1. Em diversas versões, o Sl 17,8 é traduzido assim: “Guarda-me como a menina dos olhos”. Outras preferem “pupila dos olhos”. Bem, a expressão hebraica no texto original aparece assim: “’iyshon bat ‘ayin”, locução que, traduzida literalmente, seria: “escuridão da filha do olho”. E como parece claro que essa “escuridão da filha do olho” se refere à pupila, alguns tradutores optaram por “pupila”, o nome que damos à essa esfera escura que regula a entrada de luz.
2. Alguns léxicos (e sempre bom desconfiar deles...) dizem que “iyshon” significa “homenzinho”, dada sua semelhança à palavra hebraica “iysh” = homem (o “on” seria um diminutivo). Será? Neste caso, uma tradução bem literal seria “homenzinho da filha do olho”. O tal do “homenzinho”, segundo alguns exegetas criativos, seria uma referência ao reflexo de uma pessoa posicionada de frente para a pupila. Eita! Tá certo isso, Arnaldo?
3. A hipótese do “homenzinho” é difícil de sustentar – ainda que seja defendida em léxicos consagrados. O termo reaparece, por exemplo em Pv 7,9, texto que fala de um jovem ingênuo, prestes a ser seduzido por uma mulher: “Ele passa ao lado, perto da esquina onde ela está, e vai para a casa dela, no crepúsculo, no anoitecer do dia, na ESCURIDÃO da noite e nas trevas”. Imagina se traduzíssemos assim: “no HOMENZINHO da noite e nas trevas”.
4. Repare que o texto situa o deslocamento do “jovem ingênuo” em um caminho cada vez mais escuro: crepúsculo > anoitecer do dia > escuridão da noite > trevas. Essa gradação é proposital e tem a intenção de fazer com que o leitor visualize esse jovem mergulhando nas mais profundas trevas. "Iyshon" significa “escuridão”. Pode ser a escuridão da pupila, pode ser a escuridão da noite. Mas “homenzinho”? Não creio.
Jones F. Mendonça
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