Após a morte do davidida Zorobabel (neto de Jeconias, tido como o “anel de selar” em Ag 2.23) a figura do sacerdote foi ganhando cada vez mais proeminência. Sua não coroação e a conseqüente não concretização do tempo escatológico parece ter impulsionado um retoque no texto original de Zc 6,9-14, que substitui o descendente de Davi por Josué, o sacerdote. Nesse ambiente de expectativa escatológica frustrada surgiu a crença em dois messias. O primeiro viria de uma linhagem sacerdotal (messias de Aarão). O segundo seria um descendente de Davi (messias davídico).
Numa refeição comum mencionada em 1QSa 2,11-22
fica evidente a esperança de dois messias. Aliás, o texto deixa claro que o
sacerdote desempenha um papel superior ao do messias davídico:
E [quando eles] estiverem juntos [à mes]a [ou para beber o vinho no]vo e (quando) a mesa estiver preparada e [o] vinho novo for [misturado] para beber, [nin]guém deverá [estender] a mão para as primícias do pão e [o vinho novo] antes do sacerdote; pois [ele é quem vai ab]ençoar as primícias do pão e o vinho nov[o e estenderá] a mão para o pão primeiro. Depois di[sso], o Messias de Israel [estender]á a mão para o pão (FITZMYER, 1997, p. 89).
Algumas diferenças entre o TM (texto massorético
– séc. X d.C.) e os MMM (Manuscritos do Mar Morto – séc. I a.C.) parecem sugerir
que o profeta Malaquias (Ml 3,1-2) também alimentava a expectativa por dois
messias: o adonai e o mensageiro. Compare:
Há quem pense (Cf. TABOR, 2006, p. 165) que essa
esperança, mantida viva pela comunidade de Qumran, teria sido lançada sobre a
figura de João Batista (apresentado
como sacerdote da tribo de Levi) e Jesus
(tido como descendente de Davi da tribo de Judá). A separação entre as duas
figuras (João – “movimento judaico” x Jesus – “movimento cristão”) teria sido
feita mais tarde pela comunidade cristã.
Ao que aparece a tradição de um messias
sacerdote deixou marcas bem visíveis no livro de Hebreus, que declara que Jesus
é sacerdote da linhagem de Melquisedeque, ou seja, é sacerdote por unção divina
direta e não por linhagem, da mesma forma que o rei-sacerdote jebuseu. Diz-nos
ainda o autor de Hebreus: “sem derramamento de sangue não há remissão” (Hb
9,22). Jesus é visto como o cordeiro que entrega sua vida num sacrifício
substitutivo. Mas a ideia de que Jesus tinha que morrer traz muitos problemas.
Anselmo de Cantuária que o diga.
Nas teologias sistemáticas o tema escatologia é
apresentado como se houvesse coesão entre os diversos textos. Surgem, por
exemplo, “modelos escatológicos”, como o amilenismo, pré-milenismo e
pós-milenismo. Em minha opinião faz mais sentido pensar que a esperança
messiânica foi sendo moldada de acordo com o contexto no qual estava inserida a
população israelita. Então o que sobra? Só a esperança. Nada mais.
Jones F. Mendonça
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