1. Um exemplo muito didático de como o tradutor precisa ajustar o sentido de uma palavra tomada do idioma original para que o leitor entenda o que está sendo dito, é o verbo hebraico qaratz (apertar → קרץ). Dou três exemplos. 1) Ser “apertado” do barro converteu-se, em nossas versões, em ser “formado do barro” (Jó 33,6); 2) “apertar os olhos” foi traduzido como “piscar os olhos” (Sl 35,19); 3) “apertar os lábios” como “morder os lábios” (Pv 16,30). Explico.
2. O hebraico é um idioma muito concreto e bem pobre em diversidade de palavras. Assim, o texto hebraico não fala em “ser formado”, mas em “ser apertado” do barro (apertado > moldado > formado). Considerando que carece de uma palavra equivalente ao nosso “piscar” (unir as pálpebras), o hebraico usa “apertar” os olhos. Do mesmo modo acontece com os lábios. Nós preferimos usar a expressão “morder” os lábios, mas entre os hebreus era simplesmente “apertar” os lábios.
3. Trocando em miúdos: um mesmo verbo hebraico, “qaratz” (apertar), é simultaneamente traduzido por “formar”, “piscar” e “morder”. Que coisa não?
Jones F. Mendonça
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