terça-feira, 14 de julho de 2009

O QUE SÃO O CODEX SINAITICUS E O CODEX VATICANUS?

Por Jones Mendonça

O Codex Sinaiticus (Códice Sinaítico), também conhecido como Manuscrito “Aleph”, foi encontrado em 1859 por um jovem catedrático da universidade de Leipzig chamado Constantin von Tischendorf. Numa viagem ao Oriente Médio em busca de manuscritos bíblicos ele acabou encontrando no Mosteiro de Santa Catarina, no monte Sinai (Egito), alguns manuscritos antigos identificados como traduções do Antigo Testamento grego (Septuaginta). O codex (espécie de livro costurado à mão) estava escrito em caracteres unciais (letras maiúsculas) e continha a maior parte do Antigo Testamento e o Novo Testamento completo.

Também foram encontrados dois documentos cristãos: a Epístola de Barnabé (antes só existia uma precária tradução em latim) e uma parte do Pastor de Hermas (até então só conhecida pelo título). O manuscrito encontra-se no Museu Britânico de Londres desde 1933. O Codex Sinaiticos data do século IV d.C. e demonstrou ser um dos melhores textos do Novo Testamento.

Um outro manuscrito não menos valioso é o Codex Vaticanus (códice Vaticano). Ele tem esse nome porque foi conservado na biblioteca do Vaticano longe dos olhos dos estudiosos até o ano de 1889, quando finalmente foi publicado um fac-símile de todo o manuscrito. O Codex Vaticanus surgiu pela primeira vez nos catálogos da biblioteca do Vaticano em 1475, permanecendo longe do conhecimento público por cerca de 200 anos. Como o Codex Sinaiticus, o Vaticanus foi produzido no século IV. Alguns eruditos acham que tanto o Codex Vaticanus quanto o Sinaiticus formavam parte das cinqüenta cópias que o imperador Constantino mandou fazer depois de sua conversão ao cristianismo. O Codex Vaticanus contêm o Velho Testamento em grego (com omissões), e o Novo Testamento incompleto [1].

O Sinaiticus e o Vaticanus são apenas dois de cerca de três mil manuscritos até agora conhecidos e catalogados. Apesar da ótima qualidade dos textos não é possível dizer que ambos são cópias fiéis dos textos originais, já que é possível encontrar algumas divergências entre eles.

Dá-se o nome de Crítica textual o estudo nas numerosas variantes verificadas nos manuscritos disponíveis. Alguns cristãos conservadores buscam em vão definir uma versão que possa ser considerada cópia fiel do texto originalmente produzido pelos escritores bíblicos. Tal modo de pensar tem feito com que muitos recusem versões modernas obtidas a partir das pesquisas desenvolvidas pela crítica textual[2]. Isso ocorreu, por exemplo, em relação à publicação da famosa Nova Versão Internacional (NVI), que retirou algumas passagens que vinham sendo publicadas por séculos, apesar da dúvida em relação à sua autenticidade. O problema surgiu porque o primeiro Novo Testamento grego traduzido por Erasmo, em 1516, continha textos que mais tarde foram considerados inautênticos, como, por exemplo 1Jo 5. 7,8. Acontece que Erasmo não possuia o Codex Sinaiticus e nem o Codex Vaticanus. Ele se baseou principalmente em mansucritos do século XII, que agora reconhecemos como bastante inferiores. Erasmo inicialmente se negou a publicar as passagens que não eram encontradas nos manuscritos gregos, mas diante das duras críticas que recebeu, acabou inserindo tais textos na sua publicação. Tais textos eram encontrados apenas em algumas versões latinas disponíveis na época, sendo provavelmente inserções feitas por copistas [3]. Além do texto de João citado acima, outras passagens foram eliminadas por versões modernas, já que não são apoiadas por nenhum testemunho em grego que seja conhecido. A retirada dos textos provocou o protesto de muitos cristãos, mas não há nenhuma razão para alarde, já que a ausência dos referidos textos não implica em nenhuma mudança em relação às doutrinas fundamentais da fé cristã.

Notas:

[1] Faltam quatro capítulos de Hebreus (encerra-se em 9.14), as epístolas Pastorais (dirigidas à Timóteo e a Tito), a carta à Filemon e o Apocalipse.

[2] Joseph Angus faz um comentário sobre a defesa do texto tradicional (chamado de Textus Receptus): “As pretenções superiores do ‘Texto Tradicional’, ou noutras palavras, do Textus Receptus, purificado de algumas pequenas máculas, foram vigorosamente sustentadas pelo erudito Deão de Chichester, Dr J. B. Burgon, e pelo seu partidário e sobrevivente, o Prebendário Mill”. Ainda segundo Angus, o argumento principal utilizado pelos defensores do Textus Receptus foi o de que “o Divino Fundador da Igreja não teria permitido que por tantas gerações fôsse (sic) aceita uma Escritura corrompida”.

[3] A Bíblia de Jerusalém traz o seguinte comentário a respeito do texto de 1Jo 5.7,8: “O texto do vv. 7-8 é acrescido na Vulg. de um inciso [...] ausente dos antigos mss gregos, das antigas versões e dos melhores mss da Vulg., o qual parece ser uma glossa marginal introduzida posteriormente no texto”.

BIBLIOGRAFIA

ANGUS, Joseph. História, doutrina e interpretação da Bíblia – vol I. Tradução de J. Santos Fiqueiredo. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1951.

BÍBLIA DE JERUSALÉM: nova edição, revista e ampliada. São Paulo. Paulus, 2003.

LADD, George E. Critica del Nuevo Testamento. Mundo Hispano, 1990.

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