1. Quem lê com atenção o texto bíblico, percebe que de fato são inúmeras as passagens que enfatizam a promessa da terra aos descendentes de Abraão, Isaac e Jacó. Embora os limites dessa terra não sejam definidos com clareza no texto, é inegável que o tema da terra está presente de alguma maneira em praticamente todos os livros do Antigo Testamento. Poderíamos dizer que a terra está para as promessas assim como as unhas estão para os dedos.
2. Acontece que as promessas da posse dessa terra são constantemente apresentadas de forma condicional. Isto é o que diz, por exemplo, Deuteronômio 28. De acordo com este texto, sempre que os descendentes de Abraão, Isaac e Jacó abandonarem os preceitos, os mandamentos e as leis de Moisés, fazendo aquilo que “é mal aos olhos do Senhor”, a terra poderá ser confiscada e entregue a povos estrangeiros (Dt 28,47-68).
3. No livro de Josué a terra prometida é perdida para os inimigos diversas vezes, sempre que o povo faz algo que é visto como "mal aos olhos do Senhor" (Jz 2,11-15; 3,7-11; 4,1-3; 10,6-9; 13,1). É também a partir do que está expresso na maldição presente no capítulo 28 do Deuteronômio que o profeta Jeremias julga correto dizer que a terra foi perdida para os babilônios devido ao pecado (2Rs 25,1-21; Jr 21,1-10).
4. Se eu fosse dessas pessoas que gostam de usar linguagem religiosa para justificar maldades feitas em nome de Deus – mas não gosto! – eu poderia argumentar, usando as Escrituras, que a terra prometida a Abraão, Isaac e Jacó, deve ser dada aos árabes. Mas como assim? Ora, porque sempre será possível argumentar que esses descendentes se afastaram dos preceitos divinos e que estão sujeitos, portanto, ao que diz Deuteronômio 28.
5. Eu considero, no entanto, que qualquer teologia que procure legitimar posse de terras, guerras, deslocamento forçado de pessoas, destruição de moradias ou assassinatos, seja a favor ou contra judeus, árabes, iranianos, russos, canadenses, japoneses, ou qualquer outro povo que exista sobre a face da terra, é algo abominável, desprezível, repugnante.
Jones F. Mendonça