sexta-feira, 11 de outubro de 2019

A REFORMA PROTESTANTE E AS JAULAS MEDIEVAIS

Até o século XV os cristãos da Europa formavam praticamente um único rebanho: eram católicos apostólicos romanos. Reuniam-se ao som do mesmo sino, da mesma doutrina, do mesmo Papa, dos mesmos sacramentos, da mesma liturgia, dos mesmos preceitos morais. As igrejas ocupavam o centro geográfico e o centro da existência humana. Era um mundo seguro, ordenado, estável. Mas não era um mundo livre.

Quando Lutero questionou a autoridade do Papa como legítimo intérprete das Escrituras, esse mundo se dissolveu como caramujo em pedra de sal. A verdade, antes guardada no estojo dourado das coisas imutáveis, saltou para os celeiros das leituras individuais. Cada qual passou a ler o texto a seu jeito. Uma crise de autoridade se instalou. Não demorou e o povo também começou a questionar o direito divino dos reis. Entramos na era das revoluções.

Sob uma perspectiva existencial, não era mais um mundo seguro, ordenado, estável. O universo das verdades religiosas, ideológicas e morais foi se tornando cada vez mais fluido. Formaram-se muitos rebanhos, infinitas crenças, identidades cada vez mais fragmentadas. As ideologias se espalhavam como fumaça em dia de ventania. Um mundo – é verdade – em certa medida angustiante, doloroso.

Há quem tente superar essa inquietação erguendo muros ao redor de sua própria vida. É uma solução legítima. Mas há aquela galera perigosa, rancorosa, mal resolvida, defendendo clausuras coletivas. Morrem de saudade das jaulas medievais. Não apenas para si, mas para todos os outros.



Jones F. Mendonça

3 comentários:

  1. Jones, tenho dúvidas se é correto dizer que eram, antes de Lutero, católicos apostólicos romanos. Estou errado, meu amigo? Penso que eram cristãos. A igreja era a Igreja Cristã. Depois de Lutero, que rompe não com a igreja católica, mas com a Igreja Cristã, a Igreja Cristã convoca um concílio para avaliar o dissidente e as igrejas dissidentes, e, nesse concílio, ratificam sua posição de 1,5 mil anos: a Igreja Cristã ocidental é a Igreja Cristã, católica apostólica e romana: católica, porque universal, apostólica, porque a tradição ortodoxa é a tradição apostólica, e romana, porque Roma seria a portadora da tradição apostólica.Ou seja ICAR seria a nomenclatura adequada para a Igreja Cristã após a Reforma, mas não para a Igreja Cristã anterior a ela, quando ela seria apenas Igreja Cristã. Faz sentido?

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  2. Em certo sentido sim, é verdade. Antes da Reforma ninguém precisava ostentar o título de "católico apostólico romano". Depois da Reforma, para distinguirem-se dos dissidentes protestantes, o título ganhou importância.

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