sexta-feira, 11 de outubro de 2019

DA DILUIÇÃO DAS COISAS

Perguntam-me sobre a origem, sobre as razões históricas ou filosóficas que desencadearam o processo de diluição das coisas. Bem, a percepção do homem como um projeto em construção (e desconstrução) e não como tendo uma essência determinada remonta a filósofos do século XX, tais como Jean Paul Sartre (diluição da identidade).

A negação de um fundamento absoluto da moral pode ser encontrada em Nietzsche, filósofo do século XIX: “não existem fenômenos morais, mas interpretações morais dos fenômenos” (diluição da moral). Aliás, a frase nietzschiana “Deus está morto” diz respeito à negação de fundamentos metafísicos para a moral e não da existência de Deus.

No século XVII, sob a influência de John Locke, o liberalismo inglês rejeitou o direito divino dos reis e lançou as sementes para o nascimento da democracia e dos direitos humanos (diluição da autoridade política). Atualmente há gente tonta o suficiente para rejeitar essas duas conquistas...

No século XVI Lutero lançou sal no caramujo das verdades absolutas do dogma ao negar que o Papa tenha as chaves da igreja e da interpretação das Escrituras (diluição da autoridade religiosa). E você encontra protestantes ingênuos reclamando da diluição da fé. Não se dão conta de que o remédio para isso é a teocracia e a Inquisição.

A diluição e fragmentação da identidade, dos costumes, da religião, da moral não é um projeto elaborado por um grupo de pessoas. São os efeitos colaterais (negativos ou positivos) da busca pela autonomia e pela liberdade.


Jones F. Mendonça

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