV a.C., Baal derrota as forças caóticas de Yam, deus do mar (numa outra versão Baal derrota Lotan, um dragão de sete cabeças que se tornou Leviatan entre os hebreus) mas depois é derrotado por Mot, deus da morte. Surpreendentemente Baal ressurge do mundo dos mortos com a ajuda de Anath, sua esposa-irmã. 

Mitos que narram a derrota de forças caóticas por algum deus já se faziam presentes na Mesopotâmia. Tiamat (águas salgadas, representando as forças caóticas) é derrotado por Marduk no Enuma Elish. Num outro texto mesopotâmico extremamente antigo Innana ressurge do mundo subterrâneo após ser socorrida por Enlil e Enki. Desordem e morte, elementos que atormentam o ser humano desde os primórdios. Tais mitos se originaram em sociedades agrárias, assoladas por inundações, secas, pragas, infertilidade do solo, etc. 

Hoje vivemos em cidades. Muitos sequer têm a oportunidade de sentir o cheiro molhado da terra. Algumas crianças dificilmente tocarão num pé de alface, ou de agrião ou de cebolinha fincados no solo. Mundo digital, midiático e virtual.

Século XXI e a força dos antigos mitos ainda pulsa sem cessar. Até quando?


Jones F. Mendonça

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