1. A eleição do cardeal Robert Prevost como substituto do Papa Francisco despertou a curiosidade de muita gente, interessada em saber a razão que levou o religioso a adotar o título “Leão XIV”. Em discurso tornado público, Prevost expôs a razão da escolha: trata-se de uma referência ao legado de Leão XIII, Papa responsável pela elaboração da Doutrina Social da Igreja, cujo documento principal é a Encíclica Rerum Novarum, publicada em maio de 1891.
2. O documento faz críticas tanto ao liberalismo econômico, acusado de gerar desigualdade e exploração econômica, como às ideias socialistas, vistas como uma ameaça ao edifício social por instigarem o ódio nos pobres contra os ricos e por defenderem a abolição da propriedade privada. Um bom leitor perceberá com clareza que são mais abundantes e enfáticas as críticas ao socialismo que ao liberalismo econômico. Prossigamos.
3. Em muitos pontos a encíclica lembra a Carta aos Efésios (6,5-9), exigindo obediência dos servos e benevolência dos patrões: “Quanto aos ricos e aos patrões, não devem tratar o operário como escravo, mas respeitar nele a dignidade do homem... Quanto aos deserdados da fortuna, aprendam da Igreja que, segundo o juízo do próprio Deus, a pobreza não é um opróbrio e que não se deve corar por ter de ganhar o pão com o suor do seu rosto”.
4. Uma crítica mais ferrenha da Igreja ao socialismo aparece em 1937, consignada nas linhas da Encíclica Divinus Redemptoris, publicada em março de 1937. Há destaque especial ao contexto político-social experimentado pela Espanha, mergulhada em uma guerra civil entre republicanos (aliados convenientemente aos comunistas e anarquistas) e nacionalistas (apoiados pela Igreja). O documento também reserva uma crítica ao liberalismo econômico, que teria, por exemplo, investido em fábricas e abandonado as igrejas.
5. A ênfase maior da encíclica, como já foi dito, dirige-se ao socialismo. O documento expressa grande indignação da Igreja contra três tipos principais de problemas: 1) ataques dos socialistas a Igrejas e monumentos religiosos; 2) desordem social desencadeada pelas ideias socialistas; 3) defesa do ateísmo. Como sabemos, os republicanos apoiados pelos comunistas e anarquistas perderam a batalha na Espanha. O vencedor foi o general Francisco Franco, ditador que governou o país com mão de ferro por quase 40 anos.
6. Quem também celebrou a vitória de Franco foi a Igreja, que recebeu do governo uma série de privilégios legais, políticos, econômicos e fiscais (Concordata de 1953). As Encíclicas, de modo geral, querem apenas manter a ordem social estabelecida. E não é esta a tendência dominante na religião organizada, manter o status quo, a ordem social vigente, tentando legitimá-la como divina, e, portanto, como “natural”? Tanto a Rerum Novarum como a Divinus Redemptoris nascem a partir de duas preocupações fundamentais: preservar o poder da Igreja e a hierarquia social vigente.
Jones F. Mendonça
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