Entre os antigos hebreus, as entranhas, as vísceras, os intestinos, eram percebidos como sede das emoções fortes. Um exemplo: o juízo dirigido a Moab, em Isaías 16,11, parece produzir em Javé uma profunda e paradoxal tristeza: “minhas entranhas (מעה) vibram (המה) por Moab como uma cítara”. Do mesmo modo se sente Jeremias: “minhas entranhas, minhas entranhas... meu coração vibra...” (4,19). Aqui o profeta chora pela destruição de Judá.
Mas nem sempre a imagem das entranhas vibrando/zunindo/gemendo indicam tristeza, dor ou agonia. Em Cantares 5,4, já despida, a amada espera seu amado no quarto. Quando ele chega, com os cabelos cheios de orvalho, deslizando seus dedos úmidos pela abertura (da porta?), as entranhas dela “vibram por ele”. Não vibram de tristeza, vibram de paixão, de fogo, de desejo. Mas o moço desaparece antes que ela lhe abra a porta. Ficou ali, com os dedos gotejando mirra.
Jones F. Mendonça
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