quarta-feira, 17 de julho de 2019

O TEHOM NA CRIAÇÃO, NO DILÚVIO E NO ÊXODO

Em Gênesis, capítulo 1, o vento de Deus (a ruah de elohim) se agita sobre as águas do abismo (do tehom). É por meio desse vento tempestuoso que as águas são separadas das águas (Gn 1,6; 1,9), fazendo surgir a terra seca. A ordem é estabelecida pela vitória de Javé sobre o tehom, o abismo aquoso.

O canto de Moisés em Êxodo 15 celebra um episódio de mesma matriz teológica: 1) O vento de Deus (a ruah de Javé) separa as águas do Mar Vermelho; 2) A terra seca – sobre a qual o povo marchará – aparece, 3) O abismo (o tehom), aquele que foi vencido por Javé, se precipita sobre os carros de Faraó (Ex 15,5).

O domínio de Javé sobre o tehom também é visível em Gênesis 8. Após "lembrar-se" de Noé e de todos os animais da arca, as fontes do tehom são fechadas e ao cabo de cento e cinquenta dias a terra seca reaparece (Gn 8,3-4). O dilúvio conduz a terra ao caos primordial, ao estado de desordem de Gn 1,2. A causa dessa desordem: a maldade humana. Cessada a ira de Javé o tehom é vencido e a ordem é restabelecida.

Reflexos da derrota do tehom por Javé aparecem em Is 51,9-10:

“Por acaso não és tu aquele que despedaçou Raab
que trespassou o Tannyim? [monstros que personificam o tehom]
Não és tu aquele que secou o mar, 
as águas do Grande Abismo (Tehom)?”

Osvaldo Luiz Ribeiro, em seu livro “Homo Faber” (Mauad X, 2015), defende que Gn 1,1-3 não falava originalmente a respeito da criação do mundo, mas sobre “fundação de Jerusalém”. Ele também argumenta que o "vento de elohim" atua negativamente, como contracriação. Bem, mas este é um tema para outra postagem.



Jones F. Mendonça

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