quarta-feira, 12 de maio de 2010

CALVINO, MIGUEL DE SERVET E A INQUISIÇÃO PROTESTANTE.

Para quem não conhece, Miguel de Servet foi um humanista espanhol que caiu na “esquerda” de Calvino por causa de algumas polêmicas posições teológicas que sustentava publicamente. Servet era médico, teólogo, e filósofo. Por causa de suas declarações teve que amargar um julgamento conduzido por Calvino, que fez acusação em 38 artigos sustentados por citações escritas por Servet.

Uma das
acusações mais curiosas foi a de que ele havia aceitado a descrição que Estrabão fizera da Judéia, descrevendo-a como uma região árida. Para Calvino isso era uma blasfêmia, já que a Bíblia apresenta essa região como sendo uma terra que mana leite e mel[1]. Pobre Servet.

O julgamento durou cerca de dois meses. Por negar a Trindade e o batismo infantil foi condenado à morte, sendo queimado vivo em 27 de outubro de 1553, mesmo após ter pedido clemência.

Calvino defendeu a sentença dada a Servet dizendo isto:
“Todo aquele que sustentar ser injustiça punir os hereges e blasfemadores torna-se cúmplice do crime deles... Não é questão aqui de autoridade do homem; é Deus quem fala”[2].
Esse artifício é utilizado ainda hoje por alguns “religiosos” que lançam a responsabilidade de seus atos sobre Deus ou o diabo.

É... o mundo não mudou muito!

Nota:
[1] DURANT, Will. A Reforma, 2002, p. 403.
[2] Id. ibid, p. 405.

Imagem:
Capa do livro: Miguel de Servet: vida, muerte y obra.
Edição de Ángel Alcalá  

4 comentários:

  1. Complicado acusar Calvino na morte de Serveto, Calvino era apenas o pastor de Genebra, mas não tinha voto algum no conselho, e portanto, não foi decisão dele a morte do herege. Mas vale salientar que na época estas eram as leis, e como todos nós somos filhos de nossa época, admitir a morte por heresia era extremamente comum.

    Ronaldo Barboza.

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  2. Eu não disse que Calvino foi o responsável pela morte de Servet. O que eu disse é que Servet foi perseguido pelo reformador francês, e que concordou com sua sentença. Isso é um fato.

    Quando Calvino recebeu um exemplar do Christianismi restitutio, escrito por Servet, escreveu a Farel:

    "Servet acaba de enviar-me um grande volume de suas loucuras. Se eu consentir, ele virá aqui, mas não quero dar minha palavra, pois se vier, e eu tiver autoridade, não tolerarei que saia vivo"[1];

    Reconheço o valor de Calvino. Sua capacidade intelectual é indiscutível (conheço as Institutas). O que quis mostrar no texto é que a intolerância religiosa persistiu mesmo após a Reforma. Lutero também teve seus excessos. O famoso caso das bruxas de Salém é outro exemplo.

    Calvino, Lutero, os puritanos de Salém... Não quero acusar nenhum segmento religioso ou pessoa. Mas que fique a mensagem: quando a doutrina é posta acima do amor, o cristianismo morre. E é lamentável que isso se repita ainda hoje.

    [1] DURANT, Will. A Reforma, 2002, p. 402.

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  3. Há um outro caso marcante de "inquisição" protestante: foi em Zurique, em 1527. Lá, com a permissão de Zwínglio, outro grande reformador, foi afogado seu discípulo, Félix Manz. Ver A "inquisição" protestante, em www.igrejabatistadoverbo.blogspot.com

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  4. Não é a primeira vez que vejo alguém tentar livrar a culpa de Calvino. Se ele não tomou conhecimento algum talvez não tenha culpa mesmo. Mas se tomou, e sabemos que sim, deveria ter posto em prática o ensinamento de Cristo que diz: "Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam". Se a lei da época dizia diferente ele deveria levantar a voz contra a lei da época e não dar vazão ao lado mal da natureza humana.

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