1. Ao contrário do que muita gente pensa, o hebraico não possui uma palavra específica para indicar que alguém prestou uma reverência especial a alguma divindade, ou, como dizemos hoje, um ato de “adoração”. O hebraico “shahah” (שחה) significa apenas “prostrar-se”. Vejamos:
2. Em Js 5,14 lemos assim: “Josué lançou-se ao chão e PROSTROU-SE” (diante do chefe do exército de Yahweh). Em Gn 23,12 Abrão “SE PROSTRA” diante do povo da terra. Em Ex 20,5 lemos uma ordem para que os israelitas não “SE PROSTREM” diante de imagens de escultura.
3. Assim, “shahah” apenas indica que uma pessoa “se prostrou” em reverência diante de alguém ou de algo: um sogro (Ex 18,7), um rei (1Sm 24,8), um irmão mais velho (Gn 33,3), uma imagem (Lv 26,1), uma divindade (Ex 23,24), etc.
4. De modo geral, o verbo “adorar” é empregado pelos tradutores quando essa “prostração” é feita diante de alguma divindade. Eis um exemplo: “Então o homem se inclinou e ADOROU (shahah) ao Senhor” (Gn 24,26).
5. No Novo Testamento não é diferente. A palavra grega mais utilizada para indicar culto a determinada divindade é proskuneo (προσκυνεω). Exemplo: “Deus é espírito e aqueles que o ADORAM devem ADORÁ-LO em espírito e verdade” (Jo 4,24). Sigamos.
6. Na Parábola do rei implacável o mesmo verbo aparece, mas desta vez o tradutor verteu “proskuneo” por “prostrar”. A razão: essa prostração é feita diante de um rei, não de uma divindade. Veja: “O servo, lançando-se ao chão, PROSTROU-SE dizendo...” (Mt 18,26).
7. Resumindo: tanto o hebraico “shahah” (שחה) quanto o grego “proskuneo” (προσκυνεω) indicam a mesma coisa: prostrar-se diante de alguém que merece reverência. Se é humano: "prostrou-se"; se é divino "adorou". Nem sempre é fácil dintinguir, claro.
8. Nunca é fácil a vida do tradutor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário