Lamentação sobre o Cristo morto (Sando Botticelli) |
Livro do profeta Jonas, capítulo 3, verso 10:
“Viu Deus o que fizeram [os ninivitas], como se converteram do seu mau caminho, e Deus se arrependeu do mal que tinha dito lhes faria, e não o fez”.
Jonas ficou irado, afinal, como assim Deus se arrependeu? O que falou tá falado!
A
palavra hebraica traduzida por “se arrependeu” = naham = suspirar, lamentar, consolar,
etc.
Esse
“suspiro” ou “lamento” pode ter diversos significados, dependendo do contexto.
Alguém
vê uma criança chorando a morte da mãe. Então um suspiro forte (naham) agita
seu espírito. Naham aqui é “compaixão”. Tal pessoa teve compaixão da criança
que se dissolvia em lágrimas.
Certa mulher sofre subitamente um aborto espontâneo.
Ela chora. Seu marido se aproxima, lhe dá um abraço apertado e suspira profundamente
(naham) enquanto acaricia seus cabelos. Naham aqui é consolo. Tal marido
consolou sua esposa aflita por tão grande infortúnio.
Um pai diz que punirá seu filho caso ele
não seja aprovado num concurso. O filho fracassa e com a mente perturbada acaba
sofrendo um acidente fatal. O pai, no velório, suspira (naham) amargurado sobre
o esquife. Naham aqui é arrependimento.
Como se vê, um suspiro forte pode
significar muitas coisas.
Os israelitas depositavam sua fé num Deus
cheio de contradições. Ele estava próximo, mas estava longe. Ele não mudava,
mas mudava. Ele não era homem para se arrepender, mas se arrependia. Aparentemente
não viam problema nisso. Até que vieram os judeus helenizados e “higienizaram” as
escrituras hebraicas, removendo todas as suas contradições (a LXX é um
testemunho vivo dessa tarefa hercúlea).
Um Deus destituído de emoções. Ficou um
livro chato...
Jones F. Mendonça
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