Lutero em seu leito de morte, de Lucas Cranach - 1546 |
Ainda que a Reforma tenha ocorrido do século XVI é preciso ter em mente o cenário que começava a se formar no século XII: decadência do sistema feudal, nascimento da burguesia, medo do inferno por parte dos fiéis que começavam a duvidar da eficácia dos sacramentos em face da decadência moral do clero, soteriologia confusa, surgimento das ordens mendicantes (fiéis à Igreja) e disseminação de grupos dissidentes, como cátaros e valdenses (hostis ao papado). Como resposta a esse último grupo surgiram as Cruzadas e a Santa Inquisição. A unidade da Igreja estava ameaçada e a resposta foi rápida e violenta.
Nos
séculos seguintes novos ingredientes foram dando corpo à Reforma: O
Renascimento italiano, o humanismo, a pregação de reformistas como John Wycliff
(Inglaterra) e Jan Hus (Boêmia), a queda do Império Bizantino (antigos
manuscritos gregos chegavam à Europa vindos de Bizâncio), as Grandes Navegações
(intensificação do comércio marítimo e enriquecimento da classe burguesa), a
invenção da imprensa por Gutemberg, a forte rejeição que os burgueses tinham
pela intromissão da Igreja em seus negócios e o desejo dos nobres em expandir
suas terras (apropriando-se das terras da Igreja).
No
dia 31 de outubro de 1517 Lutero publicou 95 Teses contra as indulgências
(indulgência = substituição da penitência pública por um pagamento em
dinheiro). Os príncipes alemães viram o documento como uma excelente
oportunidade para romper com o Papa (daí a proteção que Lutero recebeu de
Frederico da Saxônia). A nova classe social que florescia, a burguesia, queria
liberdade para enriquecer sem as barreiras morais impostas pela Igreja. Fiéis
piedosos buscavam uma espiritualidade que estivesse mais de acordo com a que
eles enxergavam nas linhas do Novo Testamento. A Reforma explodiu e abalou a
Europa. O antigo Sacro Império Romano Germânico foi dividido em Estados
protestantes e católicos. Sem uma
liderança única a nova igreja foi se fragmentando cada vez mais: luteranos,
calvinistas, anabatistas, anglicanos...
Hoje
muitos protestantes querem apresentar a Reforma apenas como um movimento
religioso que colocou o cristianismo nos antigos trilhos. Católicos insistem em destacar os defeitos de
Lutero e os efeitos negativos desencadeados pela Reforma. Historiadores
acentuam aspectos políticos, como o apoio dos príncipes, sem o qual a Reforma
não teria êxito. A Reforma é produto de
diversos fatores. É um erro reduzi-la a mero fenômeno político. Tentar compreender o movimento apenas pelo viés religioso é também um equívoco.
Há
boas razões para comemorar a Reforma. Mas é lamentável perceber que antigo lema
protestante: “Ecclesia reformata semper reformanda est” converteu-se apenas numa frase latina elegante sem qualquer substância.
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