sábado, 25 de dezembro de 2021

LUTERO E A TEOLOGIA LIBERAL (PARTE II)

1. O termo “teologia liberal” tem aparecido com certa frequência associado ao discurso cristão progressista de forma bastante equivocada. A teologia liberal clássica é um fenômeno de natureza bem distinta. Nascida no ambiente acadêmico alemão do século XIX, suas principais características podem ser resumidas em cinco pontos (aqui sigo Grenz e Olson). Alguns deles têm os pés fincados na Reforma. Vejamos.

2. A primeira característica – influência do iluminismo – é a tentativa de reconstruir a fé à luz do conhecimento moderno, por isso o liberalismo teológico também tem sido chamado de “modernismo teológico”. A segunda, herança dos reformadores (e do humanismo), é o espírito crítico e certa a rejeição à autoridade da tradição. Estavam decididos, como Lutero, a romper com as crenças tradicionais quando isso parecia correto e necessário.

3. A terceira é a ênfase na dimensão prática do cristianismo em detrimento das especulações teológicas a respeito da natureza de Deus. Em quarto lugar aparece uma tendência que também foi buscada por Lutero: o cânon dentro do cânon. Mas se para Lutero a essência das Escrituras é o Cristo Divino-Salvador (como enfatizado por Paulo), para os liberais é o Cristo ético, completamente despido de sua dimensão sobrenatural.

4. A última característica da teologia liberal é o deslocamento da transcendência para a imanência, outra influência marcante do iluminismo. A “filosofia moral” de Kant, a “filosofia intelectual” de Hegel e a “filosofia intuitiva” de Schleiermacher formaram o tripé, no século XIX, sobre o qual a teologia liberal nasceu. No início do século XX, teólogos como Barth, Brunner e Bultmann propuseram, cada qual a seu modo, um retorno à transcendência.


Jones F. Mendonça

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