1. Por volta de 705 a.C., com Samaria já conquistada pelos assírios, Judá vive sob enorme pressão. Em Jerusalém Ezequias ensaia a segunda tentativa de se livrar da humilhante relação de vassalagem ao qual seu reino foi submetido no tempo de seu pai, Acaz. O capítulo 7 do profeta Isaías mostra um Acaz pouco confiante na proteção de Javé, deus nacional. Isaías diz: “pede um sinal”. Acaz responde: “não pedirei” (Is 7,11-12). Voltemos a Ezequias.
2. Não havia soluções fáceis para o rei. Os tributos cobrados pela Assíria eram pesados. O povo amargava com altos impostos. Rebelar-se, por outro lado, era coisa bastante arriscada. Uma das soluções mais viáveis era buscar apoio no Egito, grande potência do norte da África. É nesse contexto que o profeta Isaías – contrariado – anda nu descalço, anunciando teatralmente o futuro de seus aliados egípcios: serão levados ao cativeiro assim, peladões (Is 20,4).
3. Quando Senaqueribe, rei da Assíria, percebeu a rebeldia de Judá, tratou imediatamente de acionar sua poderosa máquina de guerra. O Prisma de Senaqueribe registra os resultados de sua mão pesada: “Sitiei 46 das suas cidades fortificadas [...]. Eu o prendi em Jerusalém, a sua residência real, como um pássaro em uma gaiola”. Isaías diz algo parecido: “Só restou a cidade de Sião como tenda numa vinha, como abrigo numa plantação de melões, como uma cidade sitiada” (Is 1,8).
4. Os grandes impérios agiam como as milícias do Rio de Janeiro: se você não paga, eles queimam sua Kombi. Ezequias, que não era bobo, certamente não ia querer sua “Kombi” queimada. Então se retrata “Cometi um erro! Retira-te de mim e aceitarei as condições que me impuseres” (2Rs 18,14). A assíria, é claro, não deixou barato. O texto de Reis diz que Ezequias pagou 300 talentos de prata e trinta talentos de ouro. Para pagar a vultosa despesa o rei teve que retirar ouro do templo e de seu palácio.
5. De Laquis, cidade vizinha de Jerusalém, o rei da Assíria mandou o recado: "Confias no apoio do Egito, esse caniço quebrado..." (2Rs 18,21). O povo, condenado a "beber da própria urina e comer do próprio excremento" durante o cerco (v. 27), ainda teve que ouvir insultos em seu próprio idioma: "Dentre todos os deuses das nações, quais os que livraram sua terra da minha mão?" (V. 35).
Jones F. Mendonça
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