Investigo o recurso literário da
personificação da sabedoria (hokhmah), fenômeno que aparece em Provérbios 1-9,
em Jó 28, na Sirácida 24, na Sabedoria de Salomão 7; 18, em Baruc 3 e numa
interpolação presente no capítulo 42 do livro apócrifo de Enoque etíope.
Interessa-me a origem desse recurso e sua relação com o prólogo do evangelho de
João.
Há quem sugira uma influência
egípcia (Isis, Maat), canaanita (Asherah) ou mesopotâmica (Astarte, Innana).
Mas não encontrei textos religiosos produzidos por tais povos capazes de
justificar qualquer orientação nesse sentido (você pode consultar uma coleção
deles num trabalho organizado por James Pritchard em “Ancient Near Eastern
Texts Relating to the Old Testament”).
W. Bousset indicou um caminho
diferente: o Irã. De forma mais específica, a personificação de um atributo
divino estaria presente nos Gathas, poemas atribuídos a Zaratustra (profeta
persa do século VII a.C.). Nos Gathas o “Espírito Benevolente” (Spenta Mainyu)
emana do “Senhor da Sabedoria” (Ahura Mazda) e opera em todos os aspectos da
existência. Ele age nos homens, instruindo-os.
O problema é que esses textos
foram transmitidos de forma oral por séculos, até ganharem a forma escrita
(como saber se os textos não foram contaminados com outras crenças?). Outro
problema é a tradução (foi escrito em dialeto gáthico, idioma de difícil
tradução). Ainda assim penso que seja uma boa pista.
É possível ler 17 capítulos dos
Gathas no Zaratustra.com (a tradução para o inglês é obra de
Mobou Firouz Azargoshasb). Leia sobre os Spenta Mainyu nos Gathas aqui. Sobre
possíveis conexões entre o zoroastrismo e a Bíblia Hebraica aqui e uma
introdução aos Gathas e a tradução de 17 capítulos para o inglês aqui.
Jones F. Mendonça
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