1. Jeremias, como Isaías, também acreditava que a confiança que os judaítas depositavam no Egito era inútil (veja Jr 2,18; 42,18). Diferentemente de Isaías, que anuncia sua mensagem encenando um grupo de prisioneiros egípcios sendo levados ao cativeiro caminhando descalços e com as nádegas de fora (20,2.4), Jeremias faz isso usando palavras.
2. Mas são palavras com grande força visual. Em Jr 46,20 o Egito aparece representado sob a forma de uma gazela sobre a qual "pousa" um queretz (קרץ). Veja:
O Egito era uma gazela toda bela,
mas um queretz do Norte [Babilônia] veio e pousou sobre ela [lit. “veio para dentro”].
3. De modo geral as Bíblias traduzem “queretz” por “moscardo”, “mutuca”, “tavão” ou “mosca varejeira”. É difícil saber exatamente que tipo de animal é este porque o termo “queretz” possui uma única ocorrência em toda a Bíblia hebraica. Mas uma vez que “queretz” deriva do verbo “qaratz” ( = apertar, morder), podemos supor com boa dose de certeza que indica uma picada.
4. Considerando que o bicho que “vai para dentro” da gazela (o Egito) representa o poder destruidor de Nabucodonozor, rei da Babilônia (cf. v. 26), talvez indique mesmo uma mosca capaz de causar infecções graves em um animal ou, quem sabe, uma vespa ou espécie de marimbondo. Seja “mosca”, seja “marimbondo”, a força visual da mensagem pouco se altera. Em termos modernos seria como dizer:
A Europa era uma gazela toda bela,
Mas uma “mosca” do Norte [a Rússia] veio até ela.
Jones F. Mendonça
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