1. Tenho na minha estante um livreto escrito por Carl Jung – famoso discípulo de Freud – sobre o livro bíblico de Jó. Ganhei de presente de uma pessoa desconhecida (um tipo de experiência que Jung adorava). O trabalho recebeu o título de “Resposta a Jó” e foi publicado no Brasil pela Editora Vozes. Já nas primeiras páginas Jung explica que não pretende fazer uma exegese fria e pormenorizada do livro de Jó, mas expressar “uma reação subjetiva” ao conteúdo da obra.
2. Embora considere útil a leitura de “Resposta a Jó” para quem lida com a Bíblia de maneira acadêmica, acho que em alguns momentos Jung faz interpretações muito equivocadas. Expus uma crítica ao livro a um grupo de junguianos e recebi um tratamento bastante hostil. Há fanáticos em todo o canto. Bem, mas com um pouco de paciência em meio a tantas divagações, cheguei ao capítulo XIII, parte do livro que trata sobre a representação da “imagem de Deus” no Apocalipse.
3. Esta parte da obra é por demais interessante. Isso porque Jung domina muito bem o contexto religioso do período no qual foi escrito o Apocalipse e também porque é um leitor atento, perspicaz. Ele chama a atenção, por exemplo, para a releitura que o Apocalipse faz do trono divino descrito em Ezequiel, que agora aparece adornado apenas com “matérias que pertencem à natureza inorgânica”. O trono é assustador como em Ezequiel, mas muito mais estranho e frio. Por que?
4. Jung também dá destaque ao contraste tão presente no livro entre o “Cristo manso cordeiro que se deixa levar ao matadouro” e o “Cristo belicoso e iracundo”, “Filho da vingança”, “cujo furor pode agora desencadear-se livremente”. Ele recorre a conceitos como o da “sombra”, do “arquétipo” e do “numinoso” para expor ao leitor uma interpretação psicológica do autor do Apocalipse. Antecipo que não faz um julgamento bom. Fala, por exemplo, em "sentimentos negativos longamente represados, que observamos com frequência naqueles que anseiam por ser perfeitos".
Jones F. Mendonça
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