1. Os idiomas nascem e se desenvolvem em relação direta com o mundo material no qual estão inseridos seus falantes. Um exemplo. A palavra hebraica gazar (גזר), cujo significado primário é “cortar”, ganha diferentes sentidos entre os hebreus, considerando que a vida geralmente era ceifada pela navalha (sacrifícios/batalhas).
2. Em 2Rs 6,4 um grupo de discípulos de Eliseu corta (gazar) madeira com a finalidade de construir uma moradia. “Cortar”, neste caso, indica exatamente isso: dividir a madeira com uma lâmina afiada. Mas o verbo “gazar” pode ganhar sentidos diferentes, dependendo do contexto.
3. Em Lm 3,54, após ser lançado em um fosso, o poeta diz: “Escorrem as águas sobre minha cabeça. Eu disse: estou cortado”. A Almeida Revista e Corrigida (ARC) traduz exatamente assim: “estou cortado”. O tradutor atento entende que ele quer dizer “estou morto”, ou, como preferimos: “estou perdido”.
4. Eis a primeira lição: nem sempre a tradução mais literal é a melhor. A segunda devo a Peter Berger: "O homem inventa um idioma e descobre que a sua fala e o seu pensamento são dominados pelas regras gramaticais que ele próprio criou" ("O Dossel sagrado", 1985, p. 22).
Jones F. Mendonça
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