sexta-feira, 10 de abril de 2020

NOTAS SOBRE DEUTERONÔMIO 26

Dt 26,12-15 trata do dízimo trienal. O texto determina que o ofertante declare diante de Javé que não contaminou o dízimo a ser entregue ao levita, ao estrangeiro, ao órfão e à viúva.  O verso 14 explica em que situações esse dízimo poderia ser contaminado. São duas as situações: 1) comer parte desse dízimo durante o luto; 2) oferecer parte desse dízimo por um morto.  

Em relação ao ponto 1, Tigay [1] propõe duas possibilidades:
  • Um enlutado fica impuro por estar na mesma tenda que um cadáver por manuseá-lo durante o enterro ou pelo contato com outras pessoas que se tornaram impuras de uma dessas maneiras. Em tais condições qualquer alimento que ele tocasse se tornaria impuro.
  • Um enlutado fica impuro ao usar parte do dízimo em uma refeição fúnebre.
Ele explica que tais recomendações são uma reminiscência de uma prática encontrada nas “Instruções aos Oficiais do Templo” hititas. Em relação ao ponto 2:
  • Os antigos acreditavam que os vivos podem ajudar os espíritos dos mortos no Sheol, fornecendo-lhes comida e bebida. Essa prática foi difundida no mundo antigo e também é atestada entre alguns judeus nos períodos do Segundo Templo e depois, como em Tobias 4,17: “Derrame seu pão e vinho na tumba dos justos e não dê para os pecadores”. Em algumas sepulturas escavadas em Samaria, capital do Reino do Norte, foram encontrados buracos no chão, semelhantes aos encontrados nas tumbas de Ugarit, que serviam de receptáculo para alimentos e bebidas oferecidas aos mortos. A Torá não proíbe essa prática, mas, como o contato com os mortos é profanado ritualmente, proíbe o uso do dízimo por ela.
Um artigo publicado no The Bible and Interpretation (Afterlife and Resurrection Beliefs in the Second Temple Period), citando Joseph S. Park [2], afirma que essa noção é apoiada ainda pelas antigas inscrições das tumbas judaicas.

Notas:
[1] TIGAY, Jeffrey H. The JPS Torah Commentary: Deuteronomy. Fhiladelphia, Jerusalem: Jewish Publication Society of America, 2003, p. 242-244.

[2] Joseph S. Park, Conceptions of Afterlife in Jewish Inscriptions: With Special Reference to Pauline Literature, Wissenschaftliche Untersuchungen zum Neuen Testament (Tübingen: Mohr-Siebeck, 2000), 2:121.



Jones F. Mendonça

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