Ora, se “ágape” é empregado no NT para expressar o amor mais
elevado, incondicional, como muitos insistem, como explicar o uso da palavra
neste lamento de Paulo: “Pois Demas me abandonou por amor (ágape) ao mundo
presente” (2Tm 4,10). O termo correto não deveria ser “eros”, supostamente -
como dizem - “amor egoísta, carnal”?
E se o NT, de fato, faz distinção entre “ágape” (amor
incondicional, divino) e “fileo” (amor fraternal, de amigo), como explicar o
uso de “fileo” aqui: “pois o próprio Pai vos ama (fileo, Jo 16,27). É verdade
que há preferência pelo “ágape” nas relações entre o humano e o divino no NT,
mas na prática, “ágape” e “fileo” são intercambiáveis, como no diálogo entre
Pedro e Jesus em Jo 21,15-17.
Não há ocorrência do “eros” no
NT. Mas a demonização do termo só aparece nos textos dos primeiros
padres (nas palavras de Nietzsche, o cristianismo “envenenou o eros”.). Veja o
que diz Santo Inácio, por exemplo: “O meu amor (eros) foi crucificado e não
há em mim fogo de paixão. [...] Não me atraem o alimento de corrupção e os
prazeres desta vida” (Carta aos Romanos, 7,2). Ratzinger acata em parte a crítica nietzschiana em sua
“Carta Encíclica Deus Caritas Est”.
Um exercício simples, mas muito
útil para desmascarar equívocos cristalizados pela repetição: escolha uma
palavra (grega ou hebraica) e localize todas as suas ocorrências no texto
bíblico. O contexto vai denunciar a farsa. Não confie em dicionários.
Jones F. Mendonça
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