terça-feira, 25 de outubro de 2011

CRISTIANISMO E ASCETISMO

Agosto de 2007. Aula de filosofia da religião no STBC. Eu aluno do quarto período. O livro escolhido pelo professor foi “Filosofia da religião”, de Umberto Padovani, tomista até os ossos. Apesar da tendência conservadora, o livro é ótimo. Discutíamos a "necessidade da religião para a solução plena do problema da vida" (cap. I, p. 24). Na página 26 o autor dispara:
O teísmo cristão traz consigo uma concepção transcendente e ascética do mundo e da vida, na qual se enaltece a dor e a morte. É aquele pessimismo perante o mundo que decorre da visão do homem infeliz por causa do pecado e que só poderá ser superado transcendendo o mundo (PADOVANI, Umberto A. Filosofia da religião, p. 26).
Padovani não está fazendo, como alguns podem pensar, uma crítica ao cristianismo, mas uma constatação (quem fez uma profunda crítica ao caráter ascético do cristianismo foi Nietzsche). Aliás, uma constatação que ele julga legítima, mas incompreensível ao homem moderno.

Na mesma linha que Padovani seguiu Gedeon Alencar, sociólogo e presbítero da Assembleia de Deus Betesda. No seu livro “Protestantismo Tupiniquim”, ele diz que o pentecostalismo é um “prática religiosa que nunca quis mudar o mundo, mas sair dele” (ALENCAR, Gedeon. Protestantismo tupiniquim, p 57). Rubem Alves, no clássico “Protestantismo e repressão” (o livro teve o nome mudado para “Religião e repressão”), diz mais ou menos o mesmo, quando afirma que na concepção protestante (referindo-se ao chamado protestantismo de reta doutrina):
crer em Cristo é definir-se como peregrino aos céus, que passa pelo espaço e pelo tempo sem amá-los, caminhando sempre a jornada que só termina com a morte [...] A morte é a dissolução das aparências e a revelação da essência (ALVES, Rubem, Religião e repressão, p. 326). 
 Continuar cristão e não negar, mas afirmar o mundo. Será possível?


Jones F. Mendonça

5 comentários:

  1. Não, se com "cristão" você quer dizer o que se tornou, desde o início, esse abraço entre Roma e Grécia. E sim, se você reduzir o "ser cristão" àquela expressão "sapiencial" do AT - mas, nesse caso, as doutrinas, todas, viram pó, e mesmo o céu, nuvem de fumaça...

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  2. Mas não seria apenas uma questão de ênfase? Crer que de alguma maneira a vida pode continuar após a morte implicaria necessariamente numa "consciência infeliz"?

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  3. A solução do cristianismo para o problema da vida é a negação da própria vida. Esse "projeto" já abandonei há muito... Quero a vida concreta, de carbono, quero o pão, o vinho, a carne quente e macia, quero a vida.

    Robson Guerra

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  4. Cris e Robson,

    Estou de acordo que viver em função da crença numa vida supramundana não seja um bom projeto. Mas a pergunta que me inquieta é: será que as religiões que pregam a possibilidade de vida após a morte precisam necessariamente ser ascéticas?

    O ascetismo é forte no cristianismo (o homem está contaminado pelo pecado) e no budismo (o apego à matéria tem um aspecto negativo).

    Penso que uma pessoa possa crer na vida após a morte sem ser negadora da vida, desde que essa "outra vida" não seja aquela defendida por Platão: Deus como sumo bem e mundo como ideal de perfeição.

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  5. Perdoem-me o "atraso", mas NÃO o ascetismo não é a resposta e sim a humildade diante de Deus. Pois refrear-se sem libertação e muitas vezes refrear-se de coisas simples as quais nos tornam humanos que por sermos apenas humanos que buscam a iluminação, são menos temidos e mais compreendidos pelos não religiosos/espiritualistas. A busca implícita é a do equilíbrio, não hedonista, nem asceta. Mas Cristão e ainda assim humano!

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