sexta-feira, 3 de abril de 2020

UM GALILEU NO MERCADO, UM PROFETA NO RESTAURANTE

Em “As várias faces de Jesus” (Record, 2006, p. 326), Geza Vermes reproduz um típico deboche dirigido ao sotaque do povo do norte de Israel. Ele narra um galileu tentando fazer compras num mercado em Jerusalém. Como tinha dificuldade com as guturais, consoantes pronunciadas na garganta, logo se torna alvo de chacotas:
Ô galileu, tolo, o que tu precisas é de uma coisa para montar (hamâr, um burro), de algo para beber (hamar, vinho), algo para cozer ('amar, lã), ou algo para um sacrifício no Templo (immar, cordeiro)?
O preconceito dirigido aos galileus também é revelado na fala de Natanael: “de Nazaré pode sair algo de bom?” (Jo 1,46). Quando ao sotaque dos nortistas, podemos percebê-lo na fala do sumo sacerdote dirigida a Pedro: “de fato, também tu és um deles; pois o teu dialeto te denuncia” (Mt 26,73; Mc 14,70; Lc 22,59).

Bem, se um galileu do primeiro século tinha dificuldade em se comunicar em aramaico com vendedores de um mercado em Jerusalém (por diferenças consonantais), imagina a dificuldade que Isaías não encontraria para se comunicar em hebraico com um garçom da Jerusalém moderna (diferenças consonantais, vocálicas e novas palavras no vocabulário). As barreiras seriam muito, mas muito, maiores.

Mas em texto publicado no site “prazer da palavra” (A importância do hebraico bíblico), Luiz Sayão diz que “Se Isaías ressuscitasse hoje teria condições de comunicar-se e de pedir um almoço em um restaurante de Jerusalém”. Eu duvido. Duvido muito. Quem estiver interessado ler um artigo sobre a pronúncia do hebraico bíblico, sugiro este artigo, publicado no TheTorah



Jones F. Mendonça

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